EUA (Estados Unidos da América)
- Portugal
A presença portuguesa nos EUA é
anterior ao século XVI. A prova deste facto é o chamado Mapa de Cantino
(1502), a cópia de um mapa português obtida em Lisboa por um espião italiano.
Neste Mapa, copiado entre Dezembro de 1501 e Outubro de 2002, está representada
toda a costa da Flórida (ou Florida, em português), com topónimos
portugueses. O Mapa revela ainda que os portugueses
já tinham cartografado a Terra Nova (Canadá), onde iam pescar
bacalhau.
Os portugueses
chegaram à Florida entre 1493 e 1498, o
espanhol Juan Ponce de León só "descobriu" a Flórida 18 anos
depois, contando sempre com a ajuda de portugueses.
Não
é de estranhar que na primeira expedição que penetrou no interior da América
do Norte, a partir da Florida - a expedição de Fernando de Souto,
de 1537 a 1543, contasse com pelo menos 23 portugueses, 8 dos quais eram
fidalgos. Para iludir as autoridades espanholas dera outra identidade: 9
portugueses foram registados na Casa da Contratação de Sevilha como sendo
vizinhos em Badajoz (Espanha). Um outro português afirma que era de Guadalcanal
(Sevilha).
Um
deles, o "fidalgo de Elvas" elaborou em português uma preciosa
relação da expedição, a primeira a ser publicada. Entre os portugueses destacou-se
o capitão André Gonçalves, descobridor da província de
Apalache, tendo morrido em Aminoya, nas margens do Mississipi (1550).
João Rodrigues Cabrilho
(Juan Rodriguez Cabrillo), que participara na conquista da
Tenochtitlan (capital Azteca), foi também o primeiro europeu a explorar
entre 1542 e 1443 a costa Oeste dos actuais EUA.
O
início da exploração
interior dos EUA foi feito também por centenas de portugueses, cujo identificação
só muito recentemente se começou a fazer. Dois exemplos:
-
André do Campo (Andres del Campo). Integrou com vários outros
portugueses a expedição de Francisco Vasquez de Coronado, em Fevereiro de
1540, que a partir de Compostela penetrou pelo interior dos EUA . Após o
fim da mesma prosseguiu durante 9 anos a exploração deste região do mundo (Quivira,
Kansas).
-
André Gonçalves, em 1542, com um grupo de portugueses percorreu a região
ocidental dos EUA.
A cartografia espanhola dos actuais EUA
foi também realizada por portugueses
Estevão Gomes.
Piloto e cartógrafo. Em 1518 aparece nos registo da casa da contratação de
Sevilha. Foi nomeado por Carlos V, para encontrar uma passagem marítima para a
Índia no Atlântico Norte. Em 1524-25 navegou desde a costa mexicana até à
Terra Nova (Canadá), seguiu para a Nova Escócia. Explorou e cartografou costa
Leste dos actuais EUA. Em 1535 participou na expedição de Pedro de Mendonza no
rio da Prata.
Séculos XVII
No século XVII formaram-se as primeiras
comunidades de portuguesas. No século XIX, os imigrantes portugueses
já estavam espalhados por todo o território norte-americano, concentrando-se em
especial nas zonas costeiras, em localidades portuárias onde existem ou
existiram importantes actividades pescatórias.
Costa Oeste.
A primeira
comunidade de portugueses a estabelecer-se era de origem judaica. O primeiro de
todos terá sido Matias de Sousa que chegou a Maryland em 1643.
Costa Leste.
Nova Amesterdão (futura Nova
Iorque) era em meados do
século XVII, propriedade da Companhia das Indias Ocidentais da Holanda.
Uma grande parte do capital desta companhia pertencia a portugueses residentes na cidade
de Amesterdão. Foi aqui que em 1654
desembarcam no porto de um grupo de 23 judeus portugueses vindos do
Brasil (Recife, Pernambuco), por temerem serem perseguidos pela Inquisição. O
seu acolhimento ficou-se a dever à intervenção dos portugueses que estavam na
Holanda.
