Fédon, de Platão

 

Considerações Gerais -Textos Provisórios

 

 

Antes de iniciar a leitura desta obra de Platão, sugiro que leia a sua biografia e algumas notas sobre a sua filosofia.

 

Teorias Platónicas que devem ser previamente analisadas

Teoria da ideias. Platão parte do pressuposto que existem dois mundos. O primeiro é constituído por ideias eternas, invisiveis e dotadas de uma existência diferente das coisas concretas. O segundo é constituído por cópias das ideias (coisas sensíveis). Com base neste pressuposto afirmou que os sentidos estão permanentemente a enganar-nos. A verdadeira realidade não nos é dada pelos sentidos, mas só pode ser intuida através da razão, e está no mundo das ideias. Esta teoria surge em diálogos como Fédon, como um pressuposto aceite pelos vários interlocutores.

Teoria das Ideias

(Ideia e Cópias)

Teoria da Participação. Esta teoria assenta no pressuposto que existe uma relação entre as coisas sensíveis e as ideias (eternas, belas, unas, imutáveis). As coisas sensíveis são belas porque participam da ideia de belo. Todas as coisas que existem no mundo sensível foram feitas à imagem das Ideias. Um única ideia tem uma multiplicidade de cópias-coisas. As provas desta participação, afirma Platão, podem reconhecer-se na harmonia e organização do mundo sensível.

Teoria da Metempsicose. Esta teoria pressupõe a imortalidade da alma e as sucessivas reincarnações. Ao incarnar num corpo, a alma irá recordar o que outraora contemplou no mundo das ideias. Esta teoria serve de fundamento à da Reminiscência. 

Teoria da Reminiscência. Esta teoria pressupõe a existência de um saber inato que pode ser recordado.

 

Temas Fundamentais

A Imortalidade da Alma 

Explicar como morre um homem sábio e o modo como a encara.

 

Cenário

A cena passa-se em Fliunte, uma cidade de Sícon, no nordeste do Poloponeso, na Grécia, um dos mais importantes centros do pitagorismo. 

Personagens

Fédon de Élis, discípulo de Sócrates, que segundo Diógenes de Laércio (II,105) foi feito prisioneiro na guerra entre Esparta e Atenas.Em 399 a.C. fazia parte do círculo restrito de Sócrates.Fundou uma escola socrática na sua cidade e terá escrito dois diálogos.

Símias e Cebes.Originários de Tebas, onde foram discípulos do pitagórico Filolau.Pertenciam a famílias abastadas a avaliar pelo dinheiro que arranjaram para uma possível fuga de Sócrates.

Críton. Era um rico ateniense e amigo de Sócrates desde muito novo. 

Equécrates. É a personagem a quem Fédon conta a morte de Sócrates. Trata-se de um dos últimos pitagóricos.

 

Estrutura do Diálogo

Neste diálogo são abordados os momentos que precederam a morte de Sócrates, relatados por Fédon de Elis, discípulo de Sócrates, a Equécrates.

Este diálogo pode ser dividido nas seguintes partes:

Prólogo (57a-60b)

Fédon procura responder à curiosidade de Equécrates, sobre as circunstâncias em que ocorreu a morte de Sócrates e se o mesmo acreditava nas teorias pitagóricas sobre a metempsicose.

Capítulo I (60b-69e)

Como o Filosofo Encara a Morte. A Morte como Libertação 

Analisa-se a questão do suicídio e faz-se a sua condenação. 

A natureza e objecto da filosofia face à questão da morte.

A morte é a separação da alma do corpo (63b-64c)

A oposição alma - corpo (64c)

O corpo é visto como um obstáculo que impede a alma de atingir a sabedoria (65a-66e)

A Filosofia como preparação para a morte (67d-68b)

A esperança dos homens virtuosos que cultivaram a Filosofia é encontrarem no Hades deuses, sábios e bons.

Que espécie de morte é desejada pelos filósofos?

Qual a razão porque o pretendem?

Capítulo II  (69d-72e)

Sócrates começa a expor os seus argumentos sobre a imortalidade da alma

A sobrevivência e imortalidade da alma (69e-70c)

Uma coisa tem origem na que lhe é oposta.Á vida sucede-se a morte e a esta a vida, e assim sucessivamente. 

1º.Argumento: A alternância dos contrários ou opostos prova a existência da via para além da morte(70c-72e). 

 

Capítulo III

A pre-existência da alma em relação ao corpo

2º.Argumento: A reminiscência (Anamnese) pressupõe a existência da alma (73b-77a).

 

Capítulo IV 

As coisas compostas estão sujeitas à decomposição, as coisas simples como a ideia de Bem, são imutáveis e invisiveis.

A teoria das Ideias

3º.Argumento:A simplicidade da alma fundamenta a sua eternidade(78d)  

 

Capítulo V

Os contra argumentos de Símias e de Cebes (84c-88b): a Alma Harmonia e a Degradação na Alma nas sucessivas reincarnações.

