Guerra
Civil
A Independência,
25 de Julho de 1975, foi o inicio não de uma Era de prosperidade, mas
de um conflito aberto que degenerou rapidamente numa catástrofe: uma
longa guerra civil que fez mais de um milhão de mortes e quatro milhões
de deslocados, destruindo todas as estruturas do país. Em vez do
progresso, Moçambique, tornou-se um dos países mais pobres do mundo,
vivendo de ajudas da comunidade internacional.
Quais as
causas desta tragédia? Vejamos algumas das mais referidas desta
horrível tragédia.
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Colonialismo
Para muitos moçambicanos,
a principal causa continua a ser atribuída ao colonialismo português:
Portugal não teria preparado devidamente os negros para assumirem o
poder em Moçambique. Trata-se de um argumento afinal de contas extensível
a todas as colónias europeias.
Na verdade, a lógica
de administração desta colónia não era diferente de qualquer outra
colónia europeia: - Acima de tudo procurava-se perpetuar o domínio
destes territórios pelas metrópoles. No caso de tal se revelar
difícil ou impossível de manter, o objectivo passava a ser a sua
transferência para os brancos locais, aí nascidos ou emigrados. A
colonização implicava que os "saberes" e "saberes-fazer"
essenciais para o funcionamento da economia, fossem na pratica
monopolizado pelos brancos.
O sistema de ensino
destinado aos negros, visava sobretudo torná-los aptos para servir o
próprio sistema colonial, integrando-os nos valores coloniais da metrópole.
De acordo com as necessidades de cada colónia, o sistema era mais ou
menos desenvolvido, mas sem nunca colocar em causa o domínio dos
brancos.
Foi por esta razão que
todas as colónias que acederam à Independência, nomeadamente em África,
após a 2ª. Guerra Mundial, manifestaram uma enorme falta de quadros
para assegurarem a respectiva administração do Estado e da estrutura
produtiva (empresas, fazendas, etc.). Moçambique não foi nenhum caso
excepcional. O problema não está todavia apenas aqui.
A seguir à Independência,
a Frelimo, não tardou em hostilizar os brancos que na sua maioria
haviam decidido ficar. As suas empresas e terras foram nacionalizadas,
etc. Promoveu a exaltação dos valores rácicos,
mesclados de nacionalismo africano. O resultado foi a debandada em
massa dos brancos (1975-1976). Na sua maioria estes acabaram por temer
o pior: um massacre idêntico aos que em África ocorrem com alguma
frequência desde os anos cinquenta do século XX.
Esta situação acabou
por agravar a situação no país, dada a raridade de quadros.
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Crenças
e Estruturas Tradicionais
A Igreja Católica foi
identificada com o colonialismo, e não tardou em ser ostracisada. As
suas escolas e outros bens foram nacionalizados. O clima era de
intimidação e assim se manteve durante anos e anos.
Neste processo, apenas
a religião islâmica parece ter sido poupado, o que terá contribuído
para a sua expansão em Moçambique.
As estruturas
tradicionais (chefes locais) nas várias étnias, sobretudo depois de
1977, foram igualmente secundarizadas e colocadas a ridículo.
O resultado foi um
continuo processo de desagregação social, o aumento das tensões
internas provocado por um contínuo afrontamento das crenças e
estruturas tradicionais do país.
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Ideologia
Marxista-Leninista-Maoista
A Frelimo, sob a direcção
de Samora Machel, desde os anos 70 que se aproximava de posições pró-chinesas
(maoistas).Estas posições a seguir à Independência evoluem para
uma adesão à ideologia marxista-leninista, e aproximação ao bloco
da ex-União Soviética. O III Congresso da Frelimo (1977), acaba por
consagrar esta orientação, assim com o projecto da construção de
um Estado Socialista e a criação de um Homem Novo.
