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Ana Luisa Ribeiro (Lisboa, 1962) - B.O. Unreleased Anatomy, 2011

 

Esta artista apresentou em 2008 os resultados da sua primeira incursão nos Livros de Horas (Books of Hours Art and Museums Library of the city of Cologne at Ludwig Museum, Cologn), projecto que prosseguiu em 2011 (Marginália ou o Epílogo, Fundação EDP, Sala do Cinzeiro, Lisboa, Portugal)(5).

 

Enquanto decorreu a exposição sobre livros de horas, na Biblioteca Nacional de Portugal (14 de Novembro de 2013 - 17 de Fevereiro de 2014, estiveram expostos os seus últimos trabalhos- Adenda-Pinturas da série Books of ours.  Escrevia-se no texto de apresentação na BNP: "A artista revisita a produção artística do século XV, propondo, através das suas telas, um olhar contemporâneo sobre o imaginário da devoção privada. Apropriando-se dos Livros de Horas medievais, a artista vai ao encontro da intimidade, que procura na sua relação com os livros, marcando novas formas de celebrar o tempo."

 

 

Expressões Contemporâneas em Portugal (sécs. XIX-XX)

 

 

O desenvolvimento da reprodução em larga escala de livros, imagens e todo o tipo de documentos não acabou com os livros ou documentos artísticos únicos, produzidos de forma artesanal.

As novas técnicas de reprodução como a litografia, fotogravura, fotogalvanoplastia permitiram separar a obra única - a matriz - concebida de forma artesanal por um artista, dos seus múltiplos (reproduções mecânicas) da mesma, frequentemente os únicos que são conhecidos e os únicos que acabam por subsistir.

A reacção contra a reprodução mecânica dos livros,  protagonizada por William Blake (1757-1827) (1),  prosseguida depois por Willian Morris (1834-1896), em torno do "livro ideal", abre um novo capitulo na história de iluminura: os livros de artistas, enquanto objectos artísticos únicos. Trata-se de um movimento a que os artistas em Portugal não foram alheios.

As questões historicamente levantadas pela iluminura medieval,  prolongam-se hoje em muitos problemas colocados pelos design gráfico (2), poesia concreta (3), Grafiti e entre outras expressões artísticas.

 

Caligrafia e Letrismo

SILVA, Joaquim José Ventura da- Regras methódicas para se aprender a escreuer... , Lisboa : [s.n., ca. 1821?]

OLIVEIRA Rosa Maria; CAETANO, João Manuel - As Letras na Ilustração dos Livros Infantis em Portugal nos séculos XIX-XX.

Revistas

Rafael Bordalo Pinheiro (1846-1905) foi foi um dos artistas mais talentosos e multifacetados do seu tempo, tendo explorado as novas técnicas de reprodução, como a litografia para através do desenho, ultrapassar as limitações expressivas da tipografia.

Lanterna Mágica, 1875

 

 

Século XX

Livro de Horas

O pintor Roque Gameiro(1864-1935), em 1900, executou um conjunto de iluminuras para um Livro de Horas em pergaminho, destinado ao Conde de São Mamede. O livro pertence atualmente ao acervo do Museu de S. Roque da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.

Literatura

Mário de Sá Carneiro, numa estadia, em 1912, na Bretanha, leu um conto escrito por  Gustave Flaubert “La Légende de Saint Julien l’Hospitalier” (1877). Ficou de tal modo impressionado com o mesmo que resolveu copiá-lo a pincel e ilustrá-lo, produzindo um “exemplar único-original”, como mais tarde escreveu. O resultado é um belíssimo "livro de artista". 

 

Amadeu de Sousa Cardoso, página ilustrada de "La Légende de Saint Julien l`Hospitalier de Flaubert" (Livro manuscrito, 1912)

 

Neopitagorismo

A "geometria sagrada " das construções medievais ou a relação entre o texto e a imagem dos seus manuscritos, inspiraram vários artistas contemporâneos, como Almada Negreiros ( -1970). Lima de Freitas (1927-1998), pintor, pensador  e estudioso do neopitagorismo de Almada foi igualmente influenciado pela geometria e os arquétipos presentes na pintura e iluminura medievais (7).

