Carlos Fontes

 

 

 
 

NOTAS

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Voltamos ao "Tempo da Outra Senhora"

A expressão aplica-se como uma luva ao que está a acontecer nas escolas públicas. Os professores resignaram-se à condição de meros executantes de directivas superiores. Nada mais se lhes pede, nem eles exigem mais.

Tudo isto vem a propósito do novo modelo de "eleição" dos diretores de agrupamentos de escolas e dos Conselhos Gerais.

Os candidatos a diretores, de acordo com os artigos 21º e 22º. do Dec.-Lei nº. 75/2008, de 22 de Abril, alterado pelo Dec.-Lei nº.137/2012, de 2 de Julho, devem apresentaram um "Projecto de Intervenção", onde fazem o diagnóstico do agrupamento, definem os objectivos e metas que se propõe atingir, prioridades, calendarização, etc.

Um grupo formado no "conselho geral das escolas", analisa depois os diferentes "projectos" e emite sobre cada um deles um parecer, com base nos quais este orgão elege o candidato a diretor.

Findo este processo, o referido "Projecto de Intervenção" que serviu de base para a eleição do diretor do agrupamento, e a que só um restrito grupo teve acesso, é metido num cofre ! Ninguém mais tem acesso ao conteúdo do mesmo, tudo é mantido no mais absoluto segredo.

Estamos num típico modelo de "centralismo democrático" que Estaline tanto se esforçou por impor na antiga União Soviética.

O Conselho Geral, embora tenha entre as suas funções a fiscalização da ação do director eleito com base num "projecto de intervenção", pouco mais pode fazer do que analisar a sua gestão corrente, partindo do pressuposto que o mesmo está a seguir um projecto" que ninguém conhece..

A esmagadora maioria dos professores, arredados deste processo centralista, nem sequer fazem a ideia dos objectivos que o agrupamento está a prosseguir, se é que de objectivos podemos falar.

Esta situação que noutros tempos seria considerada anti-democrática, é presentemente aceite como normal nas nossas escolas. Será que voltamos, sem disso tomarmos consciência, aos tempos da "outra senhora"?

Outubro, 2014

Carlos Fontes

 

Misérias da Classe Docente 

O ano de 2008 ficará para a história como aquele em que uma classe profissional veio em peso para a rua clamando pela sua dignidade profissional. 

Bastaram dois meses de 2009, para que uma grande maioria dos membros da mesma se mostrassem incoerentes e facilmente compráveis por promessas do Governo, sem que nada de substancial se tivesse alterado na sua luta.  

Um colega de profissão contava-me à dias o triste espectáculo da incoerência a que assistira na sua escola. 

Na primeira assembleia geral de professores aí realizada, em fins de Novembro de 2008, a quase totalidade dos mesmos estiveram presentes e por unanimidade votaram contra o Modelo de Avaliação imposto pelo Ministério da Educação. Nessa altura, um membro do Conselho Executivo da mesma, desmontou as razões porque os professores deviam também recusar a simplificação que então era proposta pelo Governo. 

Em Fevereiro 2009, foi realizada uma nova assembleia discutir as medidas a tomar face à questão da entrega dos objectivos individuais. Apenas um quarto dos professores estiveram presentes, a maioria fugiu da escola muito antes da reunião.

Durante a discussão TODOS os professores presentes concordaram que as modificações introduzidas pelo Governo não alteravam de forma substancial o modelo de avaliação. Em consciência estavam contra o modelo simplificado, mas já não estavam dispostos a lutar. 

Porquê ? Entre as razões apresentadas duas foram as mais referidas:

- Medo. Esta foi a palavra mais repetida pelos presentes, e igualmente pelos que não estiveram na reunião. Alegaram terem medo das consequências (penalização na progressão na carreira, perseguição, etc). Alguns dos que votarem contra a entrega dos Objectivos Individuais durante a reunião, pouco depois, em privado, afirmaram que o iriam fazer.  

- Satisfação. A simplificação introduzida na avaliação dos professores agradou a muitos deles, porque deixaram de ralar-se com a mesma. A maioria estava convencida que agora é tudo a fingir, podendo ser tudo cozinhado nas escolas. O elemento do Conselho Executivo que em Novembro de 2008 se mostrara contra a anunciada simplificação, afirmava agora que não era possível ir mais longe. A avaliação estava transformada numa farsa onde até os professores reconhecidamente incompetentes seriam beneficiados. 

Alguns professores alegaram também que a luta havia sido mal conduzida pelos sindicatos, outros apontaram a falta de lideres para desistirem de lutar. Neste contexto este tipo de argumentos são meras desculpas, para esconderem razões mais profundas. 

