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História da Formação Profissional e da Educação em Portugal

Carlos Fontes

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Idade Moderna - II Século XVIII

 Ensino Artístico

Face aos conceitos do tempo, apenas o trabalho dos arquitectos estava nobilitado, para não se confundir com o do oficios mecânicos. Pintores, Entalhadores, Ensambladores, Ourives, Escultores, Gravadores, e tantas outras profissões hoje consideradas artisticas, eram ainda no século XVIII consideradas como oficios mecanicos, com a marca de trabalho "vil" ou "inferior".

Em rigor esta separação de algumas profissões , para estudar as formas do seu ensino, é um conceito estranho ao tempo, que só se acentua em meados do século XIX.

As grandes campanhas de obras constituíram sempre verdadeiras escolas de aprendizagem, nos mais diversos oficios. No século XVIII, foram-no por exemplo, as obras de Mafra, as de Queluz, e sobretudo a Reconstrução de Lisboa, e no final do século o Palácio da Ajuda. Aqui se formavam os aprendizes, numa experiencia empírica, a que por vezes se formalizava através da instituição de uma "aula"ou uma "escola. Assim aconteceu por várias vezes neste periodo.

1. Escola de Mafra. .Em Mafra, as campanhas de obras iniciadas em 1717, deram origem á Sala do Risco, sob a direcção de João Frederico Ludovice, um ourives alemão, formado em Augsbourg e Roma. Também aqui em 1753, começou a funcionar uma Escola de Escultura, sob a direcção de A. Giusti , que viera para Portugal para montar a capela de S. joão Baptista, na Igreja de S. Roque em Lisboa. Entre os alunos desta escola destaca-se Machado de Castro[1].

2. Casa ou Sala do Risco. Em Lisboa, para a Reconstrução da cidade após o terramoto, foi criado ma Casa do Risco sob a direcção de Eugénio de Castro. Esta Casa que ficou instalada no local onde estavam instaladas as Cavalariças do Palácio Real. Em 1760 a Eugénio dos Santos, por morte deste sucedeu-lhe Carlos Mardel, seguindo-se na direcção desta Casa : Miguel Angelo de Blasco, Reinaldo dos Santos, Manuel Caetano de Sousa, e finalmente José da Costa e Silva.

3.  Academia da Ajuda. As obras do Palácio Real da Ajuda no inicio do século XIX, foram o motivo directo para a criação da Academia da Ajuda, em 1802, e que chegou a ser também denominada "Academia de S. Miguel". No seu ensino de natureza pratica contemplava o Desenho, a Gravura , Escultura, Pintura e Arquitectura. As diversas aulas[2] só em 1826 ficaram subordinadas a uma mesma direcção, funcionando antes com um carácter independente. 

Durante cerca de trinta anos teve uma actividade regular, à frente da qual estarão alguns dos nomes mais importantes da arte do tempo, como Sequeira, Vieira Portuense ou  Machado de Castro. Até 1834 ( ou 36 ?) altura em que foi integrada na Academia de Belas Artes de Lisboa, teve uma frequência de 91 alunos[3].     

4. No Colégio dos Nobres, aberto em 1761 , para o ensino dos meninos nobres, mandou Marques de Pombal que aí se estabelece-se em 1766, uma "Aula de Debuxo e Arquitectura", onde se ensinaria os princípios da arquitectura civil e militar. O milanês M. Ponzoni, que viera para o nosso pais no tempo de D. João V, foi o seu primeiro professor, mais tarde substituído por Joaquim Carneiro da Silva. Os resultados destas aulas foram muito reduzidos.

5. Na Universidade de Coimbra, em 1772, criou-se uma "Aula de Desenho e Arquitectura Civil", anexa á Faculdade de Matemática, mas cujas repercussões foram nulas. 

6. Aula Régia de Escultura em Lisboa, criada por Machado de Castro em 1770 , perdurou até 1834 (?), sempre com grande vitalidade[4]

7. Aula Publica de Debuxo e Desenho do Porto, criada a 27 de Novembro de 1779, por pedido da Junta de Administração da Companhia Geral de Agricultura e Vinhas do Alto Douro. O projecto foi logo aprovado pelo Marques de Angeja, presidente do Erário Publico, que o considerou desde logo de grande interesse para as industrias do norte. 

