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História da Formação Profissional e da Educação em Portugal

Carlos Fontes

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Idade Moderna - II (Século XVIII)

Academias

 

Não é fácil no século XVIII em Portugal procurar por iniciativas no campo da f.p. que radiquem em empreendimentos particulares. O Estado tudo absorvia e tudo controlava, apenas no século XIX veremos surgir escolas instituídas por particulares, mas tiveram sempre grandes com problemas de sobrevivência. As Academias foram contudo no século XVIII, pioneiras deste ensino particular.

O movimento das Academias iniciara-se já em meados do século anterior, mas preponderava então as questões literárias. D João V, á semelhança do que ocorria pela Europa, criará a primeira grande Academia Régia com preocupações cientificas, a Academia Real de História ( 1720), só posteriormente seguida pela Academia Real das Ciências no tempo de D. Maria.

1. Novas Academias

Nesta nova fase das Academias, tomaram alguns estudiosos da medicina, iniciativas dignas de registo. A primeira destas foi a Academia Cirúrgica Protótipo- Lusitana Portuense, de António Gomes Lima e que teve os seus estatutos aprovados por  D.João V, em 1748, e era sustentada pelos seus fundadores. 

No ano seguinte, de novo consegue a instituir a Academia Médico-Portopolitana, de parceria com João de Carvalho Salazar, sob o alto patrocínio de D. João de Bragança, Arcebispo e Senhor de Braga e Primaz das Espanhas, filho bastardo de D. Pedro II. 

Esta Academia de maior êxito que as anteriores, de que a protecção que gozava aliás prometia, apostava numa renovação dos conhecimentos da medicina em Portugal, expulsando as teorias fundadas em Aristóteles ou Galeno, para África e a América[1], cultivando a medicina experimental.  Um dos resultados concretos desta Academia, foi a exigência pública de uma profunda reforma dos estudos de medicina na Universidade de Coimbra, como uma prioridade nacional.

2.Academia Real das Ciências de Lisboa

 A Academia Real das Ciências de Lisboa foi sem duvida uma das mais notáveis iniciativas do final do século, no capitulo da difusão da nova cultura. Deve-se a sua criação, em 1779, a João Carlos Bragança, Duque de Lafões e ao naturalista José Correia da Serra.

O primeiro objectivo da Academia não foi a investigação, mas a promoção da instrução nacional para a perfeição das ciências e artes, e o aumento da industria popular. Neste sentido nos seus Estatutos se estabelece que a Academia deveria assumir uma função de escola, começando por receber 24 alunos de origem nobre...

Este projecto de escola de artes não foi avante, por razões que ignoramos. A promoção da industria ficou apenas pela agricultura, mas aqui o trabalho foi notável. O diagnostico que a Academia promoveu das causas da decadência da nossa agricultura, constituíram um marco no tempo. 

A investigação cientifica era naturalmente um dos objectivos da Academia, dando corpo à nova política. Os seus fundadores comungavam da ideia que o Estado devia reduzir a sua intervenção na sociedade. O próprio governo, como escreve Borges de Macedo, assim o entendeu, dando-lhe uma tipografia, dispensou-a da censura das suas obras concedeu-lhe vários privilégios, tais como a isenção de direitos alfandegários sobre o papel que importasse, a terça parte do lucro da lotaria organizada pela Misericórdia de Lisboa, para além de outros meios que lhe garantiam a sua autonomia. A Academia defendia a liberdade económica e o desenvolvimento agrícola sem entraves de impostos

As ideias fisiocratas francesas estavam no centro deste projecto pós-pombalino, baseado na exploração dos recursos nacionais e na livre circulação dos produtos. Nesse sentido serão feitos uma série de estudos de identificação do território, levantamento das suas potencialidades económicas e o emprego de técnicas e tecnologias, comparando com o que se fazia noutros países. Estudos que serão publicados sob a forma de Memórias.

As Memórias da Económicas publicadas pela Academia procuraram aliar a investigação á apresentação de soluções para os problemas que iam sendo diagnosticados. A relação custo-benefício de cada equipamento ou técnica era frequentemente considerada[2].

Um dos seus projectos mais inovadores surgiu no Assento de 27 de Março de 1790, quando a Academia determinou que fossem criadas "Sociedades de Agricultura Correspondentes", as quais seriam instituídas nas povoações das diversas províncias , e receberiam da mesma as instruções, os projectos, as sementes novas, a indicação dos novos inventos, os desenhos de utensílios e instrumentos de lavoura para o seu trabalho de divulgação local[3]. Infelizmente este projecto de vulgarização agrícola não passou das intenções. Apesar disso, mostra uma perspectiva rasgada para lidar os problemas da difusão das novas técnicas agrícolas. Este modelo era experimentado com bastante êxito em França.

Outros projectos pedagógicos vieram a ilustrar a obra desta Academia, embora cada vez mais afastados do mundo das actividades profissionais concretas[4].

 Em Construção ! 

Carlos Fontes

Navegando na Educação

Notas:

[1]. António Alberto de Andrade, Vernei e A Cultura do Seu Tempo, pag.281.

 [2] Entre as memórias agricolas, destacam-se desde logo as seguintes: Memória Sobre a Introdução das Gadanhas Alemãs e Flamengas em Portugal", de Joaquim Pedro Fragoso de Siqueira, o qual propunha o seu emprego em substituição da Ceifa com Foice, ( M.E.da Ac.,T.V,pp1-44); Mem. Sobre as Aguardentes da Companhia Geral do Alto-Douro, de José Jacinto de Sousa (idem, T,III,pp 28-35); Mem.Sobre a Ferrugem das Oliveiras; Mem. Sobre a Agricultura deste Reino, e das Suas Conquistas, etc.( T.I);Mem. Sobre a Cultura das Vinhas em Portugal; Mem. Sobre a Cultura das Terras (?) Baldios que há termo na Vila de Ourém. Etc.

[3]José Silvestre Ribeiro, ob.cit.Tomo II, Pag.49 segs. e pp.268-269

[4] Romulo de Carvalho, A Actividade Pedagógica da Academia das Ciencias de Lisboa.1981