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Portugal voltou a ser um país
aberto ao mundo. Durante a ditadura (1926-1974), a entrada de estrangeiros era
muito limitada, comunicações internas e externas eram censuradas. Um feroz
sistema repressivo, ao mesmo tempo que provocava o isolamento do país,
garantia a preservação de estruturas arcaicas e proporcionava uma
aparente segurança. Nada se passava em Portugal, o imobilismo era total. Esta
era a sensação que também se procurava transmitir aos visitantes.
As colónias e os países de
destino da emigração portuguesa (Brasil, EUA, Venezuela, França, Alemanha,
etc), acabavam por ser as janelas dos portugueses com o mundo.
Mudanças
Depois de 1974
quase tudo mudou.
Portugal voltou a ser um país aberto ao mundo, aumentando consideravelmente o
número representações diplomáticas e organizações internacionais de que
faz parte. A sua circulação pelo mundo em turismo, estudo ou em
negócios não tem paralelo com o período da ditadura.
O número de turistas não tem
parado de aumentar, fazendo do país um dos grandes destinos turísticos a
nível mundial (mais de 26 milhões de turistas em 2006). A partir dos anos oitenta aumentou também de forma exponencial
o número de imigrantes, primeiro das ex-colónias e em finais dos anos 90 de
todo o mundo
Portugal é hoje palco de grandes
eventos internacionais (festivais, espectáculos, congressos, competições
desportivas, etc) que atraem um número considerável de visitantes. É um país cosmopolita.
A integração no espaço da
União Europeia, em 1986, implicou uma enorme circulação de pessoas e de
comunicações entre pessoas e instituições dos diferentes estados membros.
A circulação de barcos e
aviões pelos aeroportos, portos e pelas águas territoriais portuguesas
superaram todas as expectativas, o que tem implicado uma reorganização total
das infra-estruturas nesta área.
A visibilidade de
Portugal também se alterou de forma radical. Ao contrário do regime
ditatorial que promoveu a imagem de um país católico, rural e pobre, mas
orgulhosamente só na defesa das colónias, o regime democrático
esforça-se por difundir a imagem de um país moderno e
cosmopolita.
As questões da segurança tem
que ser agora equacionadas de uma nova forma devido às enormes mudanças
internas, mas também aos novos contextos internacionais.
1. Desordenamento Territorial
A construção caótica que
ocorreu nos concelhos da periferia de Lisboa, sobretudo na Amadora, Odivelas, Loures, Vila Franca de Xira,
Almada, Barreiro, Seixal, Sintra ou Setúbal, permitiu a criação de bairros
onde estão reunidas todas as condições para um brutal crescimento da
violência urbana.
A agressividade urbana existente
nestes e outros concelhos do país estimula relações tensas e desequilibradas no seus habitantes, assim como instalação e proliferação de
redes criminosas.
Neste sentido é fundamental não
apenas estimular a intervenção cívica dos cidadãos, mas também combater a criminosa
gestão autarquica que está a ser praticada, evidenciando as terriveis
consequências que a mesma se traduz para o futuro do país.
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2. Redes de Criminosos ( traficantes de
mulheres, crianças, armas, droga, obras de arte, etc )
As excepcional localização de
Portugal, associada às enormes facilidades de
comunicação com o exterior tornam-no particularmente vulnerável à
criminalidade organizada com raízes internacionais, em particular para:
- Acção de redes de criminosos,
em particular para aquelas que estão sediadas em Espanha, América do Sul, continente Africano
e Leste da Europa. Uma situação que é potenciada pelos enormes movimentos de
pessoas entre Portugal e estas regiões do mundo.
- Tráfico de Droga. Desde os anos oitenta
que Portugal se tornou numa das
principais entradas de droga na Europa por via área, terrestre ou maritima.
As extensas costas no continente e mas também do arquipélago dos Açores, com inúmeras praias e
portos passaram a ser procurados para desembarques de droga por parte das máfias
internacionais. As pistas de aviação, nomeadamente do sul de Portugal, tem
sido usadas por traficantes internacionais. Mais de 90% da droga apreendida
em Portugal destinava-se à Espanha e está ligada a organizações criminosas
deste país.
Uma grande parte da criminalidade violenta em Portugal está
ligada ao tráfico de droga.
3. Terrorismo
Há um vasto conjunto de factores
que tornam o terrorismo uma ameaça real em Portugal, tais como: a total
abertura ao exterior; o aumento de comunidades estrangeiras residentes e
circulação de turistas; uma situação
geográfica junto de regiões de enorme instabilidade política e social
(países islâmicos do Norte de África); a participação em organizações de
defesa internacional (NATO, etc), mas também em missões de paz em conflitos
internacionais. Todos estes
factores potenciam a circulação de
terroristas ou a instalação de redes de
terroristas internacionais.