 

Capítulo VI

O objectivo de toda a pesquisa: a procura do bem

O problema da Física: a causalidade 

4º. Argumento: A análise da causa da geração e da corrupção das coisas, leva-nos a concluir sobre a alma como imperecível (102a-107a).

Capítulo VIII (107d-115a)

O Destino da Alma no Cosmos

Faz-se uma descrição da Cosmos de forma articulada com o destino das almas.

Epílogo (115a-118c)

O diálogo de Sócrates com os seus discípulos é interrompido, com a chegada dos servidores do Onze, os quais dão-lhe o veneno (cicuta) que o matará. A última mensagem de Sócrates.  

  

 

Principais questões colocadas no Fédon

 Imortalidade da alma.A questão central deste diálogo.Platão procura dar neste diálogo uma fundamentação filosófica da Psyké (princípio vital, alma) até então muito envolto em concepções mágico-religiosas (cfr.E.R.Dodds).Todas as provas que apresenta para a imortalidade da alma são apoiadas na sua teoria das ideias: a) O conhecimento como reminiscência das ideias contempladas; b) o conhecimento das ideias pela alma demonstra a semelhança desta com aquelas; c) As coisas são o que são devido à sua participação nas ideias. 

Dualismo antropológico. O corpo é associado a um túmulo que aprisiona a alma e a impede de pensar-se a si própria e a toda a realidade. A alma só o poderá fazer separando-se das necessidades e fruições corporóreas, o que só acontecerá após a morte, na outra vida, mas para que isso aconteça é necessário que a alma esteja preparada.

Teoria do conhecimento. Platão começa por distinguir neste diálogo, o mundo sensível do mundo inteligível.O primeiro só nos permite um conhecimento aparente do mundo e portanto não um verdadeiro conhecimento. Os sentidos constituem verdadeiros obstáculos para a alma de atingir o verdadeiro conhecimento, o que só o poderá obter afastando-se ou libertando-se do corpo (sentidos).A fim de garantir a possibilidade do próprio conhecimento Platão sustentam que as coisas sensíveis são cópias (sombras) das ideias que a alma contemplou no mundo inteligível. Quando esta reincarna num corpo trás consigo recordações destas formas (ideias inatas), transformando deste modo toda a aprendizagem numa recordação.

Ideias Inatas. O ciclo de reincarnações da alma fundamenta a teoria da reminiscência e a do conhecimento. Questão que emerge desta concepção: Qual o valor do conhecimento sensível e da aprendizagem ?. 

Isomorfismo da Alma com o Cosmos (107d-114c). A concepção da alma em Platão, dividida em três partes (Alma Racional, Alma Irascível e Alma Concupiscente) tem um paralelismo na sua concepção de Estado (Polis), onde encontramos também três funções básicas (função económica, defensiva e legislativa), mas também na sua concepção do cosmos onde sustenta a existência de três terras (Fédon, Cap.VIII).

Política.A teoria política de Platão está intimamente relacionada com a sua teoria das ideias. Só um Estado governado por quem tem o conhecimento dos fundamentos da ordem e da justiça, pode ser ordenado e justo. 

Moral.O renascimento das almas após a morte, sob formas desiguais, fundamenta a justiça que transcende os homens e que os julga pelas escolhas que fizerem durante a vida.   

 

Teoria do Conhecimento 

(desenvolvimento)

Nesta obra Platão desenvolve um conjunto de questões sobre o conhecimento com enormes repercussões na história do pensamento ocidental.

 

 

O objecto da ciência não são as coisas sensíveis, mas as ideias (eternas, unas e imutáveis).   

As ideias são o objecto visado pelo conhecimento racional

Os sofistas não foram além das aparências, limitaram-se a emitir opiniões sobre as aparências sensíveis

Os filósofos são os únicos que procuram o verdadeiro conhecimento ultrapassando o domínio das aparências sensíveis.

A tarefa da filosofia é afastar a alma da investigação feita com o olhos, com os ouvidos e os outros sentidos, levando- a a concentrar-se em si própria para aí descobrir o Ser, aquilo que é.

A alma deve assim separar-se o mais possível do corpo (mundo sensível), preparando-se para a morte (o regresso ao mundo das ideias).      

 

As ideias são os critérios ou princípios  de julgamento das coisas sensíveis

As ideias permitem-nos julgar as coisas, quer quanto à sua semelhança, perfeição ou imperfeição. Servem-nos igualmente para julgar do que é bom, justo, belo e outros valores que atribuímos ás coisas

As ideias são as causas das coisas no mundo sensível

As ideias são as causas das coisas do mundo sensível, a sua razão de ser (fim).

Em construção !

