As diversas formas de poder, malgrado todas as
transformações sociais, continuam a assentar na tríada do Saber,
Ter e Ser. A primeira forma é todavia, a mais solitária e volátil de
todas. Quando o Saber é partilhado evapora-se grande parte do poder que lhe
está associado. É por isso que a maioria dos professores foram sempre, neste
aspecto, verdadeiros anarquistas.
Combateram esta forma de poder, disseminando o
próprio saber. A organização das nossas escolas estimula, pelo contrário,
uma outra atitude face ao saber. Cada professor tende a sentir-se como o
dono de um dado território. A sua segurança profissional passa a estar
associada ao controlo das fronteiras deste território e ao afastamento dos
potenciais intrusos.
Ainda há pouco tempo, contaram-me o caso de um professor
que se insurgiu contra outro, porque este, numa visita de estudo, mostrara aos
seu alunos coisas que ele estava convencido que era o único que tinha
legitimidade para o poder fazer.
Recordei-me então de um professor com
quem convivi na Universidade. Enquanto responsável pelo Departamento, exercia
um férreo controlo sobre as aquisições de livros para a biblioteca. As obras
que abordavam assuntos que desconhecia eram riscados da lista das aquisições.
Na bibliografia que fornecia aos alunos, não constavam as obras que considerava
como fundamentais. O seu raciocínio era muito simples: 0s alunos não devem
saber mais do que o professor, isto é, o poder apoiado no saber deve ser
partilhado de forma moderada e em doses controláveis pelo professor.
Talvez esteja aqui uma das causas, porque tem falhado todas as reformas
educativas que apelam para a difusão das práticas de
interdisciplinaridade nas escolas. É por isso que o debate sobre a
educação passa inevitavelmente pela questão do problema do poder.
Carlos Fontes
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