"O que é verdadeiramente essencial na
educação ?", perguntava-me um colega de profissão. O seu ar preocupado
revelava que a pergunta o atormentava. Não era a primeira vez que a ouvia, mas
as respostas que me têm sido dadas é que são sempre diferentes.
1. O essencial está numa boa relação afectiva que é onde tudo começa e acaba.
Sem ela não existe educação. A finalidade suprema da educação é o
desenvolvimento de uma pessoa nas suas diferentes dimensões. Para que isto
aconteça, o professor deve assumir-se como uma pessoa autêntica e encarar o
aluno como tal. A relação pedagógica é o encontro entre duas pessoas que se
descobrem mutuamente no que têm de comum e de diferente. Tudo o mais vem por
acréscimo.
2.
O essencial está na criação de "habitus" de trabalho e
de conduta que preparem um indivíduo para desempenhar a função que a sociedade
dele espera. O trabalho de interiorização dos valores e dos princípios de cidadania são a mais nobre das missões que um professor pode ter, pois desta
forma contribui para a criação de uma sociedade formada por cidadãos de pleno
direito.
3.
O essencial da relação entre o professor e o aluno será
sempre mediado pelo saber. Se o primeiro não o possui, ou o não cultiva, é
tudo menos um professor. Se o segundo não procura o saber ou não quer
aprender, será tudo menos um aluno. A relação pedagógica funda-se nesta
posse desigual do saber. A dignidade da actividade do professor assenta nesta
partilha do seu saber com os alunos.
4 . O essencial está no exemplo do próprio
professor, na sua coerência entre o que afirma e o que faz. O que os
adolescentes procuram nos professores são estas referências. Numa sociedade
atomizada e em que as famílias estão desagregadas, os professores são para os
alunos o que resta dos velhos mestres, os antigos guias espirituais. A sua
palavra e exemplo continua a ser ainda significante.
Poderia mencionar outras
respostas, mas a verdade é que não consigo eleger nenhuma como essencial. Em
certos momentos qualquer uma me parece mais importante do que as restantes, impressão que se desvanece mudando as circunstâncias. Tenho para mim que o
essencial desta questão está na singularidade do ser-professor, pois nenhuma
profissão comporta maior incerteza, nomeadamente na definição do que tem de essencial.
Carlos Fontes