Carlos Fontes

 S. Vicente, S.Tiago, S. Jorge,

Santo António,

 Nun`Álvares Pereira e Nossa Senhora de Fátima

 

Culto, histórias e ideologias

Se é difícil explicar a popularidade de muitos santos, também não é tarefa simples mostrar as suas relações com o poder e as ideologias. 

No vasto panteão dos santos cultuados em Portugal cinco deles e uma virgem constituem verdadeiros marcos históricos no imaginário colectivo.

Fátima, obra de Salvador Dali (1962), inspirada na 3ª. aparição da Nª.Srª de Fátima (13/07/2017), e em particular na visão do inferno.

Nossa Senhora de Fátima

No século XX surge em Portugal, um culto que marcou a história do catolicismo. Em 1917 enquanto ocorria num extremo da Europa (Rússia) uma revolução social que prometia uma sociedade perfeita e um homem novo,  no outro extremo (Portugal) três crianças lançavam um culto que em breve se transformou numa denuncia internacional do materialismo e do terror totalitário.

As três crianças às quais em 1916 apareceu três vezes um anjo (Anjo de Portugal) e no ano seguinte Nª. Srª. (do Rosário), e depois mais três aparições particulares a Lúcia

As aparições de Nª. Srª de Fátima em 1917, sempre no dia 13 de cada mês entre Maio e Outubro, com excepção de Agosto que foi a 19, sempre seguidas por um número crescente de pessoas, a última por cerca de 60 mil. A sociedade portuguesa divide-se sob a verdade dos relatos das crianças. Duas morrem pouco depois: Francisco Marto (1908-1919) e Jacinta Marto (1910-1920), só sobrevive Lúcia (1907-2005) para prolongar as revelações. O crença nas aparições vai-se instalando e difundindo, assim como a imagem da Nª. Srª., num continuo processo construtivo do sagrado.

A imagem da Nª.Srª. foi encomendada em Braga em 1919, e corresponde à iconografia de Nª.Srª. da Lapa, com 1,10 metros de altura, esculpida em cedro do Brasil.

A primeira república em Portugal (1910-1926), numa persistente posição anticlerical, procurou contrariar por todos os meios a difusão do culto de Fátima, mas sem resultado. No final dos anos 20 o número de peregrinos ultrapassa os 100 mil. O bispo de Leiria envolveu-se directamente na sua promoção, declarando em 1930 que as aparições eram dignas de crédito.

O Vaticano não ignora o que ocorre em Portugal. O papa Pio XI (1922-1939), em 1929, benze uma imagem de Nª. Srª de Fátima destinada ao Pontifício Colégio Português de Roma. No ano seguinte, a 1 de outubro de 1930, concede indulgências plenárias aos peregrinos de Nª.Srª. de Fátima. Na Carta Apostólica Ex officiosis litteris, de 1934, atestava “os extraordinários benefícios com que a Virgem Mãe de Deus acabava de favorecer” Portugal.

No local das aparições sucedem-se as construções e continuas ampliações, primeiro de uma capelinha (1919) e depois de uma basílica. Um ano depois de Josef Stalin ascender a secretário-geral do Partido Comunista na URSS (1927), começa a ser erguida  basílica de Nª. Srª. do Rosário que será consagrada em 1953, no ano em que o mesmo faleceu. No final do anos 20 o culto de Fátima tem já como missão a "conversão da Rússia".

Em 1933, quando se consolida a ditadura em Portugal, inicia-se em Lisboa a construção da Igreja de Nª. Srª. de Fátima, um projecto de Pardal Monteiro.

Durante a IIª. Guerra Mundial (1939-1945), Lúcia, a única sobrevivente dos videntes, revela e escreve o que a N.S. de Fátima lhe terá revelado no dia 13/7/1917 (o "Segredo"): as duas primeiras partes em 1941 e a terceira foi escrita em 1944, sendo apenas tornada pública em 2000. Depois da visão do Inferno que foi mostrada ás crianças (2), é-lhes dito que se se mantiverem fiéis à lei de Deus e rezarem a Rússia será convertida e o comunismo acabará (3). Por último, aponta-se para um tempo em que os católicos serão martirizados e o papa assassinado (4). O discurso é apocalíptico.

