É consensual que a difusão doméstica
de equipamentos que fazem recurso às tecnologias de informação e comunicação
está a revolucionar os nossos padrões culturais. Esta nova tecnopólia apesar
de trazer empolgados os tecnofílicos, está igualmente a deixar a deixar
apreensivos todos os que analisam os seus impactos sociais e ideológicos.
Afinal que revolução está em marcha?
1. Caracterização
Estes equipamentos que fazem uso
de tecnologias digitais podem ser hierarquizados em dois grandes grupos de
acordo com o tipo de exploração- o doméstico e o público.
1.1.Entre os equipamentos domésticos
que tem larga difusão entre nós, contam-se os computadores, Cd`s, Cd-Rom, os
jogos electrónicos com consolas e actualmente a Internet.
1.2. Os divertimentos continuam a
ser a principal exploração pública destes equipamentos, nomeadamente em salas
de jogos, parques de diversão e parques temáticos.
1.3. Num nível mais baixo de
utilização, estas tecnologias tem vindo a aumentar a sua importância nas
bibliotecas, escolas, museus, etc..
1.4. Mais pontualmente tem vindo
a ser utilizadas em espectáculos e outras manifestações artísticas,
permitindo desta forma desenvolver novas concepções de espectáculos.
2. Mitos
As novas tecnologias estão
impregnadas de mitos, que tendem a ocultar os seus efeitos reais.
2.1.O mito do acesso generalizado
ao saber. Para muitos dos estão deslumbrados com as novas tecnologias de
informação, chegamos a um ponto da história da humanidade que qualquer
indivíduo, não importa de que país, nem de que lugar, tem agora acesso ao
"Saber" total da humanidade. Tudo pode ser acedido e consumido através
do computador. Não é preciso procurar, analisar, relacionar, desenvolver.
Basta ligar o computador, escrever o que se pretende e consumir. Dominar estas
tecnologias tornou-se assim, sinónimo de dominar o próprio saber.
2.2. O mito da comunicação
total. Anuncia-se o fim do isolamento, da anómia. A difusão da Internet irá
por milagre colocar todos a falar com todos. O acesso à Internet, tornou-se,
neste caso sinónimo de estar permanente comunicação ultrapassando
definitivamente todas as fronteiras e barreiras que dividiam os homens entre si.
3. As realidades
Apesar da enorme difusão que
estes mitos hoje possuem, a observação da realidade tende a negar estas visões
demasiado optimistas
3.1. O acesso às novas
tecnologias está ainda confinado a uma pequena parcela da humanidade. Ponto
final.
3.2. A maioria dos
utilizadores domésticos das novas tecnologias tende a usá-las como meros
produtos de diversão. Observa-se aliás o seguinte princípio: "Quanto
maior o consumo nesta área, menor é a exploração individual dos
produtos". No limite, o indivíduo que possui-se todos os equipamentos
disponíveis no mercado para acesso à informação terá uma forte tendência
para os transformar em simples ruídos de fundo ou brinquedos a que só
pontualmente recorre.
3.3. A absolescência destes
equipamentos e produtos obedece a ciclos de renovação muitos rápidos, ditada
por lógicas económicas. É preciso dizer também que estas lógicas nem sempre
coincidem com às da procura dum melhor conhecimento. A tendência tem sido aliás
gerar uma mentalidade global de substituição da informação, sem que a mesma
tenha tido tempo para ser assimilada e reflectida. O Desperdício de
equipamentos e informação tornou-se um traços mais notórios desta tecnopólia
em que vivemos. A perda de informação ameaça já a maioria dos suportes,
devido quer à absolescência dos equipamentos e programas informáticos de
leitura, quer devido à simples reciclagem de conteúdos nos suportes
electromagnéticos.
3.4. O saque dos criadores
tornou-se uma das constantes com a difusão das novas tecnologias. Tudo é agora
mais fácil de ser apropriado através da cópia, adaptação ou transformação.
Estamos a caminho de uma nova Idade Média.
4. Que revolução ?
No domínio cultural, importa
rastrear o possível o impacto das novas tecnologias. Infelizmente a informação
apoiada em estudos exaustivos é ainda pouco, não permitindo grandes generalizações.
Parece ser contudo consensual as seguintes tendências:
4.1. A tendência para a assumir
a diversão como um elemento constitutivo do saber.
4.2.A tendência para estimular
um tipo de pensamento pragmático, centrado em torno do conceito de acção. Os
valores, o conflito de interpretações tornar-se-ão cada vez mais incompreensíveis.
4.3. A tendência para reduzir a
informação aos limites dos ecrans dos computadores, tornando-a mais redutora
nos seus conteúdos.
4.4. A tendência para fomentar a
"cultura do homem sentado", símbolo por excelência da Nova Era.
4.5. A tendência para confundir
informação com saber, ou informação com comunicação.
4.6. A reformulação dos novos
mecanismos de segregação social. Os info-excluídos serão os pobres do
futuro.
1997.8.27
Carlos Fontes
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