Portugal termina a sua expansão peninsular com a
conquista do Algarve (1250) e a definição das fronteiras (Tratado de Alcanizes,
1297),
que
não
tiveram
alteração
posterior,
com
exceção
da
usurpação
de
Olivença
pela Espanha em
1801.
O clero, as ordens religiosas e militares reforçam o seu enorme poder.
Introdução das ordens mendicantes - franciscanos e dominicanos (meados do
séc.XIII). Aumento da frequência de estudantes portugueses nas universidades no
estrangeiro (Paris, Montpellier, Bolonha, Salamanca). Criação em Lisboa do
Studium Generale (1290), seguindo o modelo universidade de Bolonha. A
poesia (cancioneiros), assim como a língua portuguesa, adquirem uma
expressão escrita. A corte e algumas casas nobres deixam importantes testemunhos
da elevação cultural dos seus membros.
As obras produzidas nos scriptoria dos mosteiros
continuam a ser muito significativas, mas entretanto surge uma realidade nova -
as universidades e uma vida de corte - , que impõe novas exigências no
produção de códices e funções para a iluminura.
PEREIRA, Isaías da Rosa (1973) - A "pecia" em manuscritos
universitários : estudo de três códices alcobacenses dos séculos XIII e XIV /
pelo académico correspondente Isaías da Rosa Pereira.- Lisboa : Academia
Portuguesa da História, 1973.- p. 248-278 : 19 fac-símiles; 26 cm.- Sep. Anais,
II série, vol. 22
Bíblias
A Bíblia que vai desde o Génesis até ao
Apocalipse, quer dizer, desde o começo do mundo até ao fim dos tempos (3), era
não apenas o livro fundador da religião cristã, mas também constitutivo
das sociedades cristãs. Os seus interpretes procuram evidenciar o facto de nele
se encontrar a resposta para todas as perguntas fundamentais que o homem coloca.
Nenhum cristão pode ignorar a sua existência, ainda que o acesso ao mesmo lhe
pudesse ser vedado. Dado a o seu lugar centralidade na vida dos cristãos foi
naturalmente o mais iluminado de todos os textos sagrados.
A expansão dos estudos universitários, sobretudo a partir do
século XIII, fez surgir a necessidade da produção em série de biblias, o que
implicou a especialização das diversas fases da produção dos códices, redução do seu formato e do tamanho das letras, o uso intenso de
abreviaturas e a adopção de
suportes mais adequados (velino fino). Um programa iconográfico mais definido, mas
também a fixação da ordem dos livros e a divisão dos textos para facilitar o seu
estudo. Os scriptorios de
Paris, ao colocarem em prática estes novos conceitos, tornam-se os principais fornecedores de textos biblicos para toda a
Europa.
Luis Correia de Sousa desenvolve um estudo de
pós-doutoramento sobre as bíblias existentes nas bibliotecas e arquivos
portugueses.
Sousa, Luis Correia de - Rex Musicus -
Iconografia do Salmo 80 nas bíblias francesas do séc. XIII, in, Revista de
História da Arte, nº3.
Miranda, Maria Adelaide;
Sousa, Luis - “A representação
dos Judeus
nas Bíblias Historiadas
do Século
XIII nos fundos
portugueses (em colaboração com Luís Sousa), in
Revista de
História da
Arte. Revista
do Instituto
de História
da Arte
da Faculdade
de Ciências
Sociais e Humanas
da UNL,
Lisboa, Nº7, 2009
Bíblia
(1220-1230), copiada e iluminada em Paris. Proveniente do Mosteiro de Santa
Maria de Alcobaça. BNP, Alc.455. (4)
Livros Litúrgicos
PEREIRA, Isaías da Rosa (1996) - Dos livros e dos seus nomes :
bibliotecas litúrgicas medievais / Isaías da Rosa Pereira.- Alcalá de Henares :
Universidad de Alcalá de Henares, 1996.- p. 133-161; 24 cm.- Sep. Signo :
revista de historia de la cultura escrita, nº 3, 1996
a) Missais
PEIXEIRO, Horácio – Missais iluminados dos séculos XIV-XV: contribuição para o
estudo da iluminura em Portugal., 1987
PEIXEIRO, Horácio –
O missal Alc. 26 e as representações da Virgem e de S. Bernardo”.