4. Criminalidade Informática
A informatização e automação
generalizada de processos está a colocar problemas gravissimos à segurança
das instituições, na medida que as torna particularmente vulneráveis a ataques de
virus, ciberterrorismo ou à espionagem electrónica interna ou internacional.
Não é apenas informação vital que pode ser roubada, mas o próprio
funcionamento de sistemas que pode ser alterado à distância pondo em riscos
pessoas e bens.
5.
Poluição Marítima
Portugal é o país da União
Europeia, com a maior zona marítima exclusiva. Esta zona é continuamente
atravessada por milhares de navios, muitos dos quais sem as mínimas condições
de segurança.
6. Mudanças Climáticas
O aumento das temperaturas
médias, a desertificação e abandono de extensas zonas do país potenciam o
aumento do número de incêndios que não se circunscrevem às florestas.
A
construção desordenada no litoral, que conduziu á destruição de
protecções dunares, tem facilitado também o continuo avanço do mar colocando
em causa povoações.
7. Conflitos Sociais
A sociedade portuguesa, no quadro
da União Europeia está
particularmente exposta a dois tipos de tensões internas:
- Desigualdades
sociais. A clivagem tradicional entre ricos e pobres não desapareceu, mas
está a reconfigurar-se. O centro das tensões sociais está a deslocar-se para
as clivagens sociais que
opõem a classe média aos grupos mais abastados. A classe média à
semelhança do que ocorre na UE está a empobrecer face aos ricos que estão a ficar cada vez mais
ricos.
Este facto tenderá num futuro próximo a potenciar o aparecimento de focos de constestação social mais
evoluida. Não é de excluir neste contexto, do aumento da criminalidade por parte de quadros bem posicionados
na Administração Pública, instituições e empresas.
- Grupos étnicos. Alguns
grupos étnicos devido à sua fraca inserção social tendem a constituir-se em
focos de tensões internas ou a potenciar a emergência de grupos marginais. A
sua marginalização social, associada à hiper-estimulação ao consumo, tende
a desenvolver sentimentos de revolta que podem desembocar no aumento da
criminalidade violenta.
8. Conhecimento
O conhecimento tornou-se um
factor fundamental numa sociedade onde a ciência e a técnica ocupam um lugar
central. A capacidade de resposta aos ataques internos e externos está hoje
ligada à existência na sociedade de uma ampla e sofisticada massa crítica que
alerte, reaja e seja mobilizável para colaborar na resposta às mais diversas
ameaças.
Sem um elevado nível de
conhecimento disseminado pela sociedade esta torna-se particularmente frágil a
ameaças mais complexas.
9. Comunicação Social
O domínio da comunicação
social é hoje uma arma poderosa que pode colocar em causa a segurança de um
país, contribuindo para aumentar as pressões externas sobre o mesmo,
nomeadamente denegrindo a sua imagem internacional ou fomentar tensões e
divisões internas.
A Espanha continua a ser, neste
domínio, o
principal ameaça à segurança de Portugal.
Uma longa história de guerras e conflitos deixou
marcas profundas na memória e nas práticas de relacionamento entre os dois
países. A recente onda de propaganda iberista
(2002-2006) tornou claro que a questão não estava superada.
Desde a década de oitenta do
século XX que grupos espanhóis tem procurado controlar grupos editoriais e de comunicação social
portugueses, os quais não tarda em se transformar em orgãos de propaganda
iberista, colocando em causa a segurança do
país.
O Iberismo sempre explorou ao
longo da história as crises internas em Portugal de modo a minar a confiança
dos portugueses no seu futuro colectivo.
10. Patriotismo
O hiper consumismo tende a
enfraquecer os laços de pretença dos individuos, centrando-os neles próprios.
Um fenómeno que provoca o seu alheamento da comunidade onde nasceram e vivem.
Trata-se de um problema que não é exclusivo de Portugal, mas não deixa de ter
aqui alguns aspectos culturais particulares.
Como é sabido desde o século
XIX que uma boa parte das elites portuguesas cultiva uma atitude de sobranceria em
relação ao país e à população, que se traduz na produção de uma imagem
negativa sobre as suas capacidades e uma visão catastrofista sobre o futuro de
Portugal.
Numa sociedade global, onde os
países competem entre si na afirmação das suas capacidades culturais,
científicas e tecnológicas estas visões derrotistas tem um efeito demolidor
interno, mas também são facilmente aproveitadas por outros para acentuar os
aspectos negativos destas imagens no contexto internacional. Um dado da maior relevância
dado que afecta
não apenas a percepção de outros sobre Portugal, mas também a relação dos
portugueses com o seu país.
É neste sentido que se torna
necessário aumentar a exigência na selecção dos representantes do país, em
particular dos seus dirigentes políticos, mas também investir em todos os
aspectos relacionados com a difusão e preservação dos valores fundamentais da identidade
portuguesa no mundo (história, cultura, língua, património, etc).
Carlos Fontes
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