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História da Formação Profissional e da Educação em Portugal

Carlos Fontes

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Idade Moderna - II Século XVIII

Ensino de Agricultura, Botânica, Química e Matemática

 

  A reforma da Faculdade de Medicina e a criação de duas novas Faculdades ( a de Matemática e a de Filosofia), em 1772, integram-se num mesmo projecto concebido por José Monteiro Rocha [1].

Esta reforma da Universidade de Coimbra assentava nas novas correntes experimentais muito difundidas neste século. Tendo em vista evitar resistência à reforma todos os lentes existentes na Faculdade de Medicina, por exemplo,  foram jubilados em Setembro de 1772, abrindo-se  assim lugar para a entrada de novos professores[2.

Segundo os novos Estatutos de 1772, entregues pessoalmente por Marques de Pombal, previa-se para apoio ao ensino nestas três Faculdades a criação de um Hospital Escolar, um teatro Anatómico, um Dispensário Farmacêutico, um Museu de Historia Natural, um Gabinete de Física- Experimental, um Laboratório de Química, um Jardim Botanico e um Observatório Astronómico[3]. Ainda em 1774 estavam em curso obras nas novas instalações. Apesar disso os novos cursos começaram logo em 1772, quando faltava o essencial ao novo ensino, o que lhe permitia superar o carácter livresco que antes predominava:

    "Pode-se mesmo dizer-se que, na Faculdade de Medicina e nas Faculdades criadas de novo, foi prematura a abertura das aulas. Com efeito, sendo a nota dominante da Reforma Pombalina - o que lhe dá juz a ser considerada uma das mais avançadas da sua época - a introdução do Espírito Experimental na Universidade, antes da abertura das aulas deveriam ter sido construídos os laboratórios e todas aqueles estabelecimentos científicos sem os quais é impossível a experimentação"[4]

1. A Faculdade de Filosofia é a expressão acabada destas novas ideias, onde filosofia se torna sinónimo de "ciências".O modelo para a criação desta Faculdade terá vindo da Alemanha onde existiam ao tempo Faculdades d`Artes que efectuavam uma síntese entre ciências naturais, filosofia, matemática e história.

  O curso de filosofia[5] , nos Estatutos de 1772 ( Livro III, Parte III), tinha quatro cadeiras: Filosofia Racional e Moral ( um ano); História Natural; Física Experimental; Química Teórica e Prática. Em 1791 era suprimida, por Carta Régia datada de 24 de Janeiro, a Cadeira de Filosofia Racional e Moral, e substituída pela de Botânica e Agricultura. A que juntará depois, em 1801, as aulas de Metalurgia[6]

Entre os professores destas cadeiras cedo se destacaram Felix do Avelar Brotero ( Agricultura e Botânica), José Bonifácio de Andrade e Silva  (Metalurgia),e  (Química).

Os docentes destas cadeiras surgem frequentemente ligados a  projectos muito vastos de investigação e desenvolvimento do país e seus domínios. Não se pretendia uma Universidade fechada sobre si próprio, mas aberta á sociedade.

2. Metalurgia. A criação da Cadeira de Metalurgia, parece ter sido originada por uma projecto deste tipo. Pretendia-se que na mesma fosse inventariado as "imensas riquezas e preciosidades que lhe subministram em Portugal e no Brasil os três reinos da natureza"[7]. José Bonifácio foi investido na categoria de intendente geral das minas do reino, e incumbido de dirigir as casas da moeda, minas e bosques do reino e seus domínios, afim de lhes aumentar a produtividade.

3. Matemática. A Faculdade de Matemática prosseguia a longa tradição pitagórica de associação entre os "números" e os diferentes ramos de actividade, nesta valorizou-se a mecanica. O Curso de matemática[8] era composto de quatro cadeiras: Algebra e Calculo infinitesimal, Geometria, Mecânica e a de Astronomia. Data apenas de 1801 o estabelecimento da cadeira de Hidraulica e Astronomia Pratica[9]. A formação geral dos alunos era completada na Faculdade de Filosofia[10], em Ciências Fisicas e Naturais.

4. Apostilhas. Esta reforma implicou um outro notável investimento: o da tradução e edição de obras para apoio ás diferentes matérias. Pretendendo-se acabar também com o uso das "postilhas" ou "apostilhas", em que os alunos se limitavam a escrever as prelecções dos mestres, e que constituíam o seu único conteúdo de ensino. Constitui-se também um esboço daquilo que mais tarde será consagrado como as "Escolas Politécnicas", e depois "Faculdade de Ciências".

Para além da falta de instalações e manuais adequados nas novas Faculdades, ficou por resolver a grave questão do emprego dos alunos formados em "filosofia" e em "matemática" [11]. O assunto nunca foi cabalmente resolvido, o que motivou a falta de candidatos a estas Faculdades[12]  

 

Em Construção ! 

Carlos Fontes

Navegando na Educação

Notas:

[1]. Cartas do Dr. José Monteiro a D. Francisco de Lemos de Faria Pereira Coutinho, in, O INstituto, Vol.XXXVI. Coimbra.1889.pag.513.

[2]. J. Ferreira Gomes, O Marques de Pombal e as Reformas do Ensino, Liraria Almedina. Coimbra.1982.pag.75.

[3] Reorganizado por Carta Régia de 4 de Dezembro de 1794

[4]. J. Ferreira Gomes, b.cit., pag.80 ?

[5] Simões de Carvalho, Memórias da Faculdade de Filosofia

[6]Carta Régia de 31 de Janeiro de 1801

[7]Memórias Sobre o Estabelecimento da Cadeira de Metalurgia. Mns.do Arq. Nac. Torre do Tombo. Arq. Min. do Reino. Maço.520. citado por Rafael Avila de Azevedo,op.cit.

[8]Castro Freiro, Memória da Faculdade de Matemática

[9]Carta Régia de 1 de Abril de 1801

[10]. F. Gomes Teixeira, História da Matemática em Portugal.pag.228 ?

[11]. Romulo de Carvalho, História da Educação em Portugal.

 [12]. Em 1772  matricularam-se 8 alunos a matemática e 4 a Filosofia. Em 1777, a Faculdade de Matemática não tinha alunos, e o curso de Filosofia continuava com os mesmos 4... Em 1800/1801, a situação melhorou bastante, comparativamente a outras Faculdades, contando-se na Faculdade de Matemática 235 alunos, Filosofia Natural 204, e em Medicina 135, Teologia 20, Leis 274 e por Último Canones 219. No entanto, os dados enganam-nos porque a maioria das frequencias dos alunos das Faculdades de Matemátiica e Filosofia destinavam-se a Medicina.  

 

]. E.