Estes grupo, assim como os seus
descendentes tiveram um papel muito importante nesta cidade. Em 1730 fundam aí
a 1ª. sinagoga - a Shearith Israel - a única que esteve em
funcionamento até 1825. Os seus livros de registo, cânticos e inúmeras
palavras usadas nesta sinagoga são em português. Deve-se-lhes também a
criação do primeiro cemitério judaico (Manhattan), fundado pelo rabino Mendes
Seixas (1746-1816). Em termos políticos, sociais e econónicos este grupo e os
seus descendentes foram muito activos: Em 1733, estão entre os primeiros a
assinarem petição sobre a questão do Chá que desencadeou a Revolução
Americana. Em 1768 são co-fundadores da Camara de Comércio de Nova Iorque. Em
1792, Benjamim Mendes Seixas foi um dos principais impulsionadores da criação
da Bolsa de Valores (Wall Street). O rabino português Mendes Seixas fundou a
Columbia University e o Hospital Mount Sinai. Os exemplos são muitos da
vitalidade desta comunidade de judeus portugueses de Nova
Iorque.
Quando os ingleses expulsaram os
holandeses de Nova Iorque, uma parte da cidade foi dada a Dona Catarina de
Bragança, rainha portuguesa da Grã-Bretanha.
Outros grupos de judeus
portugueses começaram a chegar a partir de 1658, estabelecendo-se ao longo da Costa Leste,
na Pensilvânia,
Geórgia
e Rhode Island. É nesta cidade que 1750
introduzem a
pesca à baleia, dominada pelo português Aaron Lopez, nascido em Lisboa. Em 1759 fundaram em
Newport, a primeira sinagoga dos EUA - Sinagoga do Touro.
Recorde-se que a pesca da baleia foi uma das actividades que levou ao longo dos
séculos muitos portugueses para os EUA, em particular os açorianos.
Século XVIII.
A comunidade portuguesa não
parou de aumentar no século XVIII. Muitos marinheiros portugueses lutaram
então pela Independência dos EUA. Entre os que se salientaram no campo
militar, destaca-se Pedro Francisco ( Peter Francis ) distinguido por George
Washington.
No campo científico sobressai a
figura de Abade Correia da Serra, natural de Serpa, e co-fundador da Academia de
Ciências de Lisboa, e amigo de Benjamim Franklin, em cuja casa tinha um quarto
reservado para as suas estadias.
Após a Independência dos EUA
(1776), a marinha portuguesa até 1807 efectuou diversas acções de protecção
dos seus navios comerciais ao longo da costa portuguesa e no Estreito de
Gibraltar, nomeadamente contra os piratas muçulmanos do Norte de África.
Século XIX.
A presença de portugueses na
costa Oeste começa a fazer-se sentir a partir da 2ª. metade do século
XVIII, ligados sobretudo a actividades pesqueiras (pesca da baleia) e agricolas.
O primeiro
europeu a fixar-se na região onde actualmente existe a cidade de Los Angeles
foi o português, António José Rocha, no ano de 1814.
Neste século, os principais núcleos
de portugueses concentram-se em San Francisco, Monterey, San Diego, Oakland, San
Leandro, Hayward, Los Angeles, San José, etc.
Os mais importantes núcleos de
portugueses na costa leste, durante o século XIX, estavam
concentrados na região de Nova Iorque (New Bedford, Fall River, etc).
John
Philip Sousa (1854-1932)
O mais
famoso compositor e maestro dos EUA era filho de um português e de uma
alemã. |
A emigração massiva de
portugueses para os EUA ocorreu entre 1820 e 1872, quando entraram nos
EUA 379.130 imigrantes. No Havai no final do século XIX e
princípio do século XX, formou-se também uma assinalável comunidade
(consultar).
Século XX.
John Roderigo
dos Passos (1896-1970) Célebre
escritor norte-americano filho de um português, natural da Madeira, Ponta
do Sol. Nunca perdeu a sua ligação à terra do pai, tendo feito diversas
visitas a Portugal (1905, 1921, 1960, 1967). O último livro que escreveu
foi justamente "A História de Portugal", para a qual fez
uma vasta pesquisa no país.
