Continuidades e
Rupturas da 3ª. República
A República que terminou em 1926
e a que se iniciou em 1974, apesar das enormes diferenças, têm muitas coisas
em comum.
1. Antigos e Novos
Republicanos
Uma das diferenças das mais evidentes
diferenças entre os republicanos da primeira e da terceira república, é a ausência de valores patrióticos
dos novos republicanos.
Os antigos republicanos
(1910-1926) faziam questão de afirmarem publicamente os seus valores patrióticos, caindo
frequentemente num nacionalismo doentio.
Os novos republicanos, nascidos
do derrube da ditadura, em 1974, nasceram sob o lema do internacionalismo
proletário. Promoveram ao longo dos anos um afastamento dos portugueses do seu próprio
país.
Nos anos oitenta, muitos destes
novos republicanos passaram do internacionalismo para o iberismo, participando
activamente em campanhas para denegrir a imagem de Portugal. Os símbolos
nacionais começaram a ser completamente banalizados. O futuro do país,
enquanto projecto colectivo, é uma ideia que lhes é estranha.
Dois exemplos:
Os orgãos de Comunicação
Social, como a TVI, jornal Público, o Sol ou mesmo o Expresso,
que no passado recente se destacaram a intoxicar a população portuguesa com ideias
iberistas, passaram a promover acções destinadas a derrubar governos,
fazendo acusações sem ouvir os visados, etc,etc, etc, O seu lema é apenas um:
"quanto pior melhor".
Pegou moda em Portugal nos
protestos políticos contra o governo, içarem-se bandeiras espanholas e
cantarolar "E viva Espanha", como aconteceu em
Valença do Minho (6/4/2010), perante a passividade das novas autoridades
republicanas que assistiam a este vergonhoso espectáculo. Os presidente da
república, remeteram-se ao silêncio perante estas acções que colocam em
causa a sua função como garantes da unidade e dos símbolos de Portugal. Uma
bandalhice !
Os novos republicanos, educados
numa cultura que denegriu de forma sistemática a história de Portugal,
mostram-se dispostos a trocar de nacionalidade como quem troca de camisa, desde que
uma empresa estrangeira lhes
ofereça um bom emprego ou um negócio rentável e pouco trabalhoso.
A maioria dos novos
republicanos tem convicções pouco firmes em relação a tudo, inclusive sobre
o futuro do próprio país.
2. Corrupção
Um dos cancros da monarquia
constitucional (1820-1910) e depois da primeira república foi a corrupção
política, nomeadamente ao nível local (presidentes das câmaras e juntas de
freguesia). Neste domínio nada mudou em Portugal, a corrupção continua
solidamente implantada. A grande diferença está nos valores envolvidos, que
são hoje muito superiores aos que eram no passado.
As consequências tornam-se
também mais nefastas. Um dos seus resultados é a desordem urbanística
que destruiu solos férteis, provocou danos consideráveis na costa,
descaracterizou cidades inteiras, arruinou o património histórico, deixando
para as gerações uma pesada herança em termos sociais e
económicos.
3.Imprensa Sensacionalista
Os jornalistas da primeira
republica eram conhecidos pela sua falta de rigor e objectividade. Viviam dos
escândalos e da intrigalhada política. Os da terceira republica são, com
raras excepções, simples continuadores do pior jornalismo que alguma vez se
praticou em Portugal. Á semelhança do seus congéneres do passado assumem-se
como meros serventuários de grupos económicos, forjando notícias de acordo
com interesses dos mesmos.
Dois exemplos:
O dono do jornal Publico não
conseguiu comprar a PT (empresa de telefones), e acusou do facto o governo. O
jornal,como resposta, não tardou a envolver-se numa longa campanha contra o
governo que supostamente teria lesado o referido empresário.
O jornal Sol, estando à beira da
falência, necessitou de um grande empréstimo bancário. Os seus donos
entenderam que o mesmo tinha que lhe ser concedido por o banco do estado (CGD).
Como o crédito não lhe foi concedido, o jornal lançou uma campanha para
denunciar o ataque que estava a ocorrer contra liberdade de imprensa em
Portugal.
4. Partidocracia
5. Estado de Excluídos versus
Estado de Cidadãos (bloqueado).
A 1ª. República criou assentava
num sistema político que excluía 90% da população da participação
política. A percentagem dos votantes no conjunto total da população andava à
volta dos 6%. As eleições legislativas não tinham qualquer representatividade
democrática, serviam apenas "legitimar" a ditadura do Partido Democrático.
