Portugal é
presentemente governado por políticos já reformados pelo exercício de
anteriores cargos públicos, é uma situação única no mundo.
Para além do
vencimento que recebem pelos cargos públicos que continuam a exercer, podem
acumular este vencimento com mais uma, duas, três, quatro ou mais reformas e
pensões vitalícias do Estado. Um roubo praticado por políticos de todos os
quadrantes.
Os partidos políticos
em Portugal desde 1974, criarem um sistema de roubo legal para os seus membros e
respectivas clientelas partidárias, baseado na acumulação de reformas e pensões
vitalícias.
A Assembleia da República
produziu ao longo dos anos leis que permitem que Presidentes da República,
Presidentes da Regiões Autónomas, primeiros-ministros, ministros, deputados,
autarcas, administradores de institutos, empresas ou bancos públicos, usufruírem
de um privilégio que nenhum outro cidadão possui.
As reformas ou pensões
vitalícias, conforme os cargos e as instituições, podem ser obtidas ao fim de
alguns meses ou de poucos anos de serviço. No caso dos deputados, actualmente os mais
"prejudicados" pelo sistema, o tempo exigido só agora aumentou para 8 anos, findos os
quais passam à categoria de reformados do Estado.
A Assembleia da
República, o governo central ou das regiões autónomas, as autarquias,
empresas e institutos públicos estão repletas de reformados do Estado.
Eles estão por todo lado activíssimos, trabalhando para acumularem novas
reformas.
Que confiança podem
inspirar estes políticos? E a Assembleia da República que institucionalizou
estes privilégios ?
Madeira, o
paradigma do roubo institucional
Como se tudo isto
não bastasse, nas Assembleias Regionais dos Açores e da Madeira, foram criados
idênticos mecanismos de atribuição de reformas vitalícias. Em 2005, surgiram
as primeiras fornadas de reformados das ilhas. Desde então o seu número não
pára de aumentar.
Fruto desta autonomia, cada uma delas é um caso:
Na Madeira, por
exemplo, a regra é a acumulação sem limites. O presidente Alberto João
Jardim, para além de uma reforma do Estado de 4.124 euros, obtida num serviço
público onde nunca trabalhou (Secretaria Regional de Turismo), recebe um ordenado
por inteiro de 84 mil euros. Acresce a este valor mais 40% de despesas de representação,
o que dá 94.467 euros , muito mais do que ganha o
primeiro-ministro em Espanha (Dados de 2010).
Para tornar tudo
isto legal, o parlamento madeirense, aprovou uma norma no seu Estatuto Político-Administrativo
que impede, "em matéria de vencimentos, subsídios e subvenções, lesar
direitos adquiridos".
Quem disse que Portugal é um país
pobre? Para que precisa a Madeira de apoios da República para fazer frente
às catástrofes se dinheiro é depois esbanjados pelos políticos e clientelas
regionais ?
Para além de
reformas vitalícias, os deputados quando abandonam a Assembleia da República recebem ainda
generosos
"subsídios de reintegração" que facilmente atingem as largas
dezenas de milhares de euros.
Câmaras e Juntas
de Reformados
Calculam-se que
sejam largos milhares o número de autarcas reformados nas câmaras municipais
(308) e Juntas de Freguesia (4.260), muitos dos quais acumulam com outras
reformas do Estado ou do "sector privado". Está em marcha um processo
para obterem novas reformas pelo trabalho prestado nas empresas municipais que
eles próprios criaram...
Presidenciais de
Reformados
As eleições em
Portugal são entre reformados, para elegerem um reformado. Trata-se de um caso
sem paralelo no Mundo.
As eleições
presidenciais de 2011 serão disputadas por dois ilustres reformados:
Cavaco Silva
(PSD) - Quatro Reformas do Estado: Banco de Portugal (€ 4.152,00 ), UNL ( €
2.328,00), primeiro-ministro ( € 2.876,00) e a de Presidente da República.
Manuel Alegre
(PS) - Duas reformas do Estado: RDP, por ter trabalho apenas 1 ano (1974/1975), no
valor de € 3.219,95; Deputado da Assembleia da República. Candidata-se
portanto a mais uma reforma do Estado.
De acordo com a
conjuntura política, e os interesses em jogo, algumas destas reformas podem ser
pontualmente suspensas pelo beneficiário. Uma estratégia muito seguida por políticos
no activo.