Na sua vasta
bibliografia destaca-se: Iniciação de um homem (1919), a trilogia
USA: Paralelo 42 (1930), 1919 (1932) e Dinheiro Graúdo (1936). |
Durante a 2ª. Guerra Mundial
dá-se uma aproximação político-militar de Portugal e dos EUA, sendo-lhes
facultada a instalação de uma base militar nos Açores (1943). Portugal
participa também na criação da NATO/OTAN (1949), uma aliança militar liderada
pelos EUA. Em 1951 assinam dois importantes acordos bilaterais de defesa e de
auxílio mútuo. A
questão que dividia os dois países era a questão colonial. O primeiro
conflito ocorreu em 1954, quando os EUA se recusaram a condenar a União
Indiana pela anexação dos enclaves portugueses de Dadrá e Nagar-Aveli. Durante
as guerras coloniais (1961-1974), a posição dos EUA oscilou bastante nas suas
posições. Em 1961 John F. Kennedy (1917-1963) assume uma clara posição
anti-colonial, condenando a continuação das colónias portuguesas. É
decretado um embargo à venda de armas a Portugal. Neste ano ocorrem uma
sucessão de acontecimentos que tornaram irreversível o processo: A
União Indiana anexa Goa, Dão e Diu, os EUA recebem o lider das UPA (Holden
Robert), princípia a guerra em Angola, exilados portugueses numa acção de
grande mediatismo internacional tomam de assalto um paquete (Santa Maria) e um
avião, etc. A reacção portuguesa não se fez
esperar, ameaçando desde logo expulsar os EUA da Base das Lajes dos Açores,
uma peça fundamental na sua estratégia de defesa global. Em 1962, Kenedy é
forçado a mudar a sua política, adoptando uma atitude muito contida sobre as
colónias portuguesas em África. Os
presidentes que lhe seguiram seguiram a mesma atitude de contenção. Portugal
em troca, estabeleceu um novo acordo de cedência da Base das Lajes (1971),
durante a guerra Israel-Árabe (Guerra do Yom Kippur), em 1973, permitiu que o
auxilio americano fosse feito através do país, etc. Depois
do 25/4/1974, os EUA ficam em pânico com a influência que o PCP e a União
Soviética desfrutaram durante dois anos em Portugal. Entre outras acções,
apoiam movimentos separatistas nos arquipélagos da Madeira e dos Açores.
Passado este período conturbado as relações entre
os dois países são reforçadas, não apenas em termos político-militares, mas também culturais e
económicos. Em 1985 é criada a FLAD. A adesão de Portugal à CEE (actual UE), em
1986, veio retirar a esta aliança muita da sua importância anterior. Em relação a Angola,
os EUA adoptam em 1974 uma desastrada política que
irá contribuir para lançar esta região de África num caos. Decidem expulsar
o MPLA (marxista), apostando na destabilização e fragmentação deste país,
investindo primeiro na FNLA / ZAIRE e depois na UNITA. Comunidade
portuguesa. A imigração
portuguesa para os EUA manteve-se muito elevada até ao final dos anos 20. Entre
1901-1910: 69.140 emigrantes; 1911-1920: 89.732; 1921-1930:c.30.000.
Depois da crise de 1929, foram tomadas medidas muito restritivas contra a
emigração. Os candidatos, por exemplo, tinham que saber inglês falado e
escrito. O número de emigrantes portugueses desceu entre 1931 e 1950
para cerca de 10.750. A
segunda vaga de emigração, depois do século XIX, ocorreu na sequência da
erupção do vulcão dos Capelinhos (1957), na Ilha do Faial, Açores. Os então
senadores John F. Kennedy do Massachusetts (futuro presidente) e John O. Pastor de
Rhode Island lideraram um processo de concessão de vistos para as famílias
afectadas pelo vulcão. Entre 1958 e 1965 cerca de 15.000 açorianos do Faial
emigraram para os EUA. Este acontecimento provocou uma mudança das leis
da emigração deste país. Calcula-se que em consequência destas mesmas, entre 1960 e 1980 cerca de 180.000 portugueses
tenham emigrado para os EUA (metade destes emigrantes eram açorianos). Não
existe um único Estado norte-americano sem portugueses. Embora nas últimas
décadas a comunidade esteja em em franca regressão, o seu número é ainda
muito expressivo nos seguintes Estados: Na costa Leste estados de Massachusetts,
Rhode Island, New Jersey, Florida, Connecticut, New York e Washington. Na costa
Oeste, no Estado da Califórnia, onde a comunidade é muito activa. Fora
do continente destaca-se o Hawaii. Um
número significativo de cientistas portugueses tem-se fixado nas últimas décadas nos EUA, onde
desenvolvem uma actividade de projecção internacional, como é o caso de
António Damásio. É também muito significativo o número de teses de doutoramento sobre assuntos
portugueses realizados nas universidades norte-americanas. Séc.
XXI. As acções
militares que envolvem os dois países inscrevem-se regra geral no quadro de
decisões tomadas pela ONU ou a NATO, e só muito raramente resultam de acordos
bilaterais. O apoio à última Invasão do Iraque, por George Bush, parece ter
sido uma excepção, motivada pelo envolvimento inicial da Espanha. Nas
bibliotecas e museus norte-americanos encontra-se vastos espólios
representativos da cultura portuguesa.
Carlos Fontes
Comunidade
Portuguesa dos EUA
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