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A
questão da escravatura no território que hoje constitui Moçambique,
continua a ser um dos motivos centrais da acusação ao colonialismo
português. Utilizada como veiculo de propaganda, a questão é
objecto das mais ingénua manipulações. Muitos antigos negreiros
africanos têm sido elevados à categoria de heróis, só pelo simples
facto de se terem oposto aos portugueses, nomeadamente quando estes
procuravam acabar com o tráfico em Moçambique.
1.O tráfico negreiro
é anterior à chegada dos portugueses (1498). A escravatura e o tráfico
de escravo era uma prática muito corrente em toda a região a que se
dedicavam desde há séculos os negreiros árabes e suaílis. Tinha
igualmente uma larga tradição na maioria da tribos africanas da região,
que não apenas escravizavam os seus inimigos, como até os seus
membros.
A partir do século XVI,
os suaílis foram contudo o grupo de protagonizou com grande eficácia
este comércio. Para isso concorriam duas coisas: os seus portos
estrategicamente localizados e a sua importante frota marítima. Os
Suaílis era um povo de mestiços islamizado, cujos primeiros centros
na costa oriental de Africa foram Quiloa, Zamzibar e ilhas Comores. A
partir do século XII, avançaram para sul, criando importantes
centros suailis em Angoche, Ilha de Moçambique, Quelimane, Sofala e
ilhas Querimbas, todos fundados por aristocratas islâmicos de Quiloa.
2.A presença
portuguesa a partir do século XVI, na Costa Oriental de África,
assentou no controlo e conquista dos centros suaílis, como Quiloa,
Angoche, Sofala, Ilha de Moçmbique, etc. No século XVII, quando os
portugueses se estabelecem no vale do zambeze, expulsam também os suaílis
das terras do Monomotapa
3.No século XVII,os
portugueses começam a perder posições na costa norte de África.Os
árabes reconquistam que haviam reconquistado Omã, avançam para sul
e conquista Mombaça e diversos portos a norte do rio Rovuma. As
comunidades islâmicas, entre as quais se contavam os suaílis, voltam
a fortalecer a sua presença no norte de Moçambique. O tráfico
negreiro começa lentamente a expandir-se.
4. Ao contrário do que
acontecera com a Costa Ocidental de África, onde o tráfico negreiro
foi muito intenso entre os séculos XVI e fins do século XVIII.O tráfico
na costa oriental manteve relativamente diminuto até fins do século
XVIII.
O tráfico só se começa
a intensificar, no século XVIII, quando os franceses começam, a
realizar importantes plantações nas ilhas francesas no Oceano
indico( França e Bourbon). Estas necessitavam de enormes contingentes
de mão-de-obra
Os franceses não
tardam a vir buscar escravos às costas de Moçambique e às
Mascarenhas, apesar da proibição portuguesa de armação de navios
estrangeiros aos portos de Moçambique (Leis de 1711 e 1715). Os
portugueses contudo, rapidamente entram no negócio. Durante décadas
os franceses abastecem-se de escravos na Ilha de Moçambique
(autonomizada desde 1752) e em outros portos.
Nas duas últimas décadas
do século XVIII, o tráfico atinge enormes proporções para as
ilhas francesas. Procurando fugir ao controlo dos portugueses e às
taxas aduaneiras por estes cobradas nos seus portos, os franceses não
tardam a comercializar escravos directamente com os Suaílis. Estes
armados pelos franceses passam a dominar o comércio negreiro na costa
moçambicana, incentivando as guerras locais como forma de aumentarem
o número de escravos.
5.Ao longo do século
XIX, o tráfico negreiro em Moçambique manteve-se muito activo, tendo
à cabeça os suaílis. Algumas tribos, como os macuas eram
simultaneamente vítimas e os seus chefes tribais beneficiários. Este
lucrativo comercio, permitiu o ressurgimento de reinos afro-islâmicos,
como o sultanato de Angoche e os xecados de Quitangonha, Sancul,
Sangage , etc.
6. O tráfico,
recorde-se foi proibido nos territórios africanos de Portugal. O
combate ao tráfico foi apoiado nomeadamente, em tratados com a
Inglaterra. Contudo, uma coisa era Lisboa proibir o tráfico, outra
era a aplicação das leis nas colónias. A diminuta presença de
tropas portuguesas no território tornava estas leis em meramente simbólicas.
7.Uma coisa era certa:
a proibição o trafico era claramente contrária aos interesses de
muitos negreiros locais, como a maioria das tribos africanas, mas também
dos árabes, suaílis, franceses e administradores corruptos.A questão
rapidamente acabou por motivar uma activa resistência às leis
portuguesas emanadas de Lisboa.
8. O ponto da discórdia
foi quando em 1842, Portugal estabeleceu com a Inglaterra um tratado
permitia uma forte combate ao tráfico. A partir daqui os conflitos
com as autoridades portuguesas aumentaram, assim como a violência.
9. Os Suaílis olham
para a presença Portuguesa como uma ameaça, envolvendo-se numa
guerra aberta pela continuidade do tráfico. Portugal, sem meios
militares suficientes, não consegue fazer cumprir as leis que proíbem
o tráfico. O tráfico assentava, em especial numa rede afro-islâmica,
que entre 1840 e 1860, atingiu a sua máxima dimensão, embora
prosseguisse clandestinamente até ao século XX. Nesta rede
destacavam-se, entre outros:
Sultanato
de Angoche.Até 1855, sucederam-se as lutas de Portugal e da Inglarra
para acabar com o tráfico dos sultões.Depois disso foi a guerra
aberta entre Portugal e os sultões negreiros,
Xecado
de Sangage, eram dos mais destacados no comercio de escravos no século
XIX.
Xecado
de Quitangonha, outro dos prósperos negreiros nas terras dos macuas,
de onde enviavam escravos para as ilhas de Comores e Madagáscar.
Estes e outros centros
suaílis, abasteciam Zamzibar, Madagascar, Comores e o Golfo Persico,
mas também os traficantes europeus, americanos (Brasil, EUA, etc).
Os macuas, como dissemos, foi a étnia mais escravizada.
10.Muitas tribos moçambicanas
dedicavam-se activamente ao tráfico e às pilhagens, como os
Namarrais, Chikungas, etc.
Os Chikongas, antigo
escravos-guerreiros dos Prazos da Coroa, desempenharam no século XIX
uma actividade não desprezível no tráfico de escravos no Zambézia.
Compravam-nos aos Bisas, Nsengas e Ambos, e depois exportavam-nos para
as Ilhas de Reunião e Zambibar.
O Império de Gaza, foi
provavelmente o que mais traficou e matou moçambicanos entre os anos
30 e final do século XX, quando foi dominado pelos portugueses.
11. Grandes potentados
negreiros, como o sultanato de Zamzibar, traficavam também
directamente em Cabo Delgado, despovoando o território moçambicano.
12. Grande parte da
resistência à presença portuguesa, em Moçambique, em finais do século
XIX e princípios do século XX, era motivada pela discordância em
relação à proibição do tráfico. Alguns destes resistentes ao
colonialismo português, foram consagrados como heróis nacionais após
a Independência do país, em 1975.
Em Construção !
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