Pouco antes de se proceder à votação de uma proposta que defendia a não entrega dos objectivos individuais, um grupo fez questão de sair da sala para não se comprometer. Um grupo alargado absteve-se, e quando inquiridos sobre as razões porque o faziam nada adiantaram, encolheram os ombros incomodados e envergonhados. 

Estamos perante um tipo de comportamento muito característico da maioria dos portugueses: o medo de tomarem posições individuais, leva-os frequentemente a assumirem posições dúbias, em especial do tipo Faz de Conta. Foi com isto que o Governo contou para dividir e desmobilizar os professores, a tradicional falta de coerência e verticalidade. 

Contra isto, como diz o poeta: Há Sempre Alguém que Resiste, Há Sempre Alguém que Diz Não !

Fev. 2009

Carlos Fontes

 

      Foto: João

Marcha da Indignação. Lisboa, 8 de Março de 2008

Mais de 100.000 professores vieram para as ruas de Lisboa manifestarem-se contra as asneiras das reformas que estão a ser feitas no sistema educativo em Portugal. Os actuais dirigentes dos  Ministério da Educação revelando uma total incapacidade de auto-avaliação das suas práticas políticas, continuam a afirmar que irão persistir nos erros que os professores justamente lhes apontam. A razão acabará por imperar. Os próximos tempos serão de luta contra a insensatez e a prepotência.

Outras

As escolas portuguesas vivem um terrível paradoxo, apesar da efectiva melhoria das condições de trabalho dos professores, os resultados escolares continuam a ser mediocres. Muitas das desculpas que em tempos foram sistematicamente apresentadas para explicar o insucesso dos nossos alunos, deixaram de fazer sentido. Mais

O fim do professor-caixeiro-viajante foi durante décadas um dos combates mais importantes pela dignificação da profissão docente. O sistema educativo vivia da exploração dos professores "provisórios", obrigando-os  a uma verdadeira via sacra pelo país antes de lhes conceder a possibilidade de se puderem efectivar. Para as escolas esta realidade significava a precaridade dos seus projectos educativos. Todos os anos tudo mudava. Ainda hoje se associa a estabilização  do corpo docente como a condição necessária e suficiente para a melhoria da qualidade do ensino. Esta relação de causa-efeito é todavia mais aparente que real. Mais

Não é normal vermos um professor ser considerado "herói" pelo exercício da sua actividade docente. Muito menos quando esse professor detém o "record" de processos disciplinares instaurados por uma escola. Não pondo em causa a verdade dos factos, relatados pelo jornal Público, diremos que o que faz este professor um "herói" é o facto ser ainda um "Professor". Mais

"O que é verdadeiramente essencial na educação ?", perguntava-me um colega de profissão. O seu ar preocupado revelava que a pergunta o atormentava. Não era a primeira vez que a ouvia, mas as respostas que me têm sido dadas é que são todas diferentes. Mais

Ninguém duvida da importância da avaliação. Sem ela andaríamos às cegas na introdução de medidas de recuperação e aperfeiçoamento em todo o processo de ensino-aprendizagem. A avaliação deve ser pois extensiva a todo o sistema, e não apenas ser focalizada nos alunos. Esta é a condição imprescindível para a  melhoria da qualidade da educação. Embora sabendo tudo isto, este facto não impede a angústia do professor quando os seus alunos são avaliados. Mais

As diversas formas de poder, malgrado todas as transformações sociais, continuam a assentar na tríada Saber, Ter e Ser.  A primeira forma é todavia, a mais solitária e volátil de todas. Quando o Saber é partilhado evapora-se grande parte do poder que lhe está associado. Mais

Numa sociedade marcada pela incerteza a ciência tornou-se no último reduto onde se espera encontrar a Verdade para tudo o que inquieta ou não se encontra uma explicação imediata. Esta crença ingénua no conhecimento científico tem permitido apaziguar as consciências angustiadas. Mais

As escolas vivem um período de profundas mudanças cujas implicações são ainda difíceis de avaliar. Uma das causas destas mudanças está na crescente demissão dos pais na educação dos filhos. Face a esta situação, o poder político, resolveu atribuir às escolas as funções que antes cabiam às famílias Mais

Escola Básica 2/3 na Trafaria, concelho de Almada, Portugal. No dia 29 de Novembro do ano 2000, professores e funcionários entram em greve, para denunciarem o estado caótico que reina na escolas públicas. Mais

Carlos Fontes

 

   

 

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