Isomormisfismo entre a Alma e o Cosmos

Em construção !

lmortalidade da Alma

As "provas" da imortalidade da alma constituem o núcleo central do Fédon, para a fundamentação das quais serão evocadas as várias teorias (Teoria da Ideias, da Reminiscência e da Reincarnação). 

1º. Argumento: O devir faz-se através da sucessão ciclica de coisas contrárias. Esta teoria que remonta a Heraclito. Os contrários sucedem-se alternadamente. Do pequeno se faz o grande e do grande o pequeno. O sonho sucede à vigilia, a decomposição à composição, como a morte se sucede à vida e esta àquela. De acordo com este princípio, a existência terrena seria precedida de uma vida anterior oposta à morte (teoria da metempsicose). Neste processo é contudo necessário, que algo permaneça através dos ciclos de vida e da morte: a alma, enquanto princípio da vida. 

2º. Argumento: Reminisciência. Para que alguém recorde algo, é necessário que antes  tenha aprendido.Aquilo que recordamos aprendemos numa outra existência, na qual a lama contemplou as ideias. Platão afirma deste modo que a alma pré-existe ao corpo e sobrevive à sua morte.

3º. Argumento: Simplicidade da alma e sua afinidade com a Ideias . As coisas simples simples - as Ideias -, distinguem-se das compostas -os corpos -, por serem eternas, invisiveis e imutáveis. Num homem podemos distinguir a alma e o corpo. A alma é simples e o corpo é composto.Logo, temos que convir que à alma pertencem todas as características que são próprias das ideias, sendo portanto imortal. 

4º. Argumento:Incompatiblidade dos Opostos. As coisas particulares do mundo sensível tem existência e realidade quando participam nas ideias. Mas uma coisa não pode participar da Ideia que lhe é oposta (par no impar, calor no frio, saúde no frio, bom no mau). Ora a vida e a morte são opostos. A alma participa na ideia de vida, logo exclui a sua ideia contrária, a morte. A alma ao aproximar-se da morte ( o seu contrário) afasta-se, libertando-se. Podemos pois concluir que a alma é imortal.

 

Bibliografia Recomendada

 

Em construção !

Traduções do Fédon

Platão, Fédon, Tradução de P.e,Dias Plameira, Atlântida, Coimbra.1962

Platão, Fédon, Tradução de P.e. Eusébio Dias Palmeira. Introd. e Coment. Maria Arminda Alves de Sousa, Porto Editora,Porto,1995.  

Platão, Fédon, tradução de Maria Teresa Schiappa de Azevedo, INIC.Coimbra.1983.

Platão, Fédon, tradução de Maria Teresa Schiappa de Azevedo, Livraria Minerva. Coimbra. 1988

 

Comentários e outras obras de referência

Abbagnano, Nicola, História da Filosofia. Vol.I, Lisboa.

Almeida, Vieira, Os Argumentos do Fédon, in O Ocidente, vol.LII, 1957.p.3-11

Brun,j., Platão, Dom Quixote.Lisboa.1983

Carvalho, J., Introdução ao Fédon de Platão, Obras Completas.FCG. Lisboa.1981

Chatelêt, François, Platão,Rés, Porto, 1977

Cornford, F.M.,Principium Sapientiae.FCG.Lisboa.1975. 

Freire, António, O Pensamento de Platão, Livraria Cruz, Braga.1967, in Brotéria, vol.XXXIV, 1944, pp.397-413

Freire, António, A Ideia de Alma na Filosofia de Platão

Maire, Gaston, Platão, Edições 70, Lisboa,1991.

Mesquita, António Pedro, Fédon de Platão, Texto Editora. Lisboa.1995

Mesquita, A.P., Reler Platão. Ensaio sobre a teoria das ideias. Lisboa.1995

Mesquita, A.P., O argumento Ontológico em Platão. I: O Problema da Imortalidade, Philosophice,2, 1993.pp. 31-42 

Mondolfo, Rodolfo, O Pensamento Antigo.Editora Mestre Jou.São Paulo.1971 (3ªed.)

Koyré, Alexandre,Introdução à Leitura de Platão, Editorial Presença, Lisboa.1988 

Philonenko, Alexis, Lições Platónicas. Instituto Piaget. Lisboa.1999

Penedos, A.,Platão no País dos Sonhos, Rev.Fac.Letras do Porto da UP, Porto.1993

Robin, L., Platão, Inquérito, Lisboa , S/d

Santos,José Trindade, Existência e Sabedoria no Fédon, Análise 2, 1984

Santos,José Trindade, Fédon, de Platão. Lisboa.1998

 

Pesquisa 

 

 

Contexto Histórico

Sofistas (1) e Sofistas (2)

Platão . Enquadramento. Problemáticas. Glossário. Bibliografia

Carlos Fontes

Programa de Filosofia 12ª. Ano

Navegando na Filosofia