Ferreira, Ermelinda Maria Araújo - A Mensagem e a Imagem. Literatura e Pintura no Primeiro Modernismo Português, Univ. Federal de Pernambuco. 2007

Auto-Retrato de Almada Negreiros, 1948.

 

Lima de Freitas, O Graal, imagem publicada na obra Porto do Graal, Lisboa, 2006.

 

Revistas

Um dos projectos mais interessantes da produção artesanal de uma revista de artes plásticas, a partir de experiência de serigrafia foi a revista - KWY ( (doze números, entre 1958 e 1963) - criada por grupo de artistas em Paris (Lourdes Castro, René Bertholo, Costa Pinheiro, Escada, João Vieira, Gonçalo Duarte, Jan Voss e Christo) (4).

Capa da revista kwy, n.º 1, por Lourdes Castro, Maio de 1958

 

Pintura

A partir de 1959/60, o pintor e cenógrafo João Vieira (1934-2009) inicia uma das suas mais fascinantes expressões artísticas, a utilização de letras para fazer poemas pictóricos.

Uma rosa é (1968), João Vieira

Ritual (2004), João Vieira

Livros de Artista

No século XX, um livro ou um objecto com a aparência de um livro, ao ser produzido por um artista como uma peça única, passou a ser considerado, depois dos anos 60, como um género específico de arte.

"Matière", de Diogo Pimentão. Uma proposta de reflexão sobre a materialidade do livro.  Obra exposta no âmbito da exposição "Tarefas Infinitas - Quando a Arte e o Livro se imitam" (2012), na Fundação Calouste Gulbenkian.

Em Portugal, por exemplo, a Fundação Calouste Gulbenkian (Lisboa) ou Fundação de Serralves (Porto) passaram passaram a fazer colecções de "Livros de Artistas".

Graffiti

Os muros e paredes cinzentas de velhos edifícios são iluminadas por artistas anónimos, como o eram a maioria dos iluminadores dos códices medievais.

Graffiti (2013), Rua de S. Bento, Lisboa

Heráldica

ALEXANDRE, Paulo Jorge Morais  - A Heráldica do Exercito na República Portuguesa no Séc. XX. Univ. Coimbra.Tese de doutoramento. 2009.

 

 

Da Iluminura Medieval ao Ciberespaço

Um número crescente de filósofos e historiadores da cultura ocidental tem insistido no paralelo entre certas dimensões do ciberespaço (web, internet, etc) e a Idade Média.

O hipertexto foi uma prática largamente usada nos códices medievais, nomeadamente a partir do século XIII. Os códices estão repletos de comentários e notas marginais que remetem para outras obras e interpretações. Estas adições ao texto foram sendo acrescentadas, frequentemente anonimamente ao longo tempos pelos leitores. As margens dos textos são o terreno privilegiado para uma multiplicidade de discursos paralelos ao próprio texto, fundamento para o conceito moderno de marginália.

O sonho do grandes enciclopedistas medievais, como Santo Isidoro de Sevilha (Etimologias), depois retomado pelos enciclopedistas do século XVIII está mais do que nunca na ordem do dia, como um projecto colectivo à escala global.

A inteligência colectiva (anónima) cara à Idade Média, onde Deus era entendido como o único criador, parece estar de volta. Os escritores medievais não se assumiam como verdadeiros criadores, mas utilizadores de formas, pensamentos, ideias com as quais se identificavam. Nesse sentido, a cópia não era entendida como um plágio, mas como uma comunhão de ideias. A internet (www)criou um espaço global de informação, conhecimento, mas também lixo, que todos se apropriam e reinventam sem cessar, sem que ninguém possa verdadeiramente assumir-se como o autor.     