Sep. IX Centenário do Nascimento de S. Bernardo – Encontros de Alcobaça e
Simpósio de Lisboa. Braga, 1991, p. 195-218
TEIXEIRA, Luis - As iluminuras num Missal Alcobacense do
Século XIV, in, Bol. Assoc. Defes. Patrim. Cultural Reg. Alcobaça, I,1978.
- Missal carmelita de Toulouse (séc.XIV).BNP
Claudia Rabel - «Sous le manteau de la Vierge: le missel des
Carmes de Toulouse (vers 1390-1400)». In Le livre dans la région toulousaine et
ailleurs au Moyen Âge. Toulouse, 2010, p. 85-106
Livros de Teologia
As Sentenças de Pedro Lombardo foram até meados dos século XVI
uma das obras mais divulgadas. As bibliotecas portuguesas possuem muitos
exemplares manuscritos e impressos, algumas das quais de excepcional beleza.
-
Quatro livros das Sentenças ou Sententiarum libri IV, de Pedro Lombardo
(Alcobacense, 417). BNP
Aguarda-se a publicação do magnifico comentário de Catarina Fernandes Barreira
feito, no dia 3/10/2013, no ambito da iniciativa "Um mês, Um Códice Iluminado",
na BNP.
Sententiarum libri IV, Pedro Lombardo (séc.XIV). Alc.417, fl.1, BNP
Cartolários
- Cartolário da Sé de Coimbra (segunda
metade do séc. XIII).
Marujão, Maria do Rosário Barbosa -Um outro cartulário da Sé
de Coimbra: o Manuscrito Iluminado 98 da Biblioteca Nacional, in, Revista de
História da Sociedade e da Cultura, 10 Tomo I (2010) 73-96
Obras Literárias
a) Cancioneiro da Ajuda
PEIXEIRO, Horácio - "Cancioneiro da Ajuda", in,
MIRANDA, Adelaide- A Iluminura em Portugal: identidade e influências. Catálogo a
Exposição / 26 de Abril a 30 de Junho 1999. Lisboa: Ministério da Cultura,
Biblioteca
Nacional: 363-380
RAMOS, Maria Ana - O Cancioneiro da Ajuda. Confecção e
Escrita. Tese de Doutoramento. UL. Lisboa.2008
Lopes, Graça Videira; Ferreira, Manuel Pedro et al. (2011-),
Cantigas Medievais Galego Portuguesas [base de dados online]. Lisboa:
Instituto de Estudos Medievais, FCSH/NOVA. Disponível em:http://cantigas.fcsh.unl.pt.
Cancioneiro da Ajuda. Nobre, jogral tocando
harpa.fl.15
b) Speculum Historiale, de Vincent de Beauvais
(fins séc.XIV). BNP
Schaefer, Claude - LE MAITRE DE JOUVENEL DES
URSINS (COPPIN DELF), ILLUSTRATEUR DU SPECULUM HISTORIALE DE VINCENT DE BEAUVAIS
/ CLAUDE SCHAEFER. Paris : Fundação Calouste Gulbenkian, 1974
Livros Jurídicos iluminados
- Corpus Iuris Civilis, Imperador Justiniano.
Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra (Ms. 3155)
ANTUNES, José, A cultura erudita portuguesa nos
séculos XIII a XIV (Juristas e Teólogos), Dissertação de Doutoramento
(policopiada), Coimbra, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 1995.
Manuscritos Hebraicos
O primeiro testemunho da presença de judeus no
território que veio a constituir o reino de Portugal, data do ano 482 (1). No
período de domínio muçulmano, entre 711 e fins do século XI, existiam certamente
nas principais cidades como Coimbra, Lisboa ou Évora comunidades de judeus. Em
S. Martinho do Bispo (Coimbra) aparece, em 1156, a primeira referência a uma
sinagoga em Portugal. A partir do século XII, o número de comunas e judiarias
foi-se expandindo lentamente por todo o país, embora se forma menos expressiva
na região entre o Douro e o Minho. Depois da 2ª. metade do século XIV, devido às
perseguições em Castela, Aragão e Navarra, um grande número de judeus
refugiam-se em Portugal (2).
