Medina Sidónia, Capital
do Ducado
Enrique
II de Castela, em 1380, deu o primeiro título de Duque de Medina Sidónio, a
Enrique de Sousa, filho da portuguesa Joana de Sousa. Em virtude deste ter
morrido sem descendência, o título foi no século XV atribuído a uma
família castelhana, que manteve sempre laços muitos estreitos com Portugal.
Colombo
quando saí de Portugal, em 1485, dirigiu-se para os domínios dos Duques de
Medina Sidónia. Foi aqui que encontrou protecção como muitos outros
portugueses. Os motivos para esta recepção eram muitos. Os Duques não viam
com bons olhos a unificação da Espanha (1492), algo que Colombo parece merecer
idêntica desconfiança. Recorde-se que a legenda do seu brasão espanhol
(1493), exclui intencionalmente a referência ao Reino de Aragão. Antes
da sua chegada aos domínios do Duque ( 1 ), já aí se encontravam a residir
nas casas do mesmo ou dos seus familiares quatro dos seus cunhados (Violante Moniz Perestrelo,
Moliart, Pedro Correia e Iseu Perestrelo). Uma prática igualmente seguida por
Colombo. Não eram os únicos portugueses, no local encontravam outros espiões como o Frade João
Peres de Marchena (ou António de Marchena) e muitos nobres envolvidos na
conspirações de 1483-1484 contra D. João II. O Duque dava apoio a todos
eles. Na
hora de partir para as Indias, em 1492 foi daqui que o fez. Palos e Sanlúcar de Barrameda eram portos que pertenciam aos domínios do
Duques. Colombo partiu de Palos em 1492, e depois em 1496 de Sanlucár.
Mais tarde outro português partiu igualmente de Sanlucar - Fernão de Magalhães -
para fazer a primeira viagem de circum-navegação terrestre.
A influencia portuguesa está
assinalada nos dois principais monumentos da cidade:
- A Igreja de Nuestra Señora de
le O, onde também se pode admirar uma pintura do português Vasco
Pereira, que representa o martírio de São Sebastião.
- O Palácio de Medina Sidónia,
construído sobre um ribat árabe, ostenta na fachada uma preciosa grade em ferro
em estilo manuelino, proveniente do Palácio dos duques em Sevilha, e que foi
aqui colada em 1866.
-
Comunidade Portuguesa.
Entre os século XV e final do século XVI em Ayamonte, Huelva, Moguer,
Palos, Cádiz, Sanlucar de Barrameda e Sevilha formaram-se importantes
comunidades de portugueses, para o que terá contribuído: -
A participação de reis portugueses na reconquista da Andaluzia. -
Esta região foi durante o século XIV e XV palco de conflitos armados entre
Portugal e Castela, envolvendo sangrentas batalhas navais. Para além das
rivalidades geraram-se também inúmeras cumplicidades. -
As localidades mencionadas estavam muito
próximas de Portugal e das suas possessões no Norte de África, como Ceuta,
Alcácer Ceguer, Arzila, etc. O abastecimento das mesmas era feito muitas vezes
a partir destes portos andaluzes. Havia muitos interesses em comum. -
A família dos Duques de Medina Sidónia estavam ligadas por laços familiares e
interesses económicos com Portugal. Em
resumo haviam muitas razões para que Colombo escolhe-se esta esta região para
se estabelecer, não lhe faltando apoios
a todos os níveis.
Aspirações Independentistas O
Ducado de Medina Sidónio terá sido o principal centro das operações dos espiões portugueses em
Castela/Espanha desde o século XV até meados do século XVII. Medina
Sidónia foi reconquistada, em 1264, por Afonso X rei de Castela. Em 1280
foi doada por Sancho IV à Ordem Militar de Santiago. Alonso Pérez de Guzmán
(1256-1309), primeiro senhor de Sanlúcar de Barrameda, adquiriu o senhorio de Medina. Em 1430, Juan II
entregua-o a Luis de Guzmán, mestre da Ordem de Calatrava. Em 1445, Juan Alfonso Pérez de
Guzmán, conde de Niebla, recebe o titulo de 1º. duque de Medina Sidónia,
que a partir de 1460 se tornou hereditário. No século XV
os duques eram senhores de Medina Sidónia, Sanlúcar de Barrameda, Niebla, Huelva,
Gibraltar entre outras cidades. Domínios que tinham uma enorme
importância estratégica para Portugal, devido às suas fortalezas no Norte de
África. As
primeiras manifestações de independência na Andaluzia, não foram destes
duques, mas envolveram portugueses. Em 1439 Don Fadrique "Conde de Luna",
Duque de Arjona, filho bastardo de D. Martin I de Aragão, Rei da Sicilia,
resolve transformar a Andaluzia numa república independente, contando com a ajuda de um "frayle portugués de la Orden de Sant Francisco"
(2 ). Era o prenúncio do que se iria seguir, mas agora com o apoio dos reis de
Portugal. Em
meados deste século os duques começaram a manifestar crescentes sentimentos
separatistas, procurando para o efeito o auxilio em Portugal. -
Guerra Civil.
