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História da Formação Profissional e da Educação em Portugal

Carlos Fontes

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Idade Moderna  (século XVIII)

Medicina, Cirurgia, Farmácia e Enfermagem

O ensino ligado ás várias actividades ligadas á saúde, possuía já no século XVIII uma significativa tradição. A crescente especialização dos hospitais, com uma organização mais complexa e laica, ajudou naturalmente a estruturar as profissões ligadas a este sector, cada uma com os seus estatutos e tradições próprias.

1. Medicina.   No século XVIII, o ensino da medicina que era praticado na Universidade de Coimbra, tornou-se no alvo principal das criticas de estrangeirados, como Castro Sarmento, Ribeiro Sanches ou Luis António Vernei faziam ao ensino em Portugal. Tal era o estado de decadência em que o mesmo caíra. A nova medicina de carácter experimental, que tantos progressos havia obtido desde o século XVII estava quase ausente da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra. O atraso neste domínio era confrangedor.

No reinado de D.João V, havia-se tomado algumas medidas: em 1721 fora instituída uma "nova anatomia", chamando-se para a ensinar reputados professores estrangeiros, como Dufan, de quem foi aluno o célebre Manoel Constancio. Algumas iniciativas particulares procuraram em Lisboa e Porto difundir os novos conhecimentos. Coimbra manteve-se fiel á tradição.

A Reforma pombalina de 1772 pretendeu cortar o mal pela raiz, reformulando por completo o ensino de medicina, segundo principios experimentais. Teoria e pratica estariam a partir daí interligadas, acabando-se com os métodos escolásticos.  Para isso a Faculdade seria dotada, segundo os novos Estatutos, de importantes meios: um Hospital Escolar; um Teatro Anatómico; Uma sala para Operações Cirurgicas e um Dispensário Farmaceutico. Os cursos no entanto iniciaram-se sem que estes novos meios estivessem já criados. Basta dizer que só em 1800 estava concluído o importante Teatro Anatómico. Tinhamos um ensino experimental, sem meios para fazer experiencias. O novo curso tinha a duração de cinco anos, e cinco cadeiras: 

1. Cadeira de Matéria Médica (1 ano), com livros de Matéria Médica; 2. Cadeira de Anatomia ( 2. ano), com o livros de Hister "Compendio de Anatomia";3. Cadeira de Instituições (3. ano), dada pelos livros de Heller ; 4.Cadeira de Aphorismos (4. ano), dada pelos livros de Aphorismos de Hipocrates e de Boehraare; 5. Cadeira de Prática ( 5 ano ). 

O curso já não era tão generalista como antes, mas a incorporação de novos conhecimentos continuavam a ser muito lenta. Faltava contudo o essencial: os alunos.

A adesão a este curso, como aos de Filosofia e Matemática foi quase nula. Entre 1772 e 1777 , não foi frequentado por mais de 50 alunos por ano, em compensação o curso de Canones e Leis, só em 1777 contava 500 alunos. Dando conta desta situação escrevia-se, neste ano: 

"O obstáculo maior que actualmente há para que floresçam estes estudos médicos, como se esperava é a grande falta de estudantes que se experimenta na aula: a qual falta desanima os professores, tira o vigor do calor aos estudos , e priva os povos de professores na arte"[11]  

A situação foi-se contudo alterando, assim em 1800/01, já frequentavam esta Faculdade 135 alunos, e uma boa parte dos 235 alunos da Faculdade de Matemática, e dos 204 da de Filosofia Natural eram candidatos a esta Faculdade.

Em 1783, numa nova reforma é estabelecido por Carta Régia de 4 de Junho de 1783 uma cadeira de Therapeutica Cirurgica, a qual foi igualada á de matéria médica já existente.

Poucos anos depois choviam de novos as criticas, pelo atraso em que tinha de novo caído este ensino. O autor de "Reino da Estupidez", não poupa a Universidade de Coimbra.

2. Cirurgia. Este ensino não pode ser confundido, com o da medicina. Eram muitas as diferenças, tantas como as que existiam entre as "artes liberais" e as "artes mecânicas".