Os políticos republicanos
assumiam-se como uma espécie de casta de iluminados conduzindo um vasto rebanho
- o povo. As mais destacadas figuras da República, como Afonso Costa, não
passaram de reles demagogos que se viviam a sugar o Erário Público.
A 3º. República para além
de possuir um sistema partidário que continua bloquear a participação dos cidadãos, tem sido marcada por
três
pecados capitais da 1ª. República:
a ) O princípio do "Serviço
Público republicano" foi substituído literalmente pela tomada de
"posse da coisa pública". Os políticos na 3ª. República
entendem que o Erário Público é algo que lhes pertence a partir do momento
que passam a exercer uma dada função pública, neste sentido nem lhes passa
pela cabeça prestarem conta dos seus actos, nem sequer da forma como geriram os
bens públicos.
Aproveitam-se dos cargos públicos no
Estado e autarquias, nas empresas publicas ou bancos do Estado, para acumularem
fortunas em vencimentos, reformas e privilégios ao pior estilo das repúblicas
do 3º. mundo. O Estado português continua a ser marcado pelo mais
completo desperdício e irresponsabilidade política dos seus dirigentes.
b ) O princípio da "Austeridade
republicana", uma das "virtudes" tão apregoadas do republicanos como manifestação do seu especial respeito pelo bens públicos,
converteu-se no na 3ª. República em esbanjamento da coisa
pública. Bandos de políticos gerem de forma perdulária os recursos públicos,
numa lógica de "pão e circo" muito ao gosto do Império Romano.
três exemplos:
O presidente do
Banco de Portugal ganha mais do que o presidente do Banco Federal do Estados
Unidos.
Em 2010, a RTP (canal público) comparava o custo da Casa Real de
Espanha com o da Presidência da República Portuguesa. Em valores absolutos, a
república em Portugal custa o dobro da monarquia em Espanha! A corte que
o orçamento de Estado tem aqui que alimentar é muito superior à que existe no
outro lado da fronteira.
Numa altura que o governo apelava
à contenção de despesas, em 2010, na Assembleia da República os partidos de
esquerda (Bloco de Esquerda, PCP) e os de direita (PSD, CDS), aprovaram o
aumento de ordenados dos presidentes das juntas de freguesia, um dos
principais focos da corrupção em Portugal. Aumentarem ainda mais o
endividamento da Região Autónoma da Madeira, onde desde há muito predomina o
desperdício e a corrupção.
c ) O princípio do "Mérito
republicano", isto é, a obrigação de escolher e premiar os mais
aptos para servir a nação, foi substituído pela constituição de grupos de
características mafiosas. Uma vez atingida uma dada posição de destaque num
cargo público, o chefe de fila do bando, começa de imediato a promover na mais completa impunidade
pessoas cujo único mérito reconhecido é serem seus filhos,
mulheres, maridos, familiares, amantes, prostitutos ou prostitutas, amigos ou simples vizinhos.
Em alguns casos, os novos "republicanos" instalaram no Estado
verdadeiras linhagens monárquicas: os membros de uma dada família, sucedem-se
nos cargos públicos.
Face a este descalabro e
imoralidade, a abstenção tem vido a aumentar em todos os actos eleitorais. Os
cidadãos sentem que o seu voto é inútil para alterar a bandalheira,
desperdício, incompetência e imoralidade que domina o Estado português, provocando o seu
crescente distanciamento da 3ª. República.
6. Parlamentarismo versus
Regime Semi-Presidencial.
7. Estado Mínimo versus
Estado-Providência (tardio).
8. Estado Colonial versus
Estado Pós-Colonial.
9. Estado Soberano versus
Estado de Soberania Partilhada.
10. Nacionalismo versus
Universalismo-Cosmopolitismo.
A 1ª. República (1910-1926)
produziu no contexto do tempo um Estado falhado, dirigido por bandos de
demagogos e arruaceiros, que criaram um sistema político que excluía da
participação cívica a esmagadora maioria da população. A longa ditadura (3º.
República) que se seguiu, não constituiu uma ruptura, mas representou a
continuidade da sua evolução natural.
A 3ª. República que surge em
Abril de 1974, malgrado as tentativas iniciais de militares, como Otelo
Saraiva de Carvalho, que pretenderem imitar Machado Santos, acabou por criar
nos anos 80 um Estado Democrático de pleno direito. O actual regime revela
claros sinais bloqueamento devido a uma justiça que não funciona e a um
sistema partidário que continua a pactuar com políticos corruptos, e afasta a
população da participação cívica.
Carlos Fontes
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