A imagem de Nª. Srª., em 1942, é coroada (5). A coroa pesa 1,2 quilos, tem 313 pérolas e 2.679 pedras preciosas. 

Nesta altura, em Roma, inicia-se a construção da capela de Nossa Senhora de Fátima na igreja de Santo Eugénio (1942 -1951), uma acção de enorme simbolismo.

O papa Pio XII, que havia sido ordenado padre a 13/05/1917, consagra o culto de Fátima. Em 1940 referiu-se a Fátima pela primeira vez num texto pontifício oficial, a encíclica ‘Saeculo exeunte octavo’. Em 1942, a pedido de Lúcia, consagra o mundo ao Imaculado Coração de Maria, conferindo ao santuário uma dimensão global.

A partir de 1946, o culto de Nª. Srª. de Fátima adquire uma dimensão mundial, nomeadamente através das chamadas viagens da Virgem Peregrina (réplicas da imagem de N. S. Fátima), percorrem o mundo e em todo o lado agregam e mobilizam milhões de pessoas para lutarem contra os regimes comunistas e a conversão da Rússia ao cristianismo. A Rússia simboliza o ateísmo e o materialismo.

A frontalidade deste combate ideológico se agrada aos países do Leste da Europa, sob o domínio da antiga União Soviética, não deixa de levantar problemas políticos difíceis de resolver àqueles que se querem manter neutrais. 

O Vaticano encarou com algum distanciamento este movimento ideológico e combativo de milhões de católicos virado para uma acção global. A Igreja Católica opta por posições menos comprometidas, virando-se para o seu interior, nomeadamente para a justificação ideológica do enriquecimento individual dos seus membros (Opus Dei).

As aparições de Fátima, nos anos 50, atingem uma dimensão internacional imparável. Artistas como Tony Bennett (Our lady of Fatima, 1950) cantam em seu louvor. Em Brasília, Oscar Niemayer, projecta a igrejinha de Nª.Sª. de Fátima (1958). O cardeal de Veneza - Angelo Roncalli -, futuro papa João XXIII, vem em 1956 a Fátima, tendo deixado em testamento ao santuário de Fátima a sua cruz peitoral.

A igreja Católica que procura uma aproximação à URSS, mostra-se cautelosa na importância que dá ao santuário. Apenas em 1967 um papa - Paulo VI vem ao santuário de Fátima, numa altura que era já impossível ignorar o fenómeno das aparições. Antes disso, ao encerrar a III Sessão do Concílio Vaticano II, anunciou a sua intenção de enviar uma Rosa de Ouro ao Santuário de Fátima, como efetivamente o fez (21/11/1964). Elvis Presley, grava "The Miracle do Rosary", no album "Elvis Now" (1971).

O papa João Paulo I, cujo papado foi de apenas 33 dias, esteve também em Fátima, em Julho de 1977, então cardeal de Veneza.

A situação mais interessante ocorreu nos anos 80, quando o  papa João Paulo II (polaco) vê nos célebres "segredos" de Fátima a salvação do mundo e o fim para breve do comunismo. Em 1982 vem pela primeira vez a Fátima, agradecer o facto de ter sido salvo de um atentado.

Entretanto em 1989 deu-se a derrocada da antiga União Soviética, o símbolo dos regimes comunistas. Quando à salvação do mundo, não consta que tenham ocorrido grandes conversões de materialistas e ateístas ao cristianismo. No futuro se verá. Dois anos depois, João Paulo II volta de novo a Fátima, em 1991, para agradecer a intersecção de Nª.Srª.  nestes acontecimentos mundiais. A sua última peregrinação a Fátima ocorrerá em 2000, quando se dá a beatificação de dois dos pastorinhos (Francisco e Jacinta).

O novo papa - Bento XVI -, vem também a Fátima em peregrinação (2005), tendo mais tarde oferecido uma rosa de ouro (12/05/2010). Como teólogo, procura dar uma outra interpretação ao fenómeno de Fátima, em vez de Aparições prefere chamar-lhes visões (subjectivas).

