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O povo português de Olivença, em 1801, recebeu a invasão do numero
exército espanhol com um misto de surpresa e receio. Portugal não estava
em guerra com a Espanha, porquê a invasão?
Muitos julgaram que se tratava de uma manobra
de Espanha para iludir a França, para lhe mostrar que estava disposta fazer
guerra a qualquer país europeu que enfrentassem Napoleão Bonaparte. Ao
trair o seu vizinho, com a qual tinha relações pacíficas, dava uma prova
suprema da sua fidelidade ao exterminador da Europa.
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É verdade que muitos outros desconfiavam das
intenções dos espanhóis. Não era a primeira vez que a Espanha procurava
conquistar Olivença e havia massacrado a sua população. |
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A Ferro e Fogo
Após a ocupação,
não tardou a população de Olivença a descobrir o que a esperava. Os
espanhóis vinham para ficar, instalando aqui as suas tropas que maior apego
demonstravam à causa do traidores que governavam a Espanha, e sobretudo que
não recuavam perante a empresa que se avizinhava.
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A população de Olivença estava sitiada, metida num redil, como os prisioneiros dos campos de concentração
nazis. A única ligação com Portugal, a ponte da Ajuda, fora destruída pelos
espanhóis. A língua portuguesa foi proibida, assim como a manifestação de
qualquer sinal de identidade cultural. Todos os que se opuseram foram mortos.
O povo de Olivença isolado de
Portugal sofre então uma das suas piores humilhações que qualquer ser humano
poderá sentir: a negação da sua identidade e dignidade como pessoa. Sob a
ameaça foi-lhes imposto que se tornassem espanhóis de corpo e espírito.
Gerações e gerações dos que resistiram viveram esta experiência de puro terror.
Em 1806, a população sitiada e sem
poder contar com qualquer apoio exterior revolta-se. Os espanhóis recuam, para
de seguida reforçaram militarmente a praça de Olivença com novas unidades
mais ferozes que as anteriores.
Cinco anos depois, os espanhóis
abrem as portas de fortaleza de Olivença aos franceses que a ocupam. O
objectivo é a partir daqui invadirem e tomarem Portugal. A violência dos
combates com as tropas portuguesas e inglesas ultrapassa tudo o que se possa
imaginar. Os franceses são derrotados, sendo a fortaleza de novo tomada pelos
portugueses. Bedesford que governava Portugal, trai os portugueses e entrega
Olivença aos espanhóis, tentado desta forma captá-los para o apoiarem na guerra
contra os franceses. Aos portugueses é prometido que o assunto seria mais tarde resolvido quando fosse feita a paz geral.
A população de Olivença sofre um
novo e brutal massacre, sendo aniquilada na sua maior parte. Neste cenário é
difícil imaginar que houvesse alguém que continuasse a afirmar-se português,
mas curiosamente houve-os. Mas todos os que restavam sabiam os que os
esperava.
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Terror, Pão e Touros
No princípio dos anos 20 do
século XIX, Olivença é uma terra de mortos, governada por caciques que se
haviam apossado dos bens das terras e casas dos portugueses e a sua guarnição
militar comanda pelos mais reaccionários oficiais.
Olivença não tarda a tornar-se
na principal base de apoio às tentativas espanholas para fomentarem a guerra
civil em Portugal. Em 1826, desta praça armada um esquadrão de cavalaria
espanhola "deserta", para vir defender a causa da monarquia
absolutista de D. Miguel, pretendente ao trono de Portugal. Este esquadrão, um
dos primeiros que os espanhóis enviam, não tarda a semear a morte e a
destruição pelo país. As grandes potências da Europa condenam a Espanha pelo
financiamento e as incursões que levou a cabo, até conduzir Portugal para um
novo banho de sangue, a guerra civil entre liberais e absolutistas
(1826-1834). .
A
Espanha prosseguindo a sua acção terrorista sobre a população de Olivença,
em 1840, proíbe o uso da língua portuguesa, reforçando ao mesmo tempo os
mecanismo de aniquilamento das tradições portuguesas.
