1.Após 23 anos de
democracia, o problemas dos arquivos, começam a colocar-se com uma nova
acuidade, não se tratam já dos fundos históricos, mas a preservação
das enormes massas de documentação mais recente existentes nos
organismos públicos.
A principal novidade,
introduzida pela nova equipa governativa que tutela a cultura, foi a sua
utilização como instrumento de guerra ideológica. Começa-se por
denunciar situações reais, para logo a seguir se inventar outras para
ocultar incapacidades reais de actuação.
Depois de Outubro de
1995, a primeira grande polémica, inicia-se com a constatação do
desmembramento dos arquivos com a documentação do período da
revolucionário. Torna-se claro a mesma se encontra a saque. O exemplo,
paradigmático, foi o desaparecimento das Actas do Conselho da Revolução.
Ninguém sabe onde elas param. Passado a polémica, nada foi feito. Logo
a seguir, constata-se também que nos arquivos da Fundação Mário
Soares existe vasta documentação dos governos por onde passou e até
da presidência que exerceu. Duas situações, duas realidades
similares, nenhuma acção de fundo.
A preservação da
documentação do regime anterior está também longe de ter qualquer
medida coerente. Se os aquivos da PIDE e da Legião Portuguesa foram
integrados na Torre do Tombo, os arquivos do antigo SPN, SNI e SEIT, que
permitiriam perceber o funcionamento da política cultural e informativa
estão a ser desmembrados, apesar do conhecimentos directo dos membros
do governo da tutela.
O Secretário de Estado
da Comunicação, Arons de Carvalho, em Outubro de 1995, prometeu dar
uma solução para os arquivos do Pendão (Queluz) e do Palácio Foz, já
objecto de graves desmembramentos. O Ministro da Cultura, Manuel Maria
Carrilho, sobre os núcleos das áreas da cultura foi também informado
da grave situação que se encontram os arquivos, com a documentação
que permitirá perceber desde 1926 a 1980, os desenvolvimentos da política
cultural nas suas diversas vertentes. Apesar de lhe terem sido
apresentada uma proposta urgente para a os núcleos existes nos arquivos
do Pendão, Belém (instalações para o futuro museus do coches) e no
Palácio Foz, preferiu ignorar a questão.
Neste capitulo, Fernando
Rosas, tem também denunciado outra realidade do problema, os arquivos
que estão fechados aos investigadores, caso é o caso dos arquivos
militares.
2. No meio destas
constatações de factos, a mentira descarada, tem igualmente
predominado, para servir os interesses de propaganda do novo governo.
Rui Vieira Nery, num
encontro com os grupos de teatro, em fins de 1996, denunciava a destruição
da documentação sobre o teatro em Portugal, atribuindo a sua culpa ao
governo anterior. Desta forma procurava desculpar-se da ignorância que
revela desta actividade. Só que escondeu que correntemente pede informações
aos serviços, que consultam nos arquivos da ex-Direcção-Geral dos
Espectáculos e no Instituto Português de Artes Cénicas, os largos
milhares de processos aí existente sobre teatro, devidamente
actualizados, o que aliás não poderia ser de outra forma. Ele
desconhece que existe na administração pública, uma entidade
denominada Tribunal de Contas, que inclusive já emitiu pareceres sobre
os mesmos.
Fernando Rosas, no Jornal
o Público, para agradar à nova equipa dirigente do Instituto de
Arquivos/Torre do Tombo, dirigida pelo seu colega de Faculdade, o
historiador José Matoso, vem a público falar de incorporações na
Torre do Tombo, que sabia já terem sido feitas à anos...
Na Torre do Tombo, começou-se
por denunciar a existência de tipografias que trabalhavam ao serviço
de dirigentes anteriores, para depois se afirmar que nem sequer eram
seguidos os mais elementares princípios de gestão dos sistemas informáticos.
Em fins de Junho de 1997, constata-se que a mesma incapacidade da sua
gestão continua - cerca de 40% dos dados dos novos ficheiros são
apagados porque ninguém sabia fazer fazer cópias de segurança...
Neste clima de verdades,
misturadas com mentiras descaradas, começa a ser dificil- sem um
trabalho de arquivo-, destrinçar pela informação veiculada pela
imprensa, o fundamento de certas afirmações que são arremessadas para
a praça pública.
3. A gestão dos arquivos
do Estado, tutelados pela Cultura, apenas se iniciou em 1977, através
da Direcção-Geral do Património (DGP), com a extinção da Junta
Nacional de Educação, no ambito do Ministério da Educação, a quem
cabia estas atribuições. Herdou-as da antiga Inspecção-Geral das
Bibliotecas e Arquivos Públicos, criada por carta de lei de 25 de
Agosto de 1887, sendo mais tarde designada por Inspecção Superior das
Bibliotecas e Arquivos. Recebeu, ainda novas atribuições conferidas,
por força do Dec-Lei 46.348, de 22 de Maio de 1965, da 3ª. Secção da
citada Junta.
A DGP até 1980, pouco
mais fez do que procedeu à elaboração de quadros de pessoal para os
arquivos distritais e integração neles dos respectivos funcionários,
á vencendo pelas juntas distritais.
A criação do Instituto
Português do Património Cultural (IPPC), em 1980, marcou uma fase nova
neste processo. Até 1988, procedeu-se a um vasto conjunto de acções
que é justo destacar:
- Acções de divulgação(
edição do Guia dos Fundos Arquivísticos para a história Nacional, etc)
- Inventariação ( espólio
de Fernando Pessoa, etc)
- Lançamento de uma rede
de arquivos distritais
4. Fruto desta acção de
caracter estruturante , em 1988, foi possível proceder à criação do
Instituto Português de Arquivos ( Dec-Lei 152/88, de 29 de Abril). Para
a sua direcção foi escolhido José Matoso, que procede ao arranque da
política fontista de Cavaco Silva.
- Iniciam-se por todo o
país a construção de novas instalações para os arquivos distritais.
- Elabora-se a proposta
do regime geral dos arquivos e do património arquivístico (1988), que só
virá a ser aprovado em 1992.
Com a entrada de Santana
Lopes em 1990, surgem a incompatibilidades políticas, levando José
Matoso a apresentar o seu pedido de demissão. Aires do Nascimento que
lhe sucede, prossegue a política anterior.
Na Torre do Tombo ficara
de fora do IPA, arrancam as obras do novo edifício que virá a ser
inauguradas em 1990.
5. Com a criação do
Instituto Português de Arquivos e da Torre do Tombo, em 1992, sob a
direcção de Borges de Macedo, prossegue a política anterior.
Na Torre do Tombo,
processa-se uma fase de integrações, possibilitadas pelo novo edificio,
para além de um importante ciclo de exposições.
Nos arquivos distritais,
iniciam-se as inaugurações e o lançamento de novas obras.
6. Após as eleições de
Outubro de 1995, com a nova direcção, denuncia-se muita coisa, mas
ainda não foi possível descortinar qualquer nova orientação de
fundo. No Programa deste Governo não consta qualquer medida para os
arquivos
Afirma-se primeiro que
foi um erro juntar a Torre do Tombo, com os restantes arquivos, para
depois aceitar esta junção. A nova Lei orgânica, nada trás de novo.
Entretanto vão
inaugurando novos arquivos, como obras foram lançadas pelo governo
anterior.
Resta esperar, pelas próximas
novidades neste domínio.
Carlos Fontes
1997.7.4
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