Em peregrinação veio também o papa Francisco (2017), para a canonização de dois novos santos (Francisco e Jacinta), oferecendo a terceira rosa de ouro.

Desde 1917 surgiram em todos os continentes milhares de igrejas, santuários e simples altares dedicados à Nossa Senhora de Fátima. Dezenas de milhares das suas imagens percorrem todos os cantos do mundo. Muitas cidades, vilas, aldeias, bairros em toda a parte adoptaram também este nome. Um grande número de organizações foram criadas em vários países para promoverem este culto, agregando largos milhões de pessoas.

Fátima é hoje um dos maiores santuários mundiais da Igreja Católica em termos de peregrinos e de receitas

 

 

   

Nun`Álvares Pereira 

Pode um chefe militar que lutou pela independência e liberdade do seu país ser um modelo de santidade? 

Os portugueses nunca tiveram dúvidas que sim. Pouco anos depois de falecer (1 de Abril de 1431), Nun`Álvares já era objecto de culto da população. O rei D. Duarte, em 1437, solicita junto do Vaticano a sua canonização. O Infante D. Pedro, associa-se ao culto, escrevendo comemoração do ofício litúrgico em latim. 

O seu culto cedo ultrapassou a fronteiras de Portugal, tornando-se internacionalmente num símbolo da luta liberdade contra a opressão. Os irlandeses evocam-no, juntamente com S. Patrício, como protectores da independência nacional da Irlanda.

Fernão Lopes, na Crónica de D. João I, afirma que foi o primeiro de uma sétima idade, em que tudo se renova, sendo ele a "estrela da manhã" que aponta o novo dia (1).

Luís Vaz de CamõesOs Lusíadas, torna-o na figura central da história de Portugal, reclamando para ele a paternidade do próprio país:

"Ditosa pátria que tal filho teve!

Mas antes, pai; que enquanto o Sol rodeia 

Este globo de Ceres e Neptuno 

Sempre suspirará por tal aluno." (VIII, 32,5-8).

 

Aires A. Nascimento, escreve sobre versos: "Foi ele digno filho da sua terra; mas, mais do que isso, por tudo quanto fez, pela liberdade por que lutou, pela defesa que montou e pelas orientações que criou, merece ser apontado como um verdadeiro pai da pátria e por isso ela o lembrará e por ele há-de suspirar" (1).

 

Fernando Pessoa, na Mensagem, transforma a sua espada no símbolo do rumo espiritual do povo português. 

 

Xilogravura da «Crónica do Condestrabre» (1554)

 

Nun`Álvares nasceu a 25 de Junho de 1360, nos Paços de Bom Jardim (actual Cernache do Bonjardim), perto da Sertão. Com 13 anos foi armado cavaleiro, com uma armadura emprestada por D. João, Mestre da Ordem de Avis.Três anos depois casa-se com Dona Leonor de Alvim em Vila Nova da Rainha. Era filho de Alvaro Gonçalves Pereira, prior da Ordem do Crato e neto de Gonçalo Pereira, arcebispo de Braga.

Durante a crise de 1383/85 (6), revelou-se com destemido militar e excelente estratega. O seu triunfo em Atoleiros (Abril de 1384), foi decisivo no apoio a D. João, Mestre de Avis, quando este se encontrava cercado pelas tropas castelhanas em Lisboa. Nas cortes de Coimbra (6 de Abril de 1385) intimidou o grupo que se opunha a D. João. Foi então nomeado Condestável do Reino.

Empregando uma táctica de guerra que implicava uma enorme mobilidade das suas forças, de norte a sul de Portugal, combateu e derrotou os invasores castelhanos, mas também os traidores, que muitos houve, incluindo na sua própria família. 

 

Nos campos de Aljubarrota, a 14 de Agosto de 1383, à frente de 7 mil portugueses, apoiados por ingleses(7), enfrentou e derrotou 40 mil castelhanos, aragoneses e franceses (8), numa batalha onde se jogava a independência e a liberdade do povo português. 