MIRANDA, Adelaide -“Hipertexto e Medievalidade” (2006), in Enciclopédia e Hipertexto,  /Lisboa, Edições Duarte Reis, pp 357-375

Sententiarum libri IV, de Pedro Lombardo. Biblioteca Nacional de Portugal. Alcobacense 417 (datado do séc.XIV). O texto e as margens estão repletas de anotações que remetem para outros textos, a génese do actual hipertexto.

 

Carlos Fontes, 2014

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Notas:

(1) Algumas reflexões em português:

LOURENÇO, Isabel Maria Graça - Lourenço, Isabel Maria Graça - The WiIliam Blake Archive: da gravura iluminada à edição electrónica. Coimbra, 2009 (Tese de doutoramento);

TAVARES, Enéias Farias Tavares - A releitura criativa da arte de Michelangelo nas iluminuras de William Blake, in, in, Revista electrónica Tematica, Ano V, n. 06 – junho/2009.

ALVES, Andrea Lima - A interação entre texto e ilustrações nos illuminated books de William Blake pelo prisma da obra America, a Prophecy. Tese de doutoramento. Universidade Estadual de Campinas . Instituto de Estudos da Linguagem.2007

STEIL, Juliana - TRADUÇÃO COMENTADA DE MILTON DE WILLIAM BLAKE, Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina.2011


(2) PAULA, Marcus Vinicius de - Sombra da iluminura: uma análise iconológica da ilegibilidade. Tese (Doutorado em Design) – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2008.

(3) GARCIA, Angelo Mazzuchelli - DoutoradoA LITERATURA COMO DESIGN GRÁFICOda poesia concreta aopoema-processo de Wlademir Dias PinoPrograma. Pós graduação. Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais.2008.

(4) CANDEIAS, Ana Filipa Osório - Revista KWY: Da abstracção lírica à nova figuração (1958-1964). Tese de mestrado. FSCH-UNL.1996

(5) Catálogo -ANA LUISA RIBEIRO : MARGINÁLIA OU O EPÍLOGO / COORD. JOÃO PINHARANDA, JOANA SIMÕES HENRIQUES ; TEXTOS ADELAIDE MIRANDA, JOÃO PINHARANDA ; TRAD. JOSÉ GABRIEL FLORES ; FOT. MIGUEL PROENÇA, TOBIAS SCHOLZ ; [ORG.] FUNDAÇÃO EDP, MUSEU DA ELECTRICIDADE. Lisboa : Fundação EDP, 2011

(6) A litografia foi inventada em 1796 por Aloysius Senefelder. Data de 1819 a primeira publicação em Portugal sobre esta técnica de reprodução. Quatro anos depois já era aplicada entre nós.

(7) FREITAS, Lima de (1965). Pintura Incómoda. Lisboa: Publicações Dom Quixote.;FREITAS, Lima de (1977). Almada e o Número. Lisboa: Editora Arcádia S.A.R.L. ;FREITAS, Lima de (1996). O Despertar dos Sapientes. In Diálogos Filosóficos e
alquímicos: conversas com portugueses notáveis. Lisboa: Pergaminho. 76 ; FREITAS, Lima de (2006). Porto do Graal. Lisboa: Esquilo Editores, Lda.

 

 

 

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Responsável e autor da rede Filorbis 

 

 

Interesses:

Filosofia, Comunicação, Cultura, Educação e Formação Profissional.

Formação Académica

Licenciado em Filosofia na Faculdade de Letras de Lisboa.

Mestre em Comunicação, Cultura e Tecnologias de Informação no ISCTE (Lisboa).

Currículo Profissional

 

Professor do Ensino Secundário em Portugal. 

Foi dirigente no Instituto de Emprego e Formação profissional (IEFP) e no Ministério da Cultura.

Dirigiu e editou diversas publicações.

 

     
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