No Hospital de Todos-os-Santos, já no século XVI surgia este ensino: o cirurgião interno tinha a obrigação de ler, uma hora por ia, uma lição de anatomia a dois jovens que o auxiliassem. Em 1764  por iniciativa de Manuel Constancio[12], no Hospital de Todos-os-Santos foi estabelecido o primero curso de cirurgia, depois transferido para o Hospital de S. José e que durará até 1806. Um feito em terras lusas.

No Hospital da Misericórdia no Porto, à semelhança de Lisboa, também aí se organizou um curso idêntico. Uma experiencia ideêntica ocorreu no Seminário de S. Caetano em Braga.

Durante o reinado de D. Maria I, abriram-se escolas de cirurgia militar em Elvas, Tavira, Chaves, Porto e Lisboa, mas foram encerradas em 1815.

3. Farmácia.  No reinado de D. João VI foi tomada uma medida de largo alcance: a obrigatoriedade das prescrições médicas serem feitas em português, e não em latim. Este facto estimulou o aparecimento na nossa língua de uma enorme quantidade de obras sobre farmácia, que a seu tempo analisaremos.

A Reforma pombalina da Universidade de Coimbra constituiu um poderoso estimulo para o desenvolvimento deste ensino. No hospital Escolar da nova Faculdade de Medicina, foi instituído um Dispensário Farmaceutico.

A formação dos boticários na Universidade, passou a feita da seguinte forma: Durante dois anos, os candidatos exercitavam-se no Laboratório Química, no qual se matriculavam na qualidade de operários. Ingressavam então no Dispensário como praticantes de farmácia, trabalhando com o boticário durante dois anos. Findo este período, submetiam-se a exame perante o lente de matéria médica e seu demonstrador[14]

O número máximo de alunos não podia ultrapassar os dez: cinco no Laboratório e os outros no Dispensário.

Uma das medidas mais importantes desta reforma foi também  a reunião numa mesma obra de todas as "receitas" existentes, surgindo assim a "Farmacopeia Geral".  As reformas empreendidas por Marquês de Pombal estavam todavia condenadas pela falta de adesão dos aluno, por isso pouco adiantaram.

A Universidade de Coimbra estava fechada sobre si própria. A maioria dos farmacêuticos em exercício obtinha as suas "cartas de exame" sem passar pela Universidade, recorrendo apenas ao físico-mor.

Em 1736 por insistência da Sociedade de Farmacêutica Lusitana, o ensino de farmácia será não apenas reformado, como acompanhado de medidas que lhe permitem um maior êxito.

4.  Enfermagem. A enfermagem desde a Idade média tinha uma carácter essencialmente caritativo, sendo frequentemente assumida por religiosos. Este facto traduziu-se num continuou divórcio entre os médicos e os enfermeiros religiosos, que obedeciam apenas às ordens das autoridades religiosas.

"Só em 1690, S. Vicente de Paulo conseguiu que as irmãs de caridade enfermeiras atendessem ás indicações dos médicos; até aí era ao sacerdote que deviam obediência"[15] .

Os enfermeiros laicos que se começaram a impor no hospitais a partir do século XVI, parecem que inicialmente eram recrutados entre delinquentes ou vadios, situação que se manteve até ao século XVIII [16].

Os enfermeiros no inicio dificilmente se distinguem dos serventes e os auxiliares dos médicos. No século XVI, no Hospital de Todos-os-Santos haviam já cerca de 4 enfermeiros maiores, 1 enfermeira, 7 enfermeiros pequenos e 1ajudante.

5. Parteiras.

Em Construção ! 

Carlos Fontes

Navegando na Educação

Notas:

[11]. Relacção Geral de 1777....

12] Manuel Constancio (1726-1817), barbeiro, sangrador, anatomista e cirurgião famoso, foi o pai do não menos conhecido Francisco Solano Constancio (1777 -1848)

[13] Fortunato de Almeida,

14] O lente possuia no Dispensário uma sala própria para lições e demonstrações.

15] Maria Palmira Tito de Morais, Enfermagem Cientifica . Considerações á cerca da sua evolução Histórica. Sep. do Jornal do Médico,Vol. VII. 655-662.1946

[16] Maria P. Tito Morais, op. cit., pag.8.