Causas da Mediocridade
das Elites Portuguesas
Durante muito tempo
muitos foram os que atribuíram a culpa dos atrasos de Portugal à falta de infra-estruturas (estradas, portos,
etc), mas também aos baixos
níveis de educação da população. Os avanços registados nestes e outros
domínios são enormes em termos mundiais. O problema é que os mesmos não se
reflectem em avanços significativos.
É por esta razão que se volta ao
problema "histórico" da qualidade das elites se voltou a colocar,
sendo apontadas várias influencias para explicar a sua mediocridade:
1. Catolicismo
Alguns historiadores apontam à
influência da Igreja Católica a causa da mediocridade das elites portuguesas.
Durante séculos a Igreja desvalorizou o conhecimento, condenou o lucro e a acumulação de riquezas,
enaltecendo a pobreza, a resignação e até a ignorância.
Esta influência acabou por
produziu uma sociedade de remediados, de pessoas que vivem de esquemas, que se
contentam com migalhas, esmolas, subsídios do Estado, empregos mal remunerados,
baixas qualificações escolares e profissionais.
A proibição do
judaísmo, em 1496, acabou por reforçar em Portugal uma mentalidade fatalista e pouco
empreendedora.
2. Passado Colonial
O longo Império Colonial dos
portugueses, estimulou uma mentalidade perdulária e avessa ao trabalho, que
convive bem com profundas e chocantes desigualdades sociais. O objectivo secreto
de todo o "português bem nascido/sucedido" é viver de rendimentos do
trabalho escravo.
3. Tradição Emigratória
O português desde o século XV,
afirmava António José Saraiva, quando tem um problema no país, a primeira
coisa em que pensa é emigrar, a fuga é a solução preferida. O resultado
desta mentalidade é um país continuamente adiado.
4. Proteccionismo Excessivo
O Estado em Portugal, desde o
século XV, monopolizou a actividade económica. A "sociedade civil"
habitou-se a viver na dependência do Estado. Os políticos
e funcionários actuam habituaram-se a actuar sobre a sociedade de forma
retaliadora, para com todos os que não seguem ou se submetem às orientações
do poder político.
Esta retaliação manifesta-se
desde actos correntes da administração, como o protelamento da concessão de
licenças ou autorizações legais, à concessão de incentivos ou apoios
estatais.
No século XX, durante 48 anos os
portugueses viveram sob uma ditadura (1926-1974), apoiada durante décadas pela Igreja
Católica e os militares. O lema desta ditadura era a protecção total: rendas
das limitadas, ausência de concorrência externa e interna, etc .
Os
empresários e criadores, por mais mediocres que fossem, o Estado garantia-lhes
um "mercado" exíguo, mas certo. A concorrência e o risco eram
mínimos. O resultado foi uma mentalidade só investe se os lucros estiverem à
partida garantidos pelo Estado.
5. Ausência de uma Cultura
Cívica
Não há democracia possível num
país onde os cidadãos
que se limitam a esperar tudo do Estado. Reclamam pelos seus direitos (benefícios
públicos), mas se recusam a assumir que têm deveres para
com a sociedade, nomeadamente contribuírem para o Bem Comum.
Não há democracia possível,
onde a participação cívica em prol do Bem Comum é desvalorizada, e onde os
que se apropriam do bens colectivos, os corruptos, não são apenas tolerados,
mas apresentados como exemplos sociais.
Não há democracia possível,
onde o partidos políticos
não representam os cidadãos, e se mostram incapazes de realizaram compromissos
tendo em vista o Bem Comum. A sua única preocupação é alimentarem as suas
clientelas, distribuindo cargos (remunerações) no Estado, nas empresas
públicas e municipais.
É dificil construir um regime
democrático, onde o Estado não se assume como estando ao serviço do Direito,
acima dos interesses particulares, como regulador e fiscalizador das actividades
sócio-económicas. Onde o juízes actuam segundo estratégias partidárias.
Estas questões assumem
particular relevância em Portugal, onde as grandes referências históricas
desde o século XIX, estão longe serem positivas:
- A revolução liberal, de 1820,
terminou numa guerra civil (1828-1834). O regime monárquico constitucional deu
lugar a uma rotativismo partidário, assente no caciquismo, compadrio e
corrupção.
- A primeira República
(1910-1926), apesar de todo o entusiasmo inicia, cedo se revelou uma tragédia
nacional. Os próprios republicanos, não tardaram em defenderem um regime
ditatorial.
- A terceira República,
implantada a 25/4/1974, acabou por bloquear a participação cívica dos
cidadãos. Os aparelhos partidários, povoados de incompetentes, demagogos e
corruptos, apostam na continuação de um sistema político-administrativo
iníquo e perdulário.
Esta situação é impossível de
ser mudada, sem elites sociais, que tenham uma perspectiva e valores
democráticos. O problema é que as que existem comungam da mesma mentalidade de que
enferma a sociedade.
Contínua !
Carlos Fontes
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