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Nesta orgia da morte, em 1856, a Espanha ergue em
Olivença, o monumento que simboliza o seu domínio: uma magnifica praça de
touros, para mais de 5 mil espectadores. O restava do povo português tinha aí
possibilidade de evocar, nos sangue dos animais mortos, o sangue derramado pelos
seus antepassados. Os invasores espanhóis e os traidores portugueses que
também os houve, a possibilidade de glorificarem o poder da morte sobre uma
cultura. Esta relação entre praças de praças de touros
e execuções humanas, virá a ser largamente concretizada durante a última
guerra civil espanhola (1936-1939). Na estremadura elas foram os locais
privilegiados de execuções, entre eles se contaram muitos habitantes
originários de Olivença. A história repetia-se, não no plano simbólico, mas
como uma manifestação real. Durante
a ditadura franquista (1939-1975), o que ainda restava da língua e das
tradições portuguesas em Olivença são totalmente proibidas. Apenas em
segredo poderiam eventualmente ser mantidas.
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Humberto Delgado: A Última
Traição Nas terras de Olivença, ir-se-á
concretizar nos anos 60 uma das últimas traições da Espanha aos portugueses.
Junto a Olivença, no dia 13 de Fevereiro de 1965 foi morto um dos símbolos da luta contra a ditadura
(1926-1974). Salazar, contou com a conivência do governo espanhol para
assassinar em Olivença o General Humberto Delgado. Um dos seus assassinos -Rosa Casaco-, vive ainda hoje tranquilamente em
Espanha. . | |
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Cripto-Portugueses
É dificil imaginar, depois da barbárie
praticada pela Espanha ainda subsistam descendentes de portugueses em Olivença.
Custa a crer que ainda sobreviva algo da de uma identidade sistematicamente negada.
As pedras estão lá, mas as cabeças há
muito que são as do invasor. Ao fim de dois séculos, a existência de uma
identidade secretamente guardada pela população, é de todo improvável. Seria
o mesmo que pedir a um Inca actual que se identificasse com os seus
antepassados. Os sobreviventes que existem devem ser necessariamente esporádicos. O
etnocídio foi aqui, como na América Latina, perfeito. A Espanha tem uma longa
tradição neste tipo de crimes contra a humanidade. Estamos
em crer que a actual população de Olivença é maioritariamente descendente de
antigos de usurpadores espanhóis (ladrões, assassinos, violadores, etc). Há todavia
alguns estudos surpreendentes que apontam para outras conclusões e que não podem ser
descartadas: a existência de descendentes de portugueses. Gente que sobreviveu durante
dois séculos a condições inacreditáveis de humilhação, discriminação e
barbárie. Em 2005, uma investigadora
da Universidade de Évora (Ana Paula Fitas), apresentou uma tese de doutoramento
sobre a identidade cultural do povo de Olivença. Após dois anos de pesquisas
junto da sua população, afirma que na sua maioria esta não se identifica com a
Espanha mas com Portugal (Expresso,23/4/2005), embora se sinta magoada com o
abandono a que foi votada pelos sucessivos governos portugueses. Esta conclusão
não é nova. Em 1992, Carlos Luna (cfr. Nos Caminhos de Olivença), ao
descrever uma incursão que fez por Olivença e as suas principais povoações,
chegou às mesmas conclusões, mas com uma nota muito interessante: uma
parte significativa das muitas pessoas com quem contactou tinha nomes portugueses.
A Espanha ainda não tinha conseguido exterminar, em 1992, toda a população de origem
portuguesa, muitos terão sido aqueles que haviam resistido à barbárie. Embora
seja uma conclusão inacreditável, dada a experiência histórica que a Espanha
revela neste tipo de operações, a verdade é que a mesma não pode ser
descartada.
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Dossier sobre Olivença
Inicio
.1. Resistência
. 2. Cultura . 3. A
Tradição de Bolboa . 4. A traição de
"nostros hermanos". 5.
Isolamento e Extermínio. 6. A
Legitimação da Usurpação. 7.Colaboracionistas
8. Outros casos de etnocídios. 9.Memorial
10. Bibliografia | |