Embora fosse significativo o seu número em
Portugal no século XIV, só no século seguinte, a sua produção cultural se torna
verdadeiramente assinalável.
- Bíblia de Cervera
Uma das mais antigas bíblias sefarditas, pertence à colecção da
BNP. Foi iniciada a
30/7/1299
e concluída a 19/5/1300, em Cervera (Lérida,
Catalunha).O iluminador foi
Josef Asarfati.
Esta magnifica obra inclui um Tratado de gramatica, «Sefer Haniqud», de David
Qimhi (1160?-1235?).
METZGER, Thérèse - LaIllustration biblique dans la bible
hébraïque, Rev. Biblioteca Nacional, S. 2, vol. 5, n. 2, Jul.-Dez. 1990
La masora ornamentale et le décor calligraphique dans les
manuscrits hébreux espagnols au moyen âge», La Paléograpgie hébraique médiévale,
Paris, Colloques internationaux du CNRS, n.o 547, 1974
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Iluminura da Bíblia de Cervera
(1299-1300), BNP, Lisboa |
Falcoeiro e caçador. Iluminura da Bíblia de Cervera
(1299-1300), BNP, Lisboa |
Manuscritos Árabes
A criação do reino de Portugal, no processo de
reconquista, foi acompanhado por um processo de anulação sistemática dos
testemunhos da cultura árabe. Está provavelmente aqui a razão porque as nossas
bibliotecas possuem um tão reduzido número de manuscritos árabes, anda assim
pouco ou nada estudados.
SIDARUS, Adel - Manuscritos Árabes em Portugal.
Separata do Livro "Estudos Orientais, II - O Legado de Judeus e Mouros.
Instituto Oriental, Lisboa. 1991
Perspectivas globais:
MIRANDA, Maria, CEPEDA, Isabel, PEIXEIRO,
Horácio - A Produção universitária e a iluminura em Portugal nos séculos XIII a
XV, in, MIRANDA, Adelaide (ed.). – A Iluminura em Portugal. Identidade e
Influências (do séc. X ao XVI). Lisboa: Biblioteca Nacional, 1999,
PEIXEIRO, Horácio – A iluminura portuguesa nos
séculos XIV e XV. In idem,
pp. 289-331.
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Notas:
(1) Na basílica peleocristã de
Mértola foi encontrada uma lápida com epitafio latino, com representação do
cadelabro de sete braços, datada de 4 de Outubro de 482. Outras lápides
funerárias hebraicas foram encontradas em Espiche, Lagos (Algarve), datadas dos
séc. VI-VII (Museu Arqueológico do Carmo, Lisboa).
(2) TAVARES, Maria José Ferro - A
Herança Judaica em Portugal, CTT. Lisboa. 2004
(3) MARTINS, Mário - A Bíblia na
literatura medieval portuguesa. Biblioteca Breve.Lisboa.1979
(4)
Luis Correia de Sousa, numa conferência sobre
esta biblia (Medieval Europe in Motion International Conference Lisbon, 18 - 20
April 2013), começou por a inserir no quadro das chamadas biblias
parisienses, caraterizadas por letras e formatos reduzidos, fdestinadas a serem
produzidas em série, para um crescente número de universitários. Sobre este
exemplar salientou, entre outras as seguintes características específicas
"Os seus 438 fólios acolhem a totalidade dos
textos bíblicos, 73, assim como 61 prólogos. Em termos iconográficos, o programa
inclui 83 iniciais historiadas e 62 ornadas elaboradas sobre fundos de folha de
ouro, produzidas, provavelmente, no atelier do designado maître d’Almageste.
Ainda em relação ao conteúdo, além dos textos bíblicos e dos prólogos, tem
registados mais doze textos que não fazem parte do cânone bíblico, elementos que
conferem particular singularidade ao manuscrito. Encontramos estes textos
adicionais no 17.º caderno, o mesmo que contém o final do saltério e parte das
Parábolas de Salomão, não se tratando, pois, de um acrescento posterior, mas de
conteúdos previstos originalmente. Tratando-se, quase todos, de cânticos usados
na Liturgia das Horas, poderá esta bíblia considerar-se então um manuscrito
litúrgico? "
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