A Guerra Civil provocada pela sucessão ao trono de Castela (1464-1476),
foi aproveitada por Enrique
de Guzmán ( 2º. duque de Medina Sidónia) para coroar-se rei de
Sevilha. -
Guerra da sucessão..O Duque
de Medina Sidónia, coloca-se ao lado do rei português D. Afonso V na sua
luta pela trono de Castela (1475-1481),
chegando prometer a armar navios para os pôr ao serviço de Portugal. Numa
atitude duplice não
participa na Batalha de Toro (2/3/1476). Os
reis católicos ( Isabel e Fernando ) foram vistos por estes e outros nobres
espanhóis como usurpadores e ilegitimos. Um sentimento que reforçou o espírito
separatista na Andaluzia, e que os levou a aproximaram-se da Casa de Bragança: -
Juan Alonso de Guzmán ( 3º. Duque) casa a sua filha Leonor
de Mendoza com D. Jaime de Portugal, 4º. Duque de Bragança (1502). -
Massacre de
Niebla.
Após a morte de Isabel, a
Católica, a revolta instala-se nos domínios do Duque de Medina Sidónia. Niebla
recusa-se a reconhecer Fernando de Aragão como rei de Espanha. O Duque - D.
Henrique de Guzmán, aproveita a ocasião e toma Gibraltar.
O filho do Conde de Ureña, antigo aliado de Portugal, apela a D. Manuel I para
os ajudar na revolta. O Duque de Medina Sidónia, D. Pedro Girón, assim como o
filho do Duque de Ureña acabam por ser refugiar em Portugal. Fernando, em 1508,
manda saquear a cidade de Niebla pelo alferes Mercado, e grande parte da sua população
assassinada. D. Manuel I não tinha interesse nesta guerra e estabelece a
concórdia, permitindo o regresso do Duque e de D. Pedro Girón. Para evitar
novas tentações independentistas, Huelva, Niebla, Sanlucar de Barrameda são
retirados do Ducado de Medina Sidónia. Vingança.
Os Duques de Medina-Sidónia tiveram a oportunidade de se vingar mais tarde
destas matanças dos espanhóis fizeram nos seus domínios. Um destes duques, à frente
de um galeão português (São Martinho), comandou de forma tão incompetente a
célebre Invencivel Armada espanhola (1588) que esta sofreu dos ingleses
uma humilhante derrota naval ( 3 ), deixando a Espanha a partir daí à merçê
dos seus inimigos. -
Restauração
da Independência de Portugal.
Na sequência do desastre da batalha de Alcácer Quibir, em Marrocos, Portugal
perde a sua independência (1580), sendo dominado pelos reis espanhóis. Os
Duques de Medina Sidónia passaram a conspirar com os Duques de Bragança
contra a Espanha, preparando a sua independência conjunta. Juan
Manuel Domingo Francisco de Paula Pérez de Guzmán ( 8º. Duque), casa em 1632,
a sua filha Luisa María Francisca de Guzmán com D. João de Portugal, 8º. Duque de Bragança,
e futuro rei D. João IV de Portugal. No
dia 1
de Dezembro de 1640 os
portugueses restauraram a sua independência. Luísa de Gusmão torna-se rainha de
Portugal. Filipe IV ordena ao Duque
de Medina Sidónia para atacar os revoltosos a partir de Ayamonte, mas este
recusou-se a fazê-lo alegando falta de meios. D. João IV era informado
regularmente dos planos do rei espanhol pelo Duque e pelo Marquês de Ayamonte. -
Revolta
contra
Espanha na Andaluzia.
Poucos meses depois da revolta em
Portugal, no Ducado de Medina Sidónia, a Corte Espanhola descobre-se uma
movimento destinado a tornar a Andaluzia num reino independente (Verão
de 1641)
( 4 ).
Os
protagonistas desta conjura eram Gaspar Pérez
de Guzmán y Sandoval ( IX duque de Medina Sidonia) e Francisco
Manuel Silvestre de Guzmán y Zúñiga (VI marquês de Ayamonte),
eram ambos parentes dos novos reis de Portugal. O primeiro era irmão da rainha.
O rei de Portugal - D. João IV
- estava ao corrente da revolta e naturalmente a apoiou.
O
Marquês de Ayamonte foi preso e os seus bens confiscados. O Duque de Medina
Sidonia foi poupado, mas perdeu a vila de Sanlucar de Barrameda e teve que pagar uma pesada
multa. Esta
acções conspirativas só foram possíveis porque as sucessivas guerras e as
vagas de exilados portugueses, acabaram por proporcionar o reforço dos laços
entre a nobreza portuguesa, em especial a Casa de Bragança e a nobreza
local, à frente da qual se encontrava os referidos duques.
Carlos
Fontes
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