O modelo da nova
sociedade, era segundo Samora Machel, o experimentado nas Zonas
Libertadas durante a guerra colonial. Na sequência destas posições
são tomadas um conjunto de medidas, tais como:
Planeamento
centralizado. Tudo passa pelo Estado, e este confunde-se com o Partido
(Frelimo) que tudo controla e dirige. Quem ousa colocar em causa o
Partido é rótulado de ignorante, tribalista, traidor, colonialista,
etc., e reenviado para um campo de reeducação inspirado nos modelos
chineses, soviéticos ou cubanos;
Aldeias
comunais. Os aldeamentos tradicionais forma substituídos por um
modelo esteriotipado definido pelas cúpulas do Partido (Frelimo). Em
cerca de 5 anos, mais de 2 milhões de camponeses foram transferidos
para estas aldeias construídas em lugares definidos pelo Estado,
perdendo deste modo as suas raízes à terra onde haviam nascido.
O entusiamo revolucionário
inicial cedo acabou por dar lugar à intriga entre os dirigentes, ao
despotismo dos membros do Partido, à paralesia da máquina do Estado.
A população
desapossada das suas aldeias, transferida à força para terras e
aldeias sem história, acaba numa surda revolta apoiando todos aqueles
que querem derrubar o novo regime.
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Linha
da Frente
A seguir à Independência,
de forma unilateral Moçambique, resolve aplicar integralmente as sanções
decretadas contra a Rodésia, encerrando as fronteiras, fechando os
portos, linhas de caminho de ferro e estradas aos produtos de e para
este país. Moçambique torna-se igualmente na principal base para os
guerrilheiros da ZANU, o movimento nacionalista que combate o regime
branco da Rodésia (Zimbabué)
Moçambique apoio o ANC
no seu combate contra o regime branco na África do Sul.
O preço a pagar por
estas posições, como era de esperar seria demasiado alto. A reacção
destes países não se fez esperar. A Rodésia promoveu um movimento
de guerrilha, a Renamo. A África do Sul, fechou as portas à preciosa
emigração de moçambicanos para as minas do transval.
A sobrevivência de Moçambique
passou a estar ligada ao rápida queda dos regimes brancos da Rodésia
e da África do Sul, assim como aos crescentes apoios vindos do
ex-Bloco da União Soviética.
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Renamo
A Renamo foi de inicio
um grupo de mercenários recrutados pelos serviços secretos da Rodésia,
onde tinha aliás a sua base de apoio. O seu objectivo era
desestabilizar o Governo de Moçambique, obrigando-o a recuar nas suas
posições e eventualmente a provocar uma mudança de regime. As suas
acções eram marcadas por uma enorme ferocidade: massacres de populações,
destruição de infra-estruturas, etc. A imprensa internacional,
alinhava com a Frelimo, classificando a Renamo, como "Bandidos
Armados", cujo principal actividade era espalhar o terror entre
as populações, matando, roubando, destruindo tudo o que não
conseguiam levar e violando as mulheres que encontravam.
Apesar de ter cessado o
apoio da Rodésia, em 1980, a Renamo prosseguiu a sua actividade,
transferindo a sua sede para a África do Sul. A guerra civil
devastava em meados dos anos oitenta todo o território moçambicano.
O Acordo entre Moçambique
e a África do Sul, em Inkomati, acabou por não limitar a acção da
Renamo. Muito pelo contrário. Esta contava com um crescente apoio da
população, o que lhe permitia actuar em todo o território moçambicano,
não carecendo de grandes apoios externos.
No plano internacional,
a Renamo deixa de ser vista como um grupo de criminosos, para ser
encarada como um grupo de combatentes da liberdade contra os regimes
marxistas.
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A
Guerra Civil terminou, em 1992, sob a égide da Igreja Católica. O
resultado de 27 anos de lutas foi um país devastado, uma população
esfomeada vivendo de ajudas distribuídas pela comunidade
internacional. Esta é a única conclusão que recolhe a largo
consenso. |
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