 

D. João I, para além de o nomear Condestável e mordomo-mor, deu-lhe vários títulos: Conde de Ourém (Agosto de 1385), Conde de Arroiolos (1384) e Conde de Barcelos (Outubro de 1385). Deu-lhe também uma enorme fortuna que o tornou na pessoa mais rica de Portugal depois do rei. A sua filha Beatriz casou-se em 1401 com o filho bastardo de D. João I, dando origem à Casa de Bragança, que veio a reinar em Portugal depois de 1640.

Nun`Álvares para comemorar a libertação de Portugal, em 1397, funda em Lisboa, um convento dedicado a Nossa Senhora do Vencimento do Monte do Carmo, que entregou à Ordem do Carmo.

 

Quando sentiu que a independência de Portugal estava segura, não apenas interna mas também externamente, em 1422, com 62 anos entra para o convento que fundara, e onde veio a falecer (1431). Nunca aceitou ser tratado como frei, mas apenas por Nuno de Santa Maria, vivendo como um dos mais humildes.

 

Ao longo dos séculos, Nuno Alvares tem sido alvo de um intenso conflito ideológico, assim como de múltiplas utilizações nacionalistas.

Para a maioria dos portugueses continua a ser o símbolo por excelência de um povo orgulhoso da sua independência e liberdade. Todos os que amam a liberdade e o seu país, identificam-se facilmente com a sua figura. 

 

Os iberistas vêm nele a encarnação de todos os males (cobiça, arrogância, belicismo, etc.),nesse sentido, ao longo da história dedicaram-se a denegrirem a sua memória. Outros, como Alvaro Cunhal (dirigente histórico do PCP), comungando da mesma matriz totalitária, seguiram idêntico caminho. O seu objectivo comum é a desagregação da sociedade portuguesa, não a sua projecção no futuro.   

 

O papa Bento XVI, em 2009, fez a proclamação canónica da sua santidade, para desespero dos espanhóis que desde sempre se opuseram a esta decisão papal.

 

Nun`Álvares tornou-se assim, no mundo católico, no símbolo universal dos que lutam pela liberdade do seu povo contra a tirania que lhes querem impor os invasores.

   

São Vicente

O culto deste santo, originário da região de Valência, teve uma enorme importância em Portugal antes da Independência do país. O seu corpo segundo a lenda foi levado pelo mar até ao Cabo de São Vicente, no Algarve, onde foi erguida uma capela com as suas relíquias. Acontece que entre os séculos VIII e XII, esta região estava sob o domínio dos muçulmanos. A situação representava para os cristãos um verdadeiro sacrilégio à memória do santo. Nas orações ao santo os cristãos faziam questão de o recordar.  

O primeiro rei de Portugal - D. Afonso Henriques -, se serviu desse facto para encorajar os portugueses (cristãos) a combaterem os muçulmanos, reconquistando o território. A lenda diz-nos que quando, em 1147, reconquistou Lisboa, mandou logo uma expedição ao Cabo de São Vicente para trazer o corpo do santo, o qual passou a ser o patrono de Lisboa e da casa real de Portugal

   

São Tiago


A descoberta de um suposto túmulo do Apóstolo São Tiago, na Galiza, foi um dos maiores acontecimentos da Europa. Este facto irá trazer ao Norte da Península Ibérica inúmeros peregrinos contribuindo para enriquecer o santuário de Santiago de Compostela, mas também as cidades e vilas situados nos caminhos que ao mesmo conduziam. As peregrinações geravam enormes rendimentos.

O São Tiago foi também utilizado como um instrumento ideológico na luta contra os infiéis, sendo vulgarmente conhecido em Leão e Castela (Espanha) pelo bélico nome de "São Tiago Mata Mouros". Sob o pretexto de proteger os peregrinos foi criada uma poderosa Ordem Militar - a Ordem de Santiago de Espada que teve um papel destacado na reconquista. 

O problema é que os Castelhanos que se haviam anexado o Reino da Galiza, onde se situava o túmulo do Apóstolo, serviram-se desse facto para controlarem tudo aquilo que lhe dissesse respeito, como peregrinações, Ordens Militares e instituições religiosas. 

Uma situação que se tornou intolerável para os portugueses, nomeadamente durante os muitos conflitos com os castelhanos. Apesar de ser muito popular, no final do século XIV, os portugueses tiveram que se libertar do São Tiago castelhano, secundarizando o seu culto.

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São Jorge

O culto de São Jorge terá sido introduzido em Portugal por cruzados ingleses no século XII. No entanto a sua popularidade só se iniciou verdadeiramente depois da Batalha de Aljubarrota (14 de Agosto de 1385), quando os portugueses com a ajudados pelos ingleses derrotaram os castelhanos apoiados pelos franceses.

Nesta Batalha, Nuno Alvares Pereira segurava um pendão com a imagem de São Jorge. Os portugueses em vez de gritarem por "São Tiago" passaram a gritar por "São Jorge". O sucesso da batalha ditou a difusão do culto do santo. Em agradecimento pela vitória D. Nuno mandou construir a capela de S. Jorge no próprio campo de batalha. O rei D. João I mandou que o castelo de Lisboa tivesse o nome do Santo. 

São Jorge é santo guerreiro que luta contra o mal e as forças invasoras. Um símbolo que se encaixava na perfeição no caso português.

O nome de S. Jorge foi dado a várias paróquias de Portugal, ilhas e fortalezas. Muitos reis e príncipes passaram a ter o seu nome. Foi igualmente patrono de várias ordens militares e religiosas. O seu sucesso foi enorme.

O Santo que já era o padroeiro de Inglaterra (1330), passou a ser também de Portugal (1385), e depois de Aragão (Catalunha), Geórgia e até da Grécia.

No século XVI, o seu culto perdeu muito da sua importância quando a Inglaterra se tornou num país protestante, renegando o Santo. Em Portugal o seu culto permaneceu muito vivo nas camadas populares. No século XVIII, D. José I, decreta que a sua imagem a cavalo devia acompanhar as procissões de Corpus Christi, as mais importantes do país. Os espanhóis ameaçavam mais uma vez invadir Portugal, mas graças à protecção do Santo foram de novo derrotados. 

   

Santo António de Lisboa 


O reconhecimento da santidade do lisboeta Fernando Martim de Bulhões e Taveira Azevedo (1195 -1231), mais conhecido por Santo António ocorreu pouco depois da sua morte. No século XIII já era patrono de cerca de quarenta Igrejas em Portugal. 

No entanto a difusão mundial do seu culto só ocorreu a partir do século XVI, quando se tornou no santo nacional dos Portugueses. Como muitos outros portugueses, também saiu da sua terra e sem desfalecimento difundiu o cristianismo, morrendo longe da sua pátria, com a mesma determinação e humildade com que partiu. 

Os marinheiros portugueses foram os grandes promotores do seu culto pelo mundo, identificando-se com as histórias da sua vida e esperando nas horas más a sua protecção e milagres.

O Santo tornou-se protector de quase tudo o que os portugueses entenderam como necessário: ajudante de combates, protector de naufragos, casamenteiro, pesquisador de objectos perdidos, curador de doentes e de animais, etc, etc. Não há santo mais multifacetado do que Santo António de Lisboa..

   

Carlos Fontes 

 

 

 

Notas :

(1) Aires A.Nascimento, Nuno de Santa Maria - Fragmentos de memória persistente. Associação Regina Mundi dos Antigos Alunos da Sociedade Missionária Portuguesa / Câmara Municipal da Sertã. Abril de 2010. Obra de leitura de leitura obrigatória, com bibliografia actualizada.

(2) "Nossa Senhora mostrou-nos um grande mar de fogo que parecia estar debaixo da terra. Mergulhados neste fogo os demónios e as almas, como se fossem brasas transparentes e negras ou bronzeadas com forma humana, que flutuavam no incêndio levadas pelas chamas que delas mesmas saíam, juntamente com nuvens de fumo, caindo para todos os lados, semelhante ao cair das faúlhas em os grandes incêndios, sem peso nem equilíbrio, entre gritos e gemidos de dor e desespero que horrorizava e fazia estremecer de pavor. Os demónios distinguiam-se por formas horríveis e asquerosas de animais espantosos e desconhecidos, mas transparentes e negros. Esta vista foi um momento, e graças à nossa boa Mãe do Céu, que antes nos tinha prevenido com a promessa de nos levar para o Céu (na primeira aparição)! Se assim não fosse, creio que teríamos morrido de susto e pavor." (1ª parte)

(3) "Em seguida, levantamos os olhos para Nossa Senhora que nos disse com bondade e tristeza:
Vistes o Inferno, para onde vão as almas dos pobres pecadores. Para as salvar, Deus quer estabelecer no mundo a devoção a meu Imaculado Coração. Se fizerem o que eu disser salvar-se-ão muitas almas e terão paz. A guerra vai acabar, mas se não deixarem de ofender a Deus, no reinado de Pio XI  (1922-1939) começará outra pior. Quando virdes uma noite, alumiada por uma luz desconhecida,[3] sabei que é o grande sinal que Deus vos dá de que vai punir o mundo pelos seus crimes, por meio da guerra, da fome e de perseguições à Igreja e ao Santo Padre. Para a impedir virei pedir a consagração da Rússia a meu Imaculado Coração e a Comunhão Reparadora nos Primeiros Sábados. Se atenderem a meus pedidos, a Rússia se converterá e terão paz, se não, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja, os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas, por fim o meu Imaculado Coração triunfará. O Santo Padre consagrar-me-á a Rússia, que se converterá, e será concedido ao mundo algum tempo de paz." (2ª. parte)

(4) "Escrevo, em ato de obediência a Vós meu Deus, que me mandais por meio de Sua Excelência Reverendíssima o Sr. Bispo de Leiria, e da Vossa e minha Santíssima Mãe. Depois das duas partes que já expus, vimos ao lado esquerdo de Nossa Senhora, um pouco mais alto, um anjo com uma espada de fogo na mão esquerda. Ao cintilar despedia chamas que pareciam incendiar o mundo. Mas, apagavam-se com o contacto do brilho que da mão direita expedia Nossa Senhora ao seu encontro. O anjo, apontando com a mão direita para a terra, com voz forte dizia: - Penitência, penitência, penitência.

E vimos numa luz imensa, que é Deus, algo semelhante a como se vêem as pessoas no espelho, quando lhe diante passa um bispo vestido de branco. Tivemos o pressentimento de que era o Santo Padre. Vimos vários outros bispos, sacerdotes, religiosos e religiosas subir uma escabrosa montanha, no cimo da qual estava uma grande cruz, de tronco tosco, como se fora de sobreiro como a casca. O Santo Padre, antes de chegar aí, atravessou uma grande cidade, meio em ruínas e meio trémulo, com andar vacilante, acabrunhado de dor e pena. Ia orando pelas almas dos cadáveres que encontrava pelo caminho.

Chegando ao cimo do monte, prostrado, de joelhos, aos pés da cruz, foi morto por um grupo de soldados que lhe disparavam vários tiros e setas e assim mesmo foram morrendo uns após os outros, os bispos, os sacerdotes, religiosos, religiosas e várias pessoas seculares. Cavalheiros e senhoras de várias classes e posições. Sob os dois braços da cruz, estavam dois anjos. Cada um com um regador de cristal nas mãos recolhendo neles o sangue dos mártires e com eles irrigando as almas que se aproximavam de Deus." (3ª. parte)
 

(5) Na coroa será mais tarde colocada uma das balas que atinge o papa João Paulo II no atentado que é alvo em Roma no dia 13/05/1981.

(6) A crise de 1383/85 tem se com o problema de sucessão de D. Fernando, rapidamente revela o mal estar que estava instalado na sociedade portuguesa à época: D. Fernando durante o seu reinado havia previlegiado no reino um grupo significativo de exilados castelhanos e galegos, em detrimento da nobreza portuguesa, sobretudo dos filhos segundos e dos bastardos.

(7) Durante a páscoa de 1385 chegaram a Lisboa e Setubal, cerca de 640 mercenários ingleses, metade dos quais arqueiros, que foram decisivos na Batalha de Aljubarrota e em cercos.

(8) Carlos VI, rei de França, no ambito da aliança Franco-Castelhanha, apoiou esta invasão castelhana de Portugal com cerca de 800 a 1200 cavaleiros.os

 
 

 

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