Um país vendido a retalho (2014)

 

 

Uma coligação de dois partidos de direita (PSD e CDS-PP), em Junho de 2011, tomou conta dos destinos de Portugal.

Assumindo um programa ultra-liberal procurou reduzir o Estado à sua expressão mínima, vendendo  tudo o seja susceptível de gerar receitas, para pagar uma dívida pública que nunca pára de aumentar, passando de 92% do PIB em 2010 para mais de 130% em 2014 !

O Ministério da Cultura foi reduzido à condição de Secretaria de Estado da Cultura (SEC), e confiando à tarefa da venda a retalho de Portugal.

Francisco José Viegas que se havia notabilizado durante os governos de José Sócrates (2005-2011), pelos seus comentários mordazes nos programas televisivos, acabou premiado com o cargo de Secretário de Estado da Cultura. A sua passagem pela SEC foi marcada por alguns acontecimentos singulares:

a) Durante vários anos recusou-se a entregar a sua declaração de rendimentos e de património. Devido a dívidas ao Fisco as finanças de Cascais penhoraram-no. O ministério publico pediu a sua condenação, mas devido a um erro no processo acabou ilibado. Como prova do seu desprezo que mostrava por estas coisas das finanças públicas, afirmou que se algum fiscal das finanças lhe exigir fatura terá "de lhe pedir para ir tomar no cu".

b) Autorizou a saída do país e a venda no estrangeiro de uma pintura do mestre italiano Carlos Crivelli  (Venice 1430? – Ascoli Piceno 1495), um "tesouro nacional" que na altura estava na posse do especulador Miguel Pais do Amaral.

c) O orçamento da cultura em 2011 desceu para 0,25% do PIB, o valor mais baixo desde os anos 80.

d) Acabou com as entradas gratuitas aos domingos de manhã nos museus e monumentos públicos. Os produtos culturais, com excepção dos livros, passaram a ser taxas a 23% no IVA.

e) Promoveu uma reforma da SEC, repleta de aberrantes fusões, sem que das mesmas tenha resultado qualquer ganho em custos ou eficiência nos serviços.   

De embrulhada em embrulhada a 25 de Outubro de 2012 acabou por pedir a demissão, por manifestamente não reunir os requisitos mínimos para o cargo que ocupava. 

O primeiro ministro (Passos Coelho) substituiu por Jorge Barreto Xavier a personagem que lhe faltava na área da cultura: o agente liquidatário do património público.

Enquanto o governo vendia a retalho as grandes empresas públicas e as participações do Estado em empresas estratégicas, esta aberrante criatura procurava mostrar serviço, recorrendo a todos os meios para se desfazer de uma coleção de 85 obras de pintura de Joan Miró, que passou a integrar o património público em consequência da falência (fraudulenta) do BPN. Este caso só por si passará a ilustrar a política cultural de um governo que nunca deveria ter existido, sustentado por um presidente da república sinistro.

Femmes et oiseaux (Mulheres e pássaros) (1968)

 

O envolvimento destes dois secretários de estado do PSD, como facilitadores de negócios da venda de obras de arte indicia uma atividade muito querida aos militantes deste partido. O melhor exemplo desta corrente partidária foi Duarte Lima, líder parlamentar do PSD. Como o próprio declarou à comunicação social, amealhou uma enorme fortuna em Portugal com a venda de obras de arte.

Carlos Fontes

 


Entrada | Editorial | Cibercultura | Lusofonia | Livros | Artes | Património | Política | Indicadores | Contactos

Contacto: