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Administração
Pública
O Estado consome
em Portugal, todos os anos, mais de 50% do Produto Interno Bruto (PIB).
Apesar disto o comum
dos cidadãos pouco ou nada espera dos serviços públicos. Há décadas que se
amontoam estudos sobre os males que padece, assim como as soluções para os
debelar. Os anos passam e a ineficiência persiste.
O principal problema
da administração pública portuguesa, não é de natureza técnica, nem
financeira, mas sim cultural. A maioria dos seus dirigentes comungam de
uma cultura desfasada do tempo e das necessidades actuais do país.
A praça que em
Lisboa simbolizava o poder político, foi também aquela onde durante séculos
se geria as
mercadorias vindas das colónias. Esta duplicidade entre Estado e comércio,
está presente no próprio nome da praça, conhecida por Terreiro do Paço (residência
do rei) e Praça do Comércio.
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1. Peso da
Tradição
O Estado português
foi durante séculos uma verdadeira empresa, cujo negócio essencial era as
explorações marítimas, a conquista, colonização e exploração de vastas
regiões da terra. As elites dirigentes dirigiam-no como verdadeiros
empresários. O Estado era algo que lhes pertencia por direito próprio,
através dos cargos públicos que eram distribuídos entre os membros de grupos
sociais muito restritos.
A
maioria da população era encarada como mão-de-obra ao seu serviço. O Estado
não estava ao serviço da população, mas era esta que estava ao seu serviço.
Apesar de ter sofrido um forte abanão, esta cultura tem perdurado na administração pública
ao longo de mais de trinta anos de regime democrático.
Educados nesta
cultura, políticos,
dirigentes e funcionários instalados na máquina do Estado, continuam a
sentirem-se acima das populações. A Coisa Pública é vista como algo privado,
da qual não têm que prestar contas. De acordo com esta mentalidade, os
resultados de uma má gestão penalizam apenas os gestores públicos, porque
lucram menos, e não as populações que se limitam a servir o Estado.
2. Acesso
Para se chegar a
ministro ou a dirigente de uma qualquer instituição pública, não importa a
sua dimensão, continua a não
ser necessário ter prestado quaisquer tipo de provas.
A única condição
que continua a ser exigida para
aceder aos cargos públicos é a de fazer parte do círculo restrito dos que dominam o
Estado. A via tradicional é através de redes de contactos familiares, a
outra mais recente é por intermédio dos apertados círculos de amizades forjadas nos
partidos políticos.
Uma vez instalados
na administração pública,
a maioria dos dirigentes não investe na sua formação como gestores públicos, nem sequer no
conhecimento do sector em que trabalham. A sua única preocupação que
manifestam é com os contactos sociais com os seus pares, e rodearem-se de
amigos fiéis (ainda que incompetentes) e familiares. O objectivo é
assegurarem no máximo de tempo possível as condições para usufruto das
regalias que alcançaram, afastando todos os possíveis
concorrentes.
É por esta razão
que numa mera entrevista a um ministro ou dirigente público, a principal coisa
que este procura evidenciar não é os seus resultados como gestor público,
mas a sua família, os seus amigos de infância ou na faculdade. Estes são os
seus principais trunfos, a razão porque chegou onde chegou. O que está
interessado em falar não é das inovações que introduziu no sector que
dirige, as melhorias que realizou no país, mas dos seus gostos pessoais, dos locais onde passa a férias, os carros
da sua preferência, etc. Estes são os únicos resultados que têm para
apresentar, aqueles em que se sentem aptos a falar.
3. Dificuldades de
Mudança
Com esta mentalidade
predominante na administração pública, as mudanças têm sido demasiado lentas.
O contexto actual é
todavia muito diferente do passado, sendo cada vez mais dificil manter esta
cultura parasitária. Primeiro porque Portugal
já não possui colónias para alimentar ( e justificar) a existência de
enormes bandos de parasitas; Segundo porque as novas gerações são muito mais mais instruídas e conscientes
dos seus direitos de cidadania. É por tudo isto que um número crescente de
cidadãos reclama por mudanças profundas que ponha fim a esta organização
política e administrativa iníqua e perdulária que bloqueia o desenvolvimento
do país.
Carlos Fontes
Nota:
Em 2006 o governo de
José Sócrates iniciou uma profunda reforma na Administração Pública, que
conduziu à extinção de 25% dos organismos públicos e dos cargos dirigentes,
assim como à simplificação de inúmeros procedimentos administrativos. A
reforma está em curso, pelo que é ainda muito cedo para avaliar os seus
resultados.
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Uma
Administração Sem Objectivos
O Estado português foi durante
séculos uma verdadeira
empresa global. Desde o século XVI que tinha interesses a defender em todo o
mundo. As suas elites dirigentes administravam um dos maiores Impérios
coloniais do mundo, e não hesitavam em usar a população para atingir
os seus objectivos estratégicos. A persistência como que o fizeram até 1974
é deveras notável.
A administração pública conduziu com enorme sucesso o país para os desafios que se
propôs ao longo de séculos.
Entre os séculos XII-XIV consolidou a
independência, estruturou o povoamento e a defesa do território. Entre os séculos XV e 1974, criou e geriu à escala global um dos grandes
impérios coloniais do mundo, em condições quase sempre adversas. É
preciso dizer que ao longo de séculos, Portugal esteve quase sempre em
guerra, com as grandes potências do tempo. O primeiro conflito mundial
ocorreu, justamente entre Portugal e a Holanda (séculos XVI-XVII). Os
dois países enfrentaram-se em todos os continentes.
Com o fim das colónias (1974), o
Estado português deixou de ter objectivos. As elites políticas para poderem
continuar a viver à custa do erário público trataram de criar novos
privilégios e mordomias (estatutos especiais).
Sem os anteriores recursos coloniais para explorarem, a única
coisa que lhes restou foi sugarem os contribuintes. A partir de 1974 a ineficácia e ineficiência
do aparelho de Estado aumentou na proporção inversa do seu custo. Mais dirigentes e funcionários
passou a significar mais corrupção, incompetência e desperdício. É
esta a situação que urge acabar de forma a desbloquear o desenvolvimento do
país. Carlos Fontes |
Continua !
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