No ano seguinte era inaugurada a primeira  aula a 17 de Fevereiro, as quais decorriam todos os dias, da parte da tarde, no Seminário dos Meninos Orfãos do Porto ( Colégio da Graça ). A direcção pertencia a António Fernandes Jácome bolseiro em Roma. Artista sem relevo , Jacome manter-se-á á frente do curso até 1800, quando foi afastado para dar lugar ao já famoso Francisco Vieira Portuense, que assume o cargo de Lente de Desenho, o qual veio a abandonar passados dois anos. Os bastante para as aulas registarem uma elevada frequência, atingindo em 1802 os 120 alunos. Facto que levou á transferência das mesmas para o Hospício dos religiosos de Santo António da Provincia da Soledad, no actual Campo dos Martires. Em 1803 perante o abandono das aulas de Vieira Portuense, foi a direcção das aulas assumida por José Teixeira Barreto e Raimundo José da Costa[5]

Esta Aula funcionava em condições idênticas às da Aula de Nautica nesta cidade, sendo as despesas suportadas pelos impostos aplicados á construção e administração das duas fragatas da escolta do comércio para África e Brasil. Os ordenados dos lentes, substitutos e empregados eram pagos pela décima dos accionistas da Companhia e pelo Municipio[6]

Apesar de todas as vicissitudes, e da  integração desta aula na Academia Real da Marinha e Comércio em 1803, o ensino continuou até 1836, dando origem à Academia Portuense de Belas-Artes.   

  8. A Aula Régia de Desenho de Figura e de Arquitectura, surgiu em Lisboa,  a 23 de Agosto de 1781, por iniciativa da Real Mesa Censória. Também aqui o ensino tinha contudo um carácter muito elementar, bastando para ser-se admitido saber ler e escrever e conhecer simples operações de calculo . O curso possuía apenas dois professores: um de desenho de história , ou de figuras e outro de desenho de arquitectura civil. Quanto ao seu conteúdo, José Augusto França descreve-o assim:

    "No curso de desenho copiavam-se estampas e, mais tarde, relevos; na arquitectura aprendiam -se elementos de aritmética e de geometria, as "cinco ordens" vitruvianas, planeamento e noções de solidez, de construção e ornamentação."

Ao longo de quarenta anos de actividade, frequentaram esta aula cerca de 550 alunos, o que atesta a sua importância no tempo, malgrado a fraca qualidade do ensino que lhe è apontada. Em parte devido ao seu desfasamento das novas correntes estéticas, e à qualidade dos seus mestres que ministram um ensino que só raramente sai da imitação servil dos modelos clássicos.

Aquando das invasões francesas, em 1809, Joaquim Leonardo Rocha, filho de professor de desenho Joaquim Manuel da Rocha, da Aula Régia em Lisboa, que se refugiara no Funchal, fundava aí uma aula oficial de desenho e pintura.     

Nos principais estabelecimentos do Estado , ou nas manufacturas cedidas a particulares um outro tipo de aulas de aprendizagem de desenho ou gravura começou também a difundir-se. Dir-se-ia aí que estávamos na génese do desenho industrial que marcou o século seguinte.

Em Construção ! 

Carlos Fontes

Navegando na Educação

Notas:

[1] A Escola de Escultura de Mafra, Armindo Aires de Carvalho. Separata n.19, Lisboa.1964

[2] DEsenho de História, Gravura de Paisagem, Arquitectura Civil, Escultura...

3] Luis Xavier da Costa,O Ensino de Belas Artes nas Obras do Real Palacio da Ajuda ( 1802-1833). Lisboa.1936. Luiz Xavier da Costa, Quadro Histórico das Insstituições Académicas Portuguesas ( I Boletim da Academia Nacional de Belas Artes.1932).

[4] Henrique de Campos Ferreira Lima, Joaquim Machado de Castro.1925

5] Maria José Goulão, O Ensino Artistico em Portugal - Subsídios Para a História da Escola Superior de Belas Artes do Porto, in, Mundo da Arte, Janeiro /Março de 1990. II Série

6] José Coelho dos Santos ( Org.), Origens de Uma Escola . Subsídios Documentais para a História do Ensino de Belas Artes na Cidade do Porto. ESBAP.1980.