Cavaco Silva, por
exemplo, em Outubro de 2010, recebia apenas duas reformas - uma do Banco de
Portugal e outra da UNL, que somavam cerca de cinco mil euros - e o vencimento
enquanto Presidente da República, que ultrapassa os sete mil euros.
Presidentes da
Assembleia da República Reformados
O universo dos
políticos reformados em Portugal ultrapassa o que a mente mais criativa seria
capaz de imaginar. Todos os ex-presidentes da Assembleia da República foram
ilustre acumuladores de reformas do Estado, mas a actual (2011), ilustra bem a
razão da bancarrota a que o país chegou:
Conceição
Esteves (PSD), adquiriu a sua primeira reforma com apenas 42 anos, após 10
(dez anos) de trabalho, pela qual recebe 2.445 euros/mês. Desde então tem
vindo a acumular outras reformas. Com o dinheiro dos contribuintes, contratou um
motorista particular, cujo ordenado é um verdadeiro escândalo público..
Influência
na Sociedade Portuguesa do Partido de Políticos Reformados
(PPR)
O sistema que está
criado interessa aos membros e clientelas de todos os partidos políticos, sejam
de esquerda ou de direita. Nesse sentido todos na prática se opõem à qualquer
mudança profundas nas estruturas que lhes dão acesso a cargos públicos.
Daqui resulta que se
tenha constituído na sociedade portuguesa um partido oculto, transversal
a todos os outros, cuja lógica de acção se centra na preservação das
estruturas do Estado que garantem o acesso a mordomias e pensões de reformas
acumuláveis.
Alguns exemplos:
1. Assembleia
da República. O número
de deputados é consensualmente excessivo (230), mas o PPR opõem-se à sua
redução.
2. Câmaras
Municipais e
Juntas de Freguesia .
O número é excessivo, as suas funções são desadequadas, senão aberrantes.
O PPR opõem-se qualquer alteração.
3. Governos
Civis. É consensual que
os mesmos deviam ser extintos. O PPR opõem-se à sua extinção.
4. Empresas
Públicas, incluindo Empresas Municipais.
As grandes empresas públicas possuem estruturas perdulárias, onde é patente o
elevado número de chefias a todos os níveis sem qualquer justificação
funcional. As câmaras municipais criarem um sem número de empresas municipais,
onde se multiplicam os cargos e as mordomias. O interesse geral do país exigia
a extinção da esmagadora maioria destas empresas.
O PPR
considera a preservação do seu número como um activo estratégico, logo
opõem-se a qualquer alteração, a não seja aceite a seguinte condição:
- A empresa publica
que seja extinta deve ser substituída por outra empresa pública que se
encarregue da extinção da primeira.
5.
Institutos Públicos e Fundações.
Ninguém sabe ao certo quantas instituições publicas existem em
Portugal. Os seus encargos aparecem, em geral, escondidos nas contas
do Estado. O importante não são as suas funções, mas os cargos e mordomias
que os mesmos proporcionam. O PPR apenas aceita a extinção de um instituto, na
condição de ser criado outro para estudar a extinção do primeiro.
As fundações proliferaram com a democracia. Em 1974 existiam cerca de 10. Em
2012, calculava-se que fossem mais de 700, a maior parte das quais eram
privadas. A esmagadora maioria foram constituídas não para prestarem um serviço
social à comunidade, mas para fugirem ao fisco ou sacarem apoios do Estado e da
UE. As fundações publicas têm sido um expediente largamente utilizado para
encaixarem políticos e suas clientelas, "melhorarem" os ordenados de autarcas,
ou transferirem verbas para os partidos políticos.
Perante tanta roubalheira, o PPR aceita alguma mudança no quadro das fundações,
desde que tudo possa continuar na mesma.
6. Serviços
Públicos. Todos os
estudos sobre a Administração Publica constam à décadas a pulverização de
organismos públicos na mesma área de competências. A única justificação
plausível para a sua existência resume-se a uma ideia simples: contemplar todo
o tipo de clientelas.
Todas as reformas da
Administração Pública tem-se resumido a seguir a velha lei Siciliana: É
preciso mudar alguma coisa para que tudo fique na mesma.
Depois de qualquer
"Profunda Reforma" constata-se para espanto de todos, que o enorme
desperdício não apenas continua, mas é agora maior do que nunca o fora no
passado. Esta é uma das áreas de maior influência do PRP no aparelho de
Estado, e a que lhe tem garantido uma sólida implantação nas suas
chefias.
