1. Não é fácil definir a filosofia. Nunca o foi. O seu conteúdo
tem variado ao longo dos tempos, nomeadamente com o entendimento que
cada filósofo faz da mesma.
A palavra é formada pelas palavras "philos" e "sophia"
que significam "amor à sabedoria". Foi Pitágoras que no
século VI a.C. a utilizou pela primeira vez, para designar os homens
que procuravam a sabedoria, separando-os assim dos deuses que a
possuíam.
2. A filosofia surgiu historicamente nas antigas colónias gregas
da Ásia Menor no século VI a.C. Os primeiros filósofos
substituíram as narrações mítico-religiosas do cosmos, por
explicações racionais, partindo de um conjunto de ideias que farão parte da tradição filosófica:
- A convicção que na natureza as coisas não acontecem a acaso,
mas obedecem a uma necessidade que determina o quando e o como
de acontecerem.
- A convicção que o homem possui uma faculdade que lhes permite
aceder à verdade, ultrapassando as aparências dos sentidos ou as
ideias correntes.
- A convicção que por detrás da multiplicidade e mudança
permanente das coisas subjaz uma ordem oculta que tudo determina.
3. Embora o filósofo seja aquele que procura o saber, a verdade é
que rapidamente os primeiros filósofos se convenceram que já
possuíam esse saber. Entre o século VI a.C. e o século XVII, predominou a
concepção da filosofia como o verdadeiro saber. A verdade revelada
pela filosofia era única, eterna e irrefutável. O filósofo era
aquele que se erguia a cima do seu tempo, e contemplando a verdade das
coisas a revelava aos homens.
Neste período não existia uma separação entre a filosofia e a
ciência. O filósofo era o verdadeiro sábio e dominava todos os
saberes particulares que constituíam as várias ciências. A
filosofia assumia frequentemente uma dimensão sincrética.
4. A grande ruptura com esta concepção de filosofia ( a "philosophia
perenis") ocorreu por volta do século XVII. Foi então que
surgiu a ciência moderna, cujo melhor exemplo era dado pela
física experimental, criada por Galileu Galilei. A ciência
rapidamente se separou da filosofia, impulsionada pelos seus métodos
de investigação: Para a formulação de teorias explicativas da
realidade exigia que a validação destas fosse feita através de provas
que fossem universalmente verificáveis. As provas dadas na
filosofia resumiam-se apenas a argumentos mas ou menos consensuais.
Ao longo dos tempos muitos ramos da filosofia foram-se transformando
em novas ciências.
5. À medida que a ciência moderna se impunha como a única forma
de conhecimento válida, porque baseada em factos verificáveis
universalmente, mais se questionava o lugar da filosofia. Qual a sua
importância? Qual sua finalidade? Desde o século XVII muitos lugares
tem sido apontados para a filosofia, como por exemplo:
- Espaço de reflexão sobre as grandes questões que a ciência não dá
uma resposta. O campo da filosofia restringe-se, para muitos autores,
aquilo que não pode ser objecto de um conhecimento exacto,
científico. A filosofia teria assim um caracter residual face à
ciência.
- Espaço de organização de sínteses sobre os diferentes saberes
particulares.
- Espaço de problematização, onde se reflecte de uma forma
descomprometida sobre as coisas.
- Espaço de reflexão sobre a linguagem, nomeadamente sobre a
linguagem científica, de modo a evitar a criação de falsos
problemas e desfazer os existentes.
Carlos Fontes