Os imigrantes em Portugal são um "bom negócio". Principalmente
os clandestinos que caem muitas vezes nas malhas de comerciantes que tentam
ganhar dinheiro facilmente, explorando as necessidades mais básicas de quem
chega ao nosso País sem nada, apenas com a esperança de melhorar de vida.
Como pode ser o caso de uma "empresária" que opera em Lisboa e
que aluga camas a cem euros por mês. Numa das mais conhecidas avenidas da
capital, dois apartamentos num prédio já com muitos anos são a residência
de um número indeterminado de brasileiros, romenos e moldavos.
A proprietária, a D. Carla, garante que é uma ajuda preciosa para quem a
procura: "Alugo as camas, vou com eles às repartições de finanças
quando precisam de requerer o número de contribuinte e os recibos verdes.
Até os levo à segurança social".
Recebe-nos no vão da escada, que funciona como escritório, tal a
quantidade de telefonemas que recebe e até de pessoas que ali surgem para a
contactar. Conta que decidiu "montar o negócio" porque "as
rendas em Lisboa são caras e como tenho vários quartos com um mínimo de
condições decidi alugá-los". Reconhece que o objectivo final é
menos altruísta: "Quero ganhar dinheiro."
O que, afiança, tem sido difícil de concretizar: "Há meses que não
consigo que me dêem o dinheiro da renda suficiente para eu pagar os cerca
de 1800 euros pelos dois apartamentos ao senhorio."
Além de não conseguir receber rendas com regularidade, queixa-se ainda de
uma outra situação: não sabe quantas pessoas vivem nas casas. "Há
dias fui à varanda e tinha 15 homens a dormir no quintal. Tinham chegado da
Roménia de bicicleta. Os passaportes não tinham um único carimbo, ninguém
os controlou", alerta. "Alugo um quarto com três camas, mas se
dois pagarem acabam por dormir lá meia dúzia. Por isso, não têm
qualidade de vida. Já tive de fazer duas ou três desinfestações",
acrescenta. Diz que praticamente todos os imigrantes são ilegais, e muitos
estão meses sem conseguir emprego. "Conheço algumas firmas de
trabalho temporário e quando sei que eles precisam de homens, levo-os lá",
refere, lembrando que "75 por cento das pessoas que aqui tenho estão
desempregadas". Pelo meio, acusa os inquilinos de "só se
preocuparem em beber. Se for ver o lixo deles, vai reparar que só encontra
pacotes de vinho vazios."
Este é um negócio de "risco". É que além de nem todos pagarem
os 100 euros por dormir num dos apartamentos, há ainda alguns que "não
me dão dinheiro há quatro meses e continuam aqui. E o que é que faço?
Meto-os na rua? Eles não têm trabalho. Há ainda alguns que chegam aqui
sem dinheiro, dormem cá um mês e depois em vez de pagar vão-se embora e
nem dizem nada."
A D. Carla tem, assim, de "lavar pratos num restaurante, à noite, para
sobreviver". Por isso, após atender um telefonema de um russo que
procura ajuda para resolver um qualquer problemas, defende que o
"Governo e os serviços de imigração têm de pôr mão nisto",
ou seja aumentar o controlo nas fronteiras. "Têm de colocar travão a
isto", sublinha.
E dá um exemplo, provavelmente baseado na experiência, que ilustra o porquê
do aumento de estrangeiros em Portugal: "Os que trabalham ganham
700/800 euros por mês. Quantia que é uma fortuna na terra deles. No dia em
que recebem, telefonam aos familiares a dizer que isto aqui é muito bom e
dizem-lhes para vir. Mas esquecem-se que estão em empregos temporários.
Depois, acabam na rua a conversar e a beber."