7. Segurança
Pública. A racionalidade
de recursos e uma melhor coordenação no combate à criminalidade exigiria a
fusão da PSP com a GNR. Apesar de sensata a medida conta com a total oposição
do PPR, pois isso poderia significar menos cargos para distribuir.
8. Forças Armadas.
As forças armadas de um
país como Portugal não necessitam de tantos generais e oficiais superiores.
Não faz sequer sentido existirem três academias militares, uma cada cada ramo
das forças armadas, mas a sua redução implicaria menos mordomias e cargos para distribuir. A
lógica corporativa sobrepõem-se aos interesses do país, uma ideia com a qual
o PPR está de acordo..
9.
Universidades e Politécnicos.
Num país com a dimensão de Portugal não faz qualquer sentido existirem 15
Universidades e 15 Institutos Politécnicos públicos. O desperdício que está
pulverização representa é incalculável. Atendendo a que uma parte
significativa dos políticos portugueses dá aulas nestas instituições
públicas, qualquer alteração no seu número e pulverização é sentida como
uma ameaça aos possíveis acumulações, e potenciais reformas. O PPR não
abdica de nenhum delas, a não ser que se crie uma nova configuração em que
tudo fique na mesma.
10. Justiça.
A Justiça em Portugal está completamente desacreditada, porque mais do que ser
lenta, está partidarizada e os agentes da justiça andam em roda livre. Os
juizes são dos mais bem pagos do Estado, possuem regalias únicas no país. 9
em cada 10 aposentados com mais de 5.000 euros mensais foram juízes
e Notários (dados de 2005).
Não
contentes com isto, também se dedicam a acumular outros cargos, nomeadamente em clubes de
futebol, associações disto e daquilo, onde amealham mais uns cobres e o
reconhecimento social que não possuem na função que exercem. O PPR limita-se
a preservar o existente, evitando que sejam introduzidas mudanças no sistema,
por mínimas que sejam, como um novo mapa judiciário, uma nova gestão nos
tribunais, etc.
Estes são apenas
alguns das inúmeras áreas onde o PPR tem uma influência decisiva na sociedade
portuguesa, mas não se pense que são as únicas.
Fidelidades
Partidárias muito voláteis
A verdadeira
fidelidade dos políticos não é com os respectivos partidos, mas com o PPR.
Uma vez atingida uma ou mais reformas do Estado é vê-los a afastarem-se dos
partidos onde militaram, em rupturas mais ou menos violentas. A obtenção das
reformas, tem levado também muitos membros do PPR a adoptarem uma atitude menos
critica nos respectivos partidos, pois de certa forma conseguiram o que
pretendiam.
Efeitos das
reformas:
Freitas do Amaral,
ao saber que lhe faltava pouco tempo para obter a reforma vitalicia de deputado,
desligou-se do CDS, mas não da Assembleia da Republica enquanto não completou
o tempo necessário para a obter (1993).
Carlos Brito,
quando obteve a sua reforma, mandou às ortigas o PCP, onde durante décadas
militou, passando a considerá-lo publicamente um partido de mentecaptos.
Fernando Rosas,
dirigente do Bloco de Esquerda, quando atingiu os 8 anos necessários para
solicitar a sua reforma de deputado, mandou a Assembleia às malvas, sob o
pretexto que necessitava de investigar (Outubro de 2010).
Santana Lopes,
o eterno menino rebelde do PSD, depois de obter uma reforma de primeiro-ministro
após seis meses de trabalho, que acumulou depois com a reforma de deputado. Uma
situação que o tornou mais comedido nas intervenções.
Acumulações
Meteóricas
O comum os cidadãos
só pode obter uma reforma completa com 40 anos de trabalho e 65 anos de idade.
Esta regra não se aplica em Portugal aos políticos.
A Assembleia da República, não
tem faltado deputados reformados com pouco mais de 30 ou 40 anos de idade.
Outros mal fizeram 50 trataram de pedir a reforma.
Marques Mendes,
antigo lider do PSD, mal fez 50 anos de idade, tratou de requerer uma pensão de
2.905 euros (2008), e foi tratar da vida para outro lado...
O sistema tem-lhes
permitido reformarem-se com qualquer idade, e saltarem da Assembleia da Republica ou do governo para
empresas ou bancos dos Estado, para encurtarem o tempo necessário para acumularem
novas reformas. É sempre a somar.
Mira Amaral,
antigo ministro de Cavaco Silva (PSD), depois de obter uma reforma de deputado,
em 21 meses obteve uma reforma da Caixa Geral de Depósitos no valor de 18.000
euros mensais.
Campos
e Cunha, ministro das finanças de Sócrates, após ter trabalhado 6 anos no
Banco de Portugal, e com apenas 49 anos, obteve uma reforma de €
114 784,00 (2008). Em breve irá obter uma nova reforma do Estado, desta vez na
UNL. É sempre a facturar.
Diogo Leite
Campo, vice-presidente do PSD. À semelhança de outros camaradas de
partido, bastarem-lhe 6 anos no Banco de Portugal (1994-2000) para obter a
segunda reforma do Estado.
Vasco Franco,
figura de proa do PS, após ter passado pela Câmara Municipal de Lisboa, com os
resultados que se conhecem (Lisboa, perdeu 41% da sua população entre 1981 e
2008), tendo pouco mais do que 50 anos de idade, obteve uma reforma de deputado
de 3.035 euros. Recebe ainda uma outra do Estado, desta vez por ter sido ferido
em Moçambique depois de 1974. O PS arranjou-lhe de seguida vários cargos no
Estado e em empresas públicas municipais para lhe compor o ordenado ao fim do
mês, e fazer tempo para obter novas reformas.
As actuais e futuras
gerações de contribuintes portugueses irão suportar por muitos e bons anos
estas
reformas douradas.
Mundos à Parte
No mundo das
reformas publicas, existem instituições blindadas ao escrutínio público que
têm sido um maná para os políticos em Portugal: Banco de Portugal (BP) e a
Caixa Geral de Depósitos (CGD). As reformas são fixadas pelos próprios
interessados. Dezenas de governantes e deputados de todos os quadrantes,
independentemente da sua idade ou da sua competência, tem sido contemplados com
estas reformas, que acumulam depois com outras do Estado e de empresas privadas.
Ernâni Lopes,
com apenas 47 anos, obteve uma choruda reforma do BP (1989). Tornou-se desde
então um paladino a necessidade de aumentar o tempo de reforma, e cortar no
vencimentos dos funcionários públicos.
Publico versus
Privado
As idades com que os
políticos se reformam em Portugal permitem-lhes prosseguirem ainda uma longa
vida política activa, auferindo novos vencimentos e obterem novas reformas em
outros cargos públicos. O grande objectivo de qualquer político de esquerda ou
de direita é todavia outro:
- Obterem um cargo
num banco ou numa grande empresa de privada, de preferência no sector do
imobiliário, energia ou telecomunicações.
Estudos recentes (1)
mostram que a maioria dos governantes em Portugal, ministros ou secretários de
Estado, após saírem do Governo transferiram-se para bancos privados. Os
conhecimentos e os contactos que obtiveram no exercício de cargos públicos
são pagos a peso de ouro no "privado". A promiscuidade entre o
público e o privado é completa.
Cleptocracia
A esmagadora maioria
dos políticos em Portugal comportam-se como simples cleptocratas, cujo único
objectivo é encontrarem formas de se apropriarem dos recursos do Estado. O resultado deste
roubo generalizado é um país bloqueado no seu desenvolvimento, com um nível
de endividamento que não pára de aumentar.
A justificação
para semelhante roubo ao país é sempre a mesma:
- Direitos
Consagrados. Todas as acumulações de reformas e mordomias são direitos
legalmente consagrados. Os políticos limitam-se, portanto a reclamarem aquilo a
que tem direito. Não dizem é que quem, consagrou estes direitos foram eles
próprios.
- Custo da Democracia. A democracia é mais cara do que a ditadura, trata-se de um facto
que ninguém contesta. O problema é que facilmente se passa da despesa
justificada, ao desperdício e ao roubo oportunista.
- Mal Pagos. Os
políticos em Portugal afirma que são mal pagos pelo exercício dos seus cargos
públicos (2), o que justificaria só por si, a apropriação que fazem de tudo o
que podem da coisa publica, como compensação dos sacrifícios que fazem pelo
país. Nesse sentido, consideram legitimo a titulo de compensação, trocarem
entre si cargos públicos, ou distribui-los pelos seus familiares, os grandes
sacrificados por tanta dedicação (3).
O cúmulo deste
sistema é todavia a moralidade que passam a apregoar depois de terem garantido
o seu sustento, assim como dos seus familiares e amigos para o resto da vida.
A maioria passa a
sustentar na praça pública que o povo português vive acima das suas
possibilidades, e por isso tem que trabalhar mais para assegurar o Estado
Social, garantindo-lhes dessa as suas reformas e mordomias.
Carlos Fontes
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