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História da Formação Profissional e da Educação em Portugal

Carlos Fontes

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Idade Contemporânea - 3ª. República (1974-1986)

Inovações Pedagógicas

O trabalho voluntário a favor da comunidade estava na ordem do dia. O Estado influenciado pelas campanhas de dinamização do MFA - Movimento das Forças Armadas dirige a diversos domínios estas acções. O Ministério da Educação poem-se em marcha o Serviço Cívico Estudantil como a prestação de um trabalho voluntarioso dos estudantes ao serviço a Comunidade. O Ministério do Trabalho toma a iniciativa de promover "Um Dia de Trabalho para a Nação" (1974 ) e nos seus centros de formação profissional até 1976 fala-se sem grande consistência numa nova metodologia denominada "formação-produção", mas que na pratica não passou de simples panaceia.

Em Setembro de 1975, ocorreu mesmo no C.F.P. de Rio Mião um Encontro cujo tema "Formação-Produção", mas pouco se alterou a pratica pedagógica dos Centros desta Direcção de Serviço. A ideia não era nova, mas o tempo não deixava de a suscitar.

Nos países mais industrializados a formação modelar estava na ordem do dia desde o inicio da década de setenta.

A formação modelar estava em voga na Europa  no inicio dos anos setenta. Tem origem nos USA, onde desde os anos sessenta se desenvolviam importantes concepções sistémicas de abordagem do ensino. A formação modelar foi particularmente teorizada  por autores, como R.  Houston, em obras como "Developing Instructional Modules", Texas. Univ. Houston, 1972.

A formação modular representava um corte com a antiga concepção de "curso", enquanto "percurso" ou "caminho" obrigatório para todos, onde a sequencia das matérias se fazia de modo inalterável e continuo. A formação modular partia da ideia de um ensino baseado em "módulos". O modulo era um conjunto de actividades de formação destinados a facilitar a aprendizagem. A Chave do sistema modular estava na ideia de que todos os elementos de um modulo ( Textos, videos, diaporamas, etc.), deveriam estar perfeitamente interligados num conjunto sistémico que abrangeria uma dada actividade. Um modulo, podia compreender apenas uma tarefa,  uma sequencia de sessões, ou um estágio, mas deveria sempre possuir uma unidade intrínseca e obedecer a algumas regras:

    - Objectivos. Os comportamentos esperados no final do modulo, deveriam estar claramente definidos.

    - Pré-Teste.  Os requisitos para concluir o modulo com aproveitamento deveriam estar indicados. 

  - Estrutura Lógica. Cada modulo deveria constituir uma unidade com principio meio e fim.

   - Estratégias. As diversas linhas de acção que poderiam ser seguidas para atingir atingir os resultados previstos, como a articulação possível dos diferentes módulos entre si, deveriam ser indicados em cada modulo.

    - Pós-Teste. A avaliação do módulo que permitiria ou não a continuação da formação, e a consequente passagem a um novo módulo escolhido de acordo com as opções do formando. De acordo com a situação especifica de cada formando, assim para uma mesma actividade ou profissão podiam ser seleccionados determinados módulos. O percurso formativo tinha assim a hipoteses de ser individualizado. Os formandos tinham a possibilidade de passar de um curso para outros, sem terem que voltar ao principio, através de um sistema de unidades que podiam ser capitalizáveis.   Deste modo possibilitava-se igualmente uma formação de aperfeiçoamento dirigida  aos pontos especificos em que o formando ( o trabalhador ) manifestava maiores carências, sem ter que seguir todo o percurso definido no curso-tipo.

A formação modular possibilitava ainda construir um sistema de auto-formação, carecendo neste aspecto de maiores investimentos em termos de recursos recursos didácticos adequados. Este sistema podia assim facilmente articular-se com uma estrutura de formação á distancia.

A ideia da formação modelar em Portugal começa a ser divulgada em 1975 aquando da missão da UNESCO que analisa o sistema de ensino entre nós e defende esta metodologia. A ideia foi depois retomada durante o desenvolvimento dos Projectos do PNUD no Ministério do Trabalho.

Contudo, será necessário esperar pelos anos oitenta, para que a questão volte a ser discutida e, após anos de trabalho infrutífero abandonada.

Em meados da década de setenta, no Canadá -Quebec já o sistema modular estava a gerar um novo modelo. O Centro de Desenvolvimento dos Perfis de Formação Profissional do Ministério da Educação, lançava os "Repertoires" (Inventários). As diversas profissões foram agrupadas em 22 campos de actividade socio-profissionais como se encontravam no Quebec. Seleccionado um campo descrevia-se em seguida verticalmente todas as tarefas inerentes a esse campo profissional, de modo a ter-se uma visão do seu conjunto, tão minuciosas quanto possível. Cada tarefa passava agora a ser "unidade" de um dado campo quando transformada em termos de capacidades constituía um módulo. Este módulo podia ser comum a várias profissões.

Em seguida procurava-se saber quais as profissões que possuíam unidades comuns num dado campo. Para o conjunto das profissões encontradas obtinha-se assim as "funções" comuns e por exclusão aquelas que lhes eram especificas.

A partir deste quadro de referencia passava-se em seguida a uma inventariação de todas as ocupações profissionais, com as respectivas tarefas devidamente referenciadas ás unidades já indicadas.

O sistema é moroso, exige meios consideráveis, mas tinha a grande vantagem de oferecer um quadro de referencia de módulos muito bem  estruturado de grande utilidade na elaboração de programas de formação profissional, não apenas no Estado como nas empresas.

Este sistema veio a ser estudado mais tarde no IEFP, mas dos vários estudos que então se realizaram nada de concreto ficou.

3. No Brasil, o SENAI com a colaboração com técnicos suíços começou a ser concebido um novo modelo: as "Séries Metódicas Ocupacionais", dentro da mesma linha da formação modular.

Este sistema será depois literalmente "traduzido" no IEFP, mas sem que daí resultem resultados convincentes.

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INOVAÇÕES PEDAGÓGICAS

 Mergulhado num sistema rigido de formação profissional, Portugal está ausente das grandes problemáticas e inovações que ocorriam no dominio da formação profissional.Eis algumas:

Métodos Activos

Nos  anos sessenta discute-se apaixonadamente os métodos activos no ensino e na própria formação profissional. Os acontecimentos de "Maio de 68" em França provocaram uma verdadeira revolução na AFPA, onde se começou a atribuir ao formando um pape mais activo na própria formação. A metodologia FPA estava pouco ajustada a este novo "espirito" e não tardou aqui a sofrer uma forte contestação.

PRODUÇÃO DE RECURSOS   DIDÁCTICOS 

A utilização dos meios audiovisuais  no século XIX, sofreu naturalmente a influencia nos novos "média" que foram surgindo, assim como foram "arrastados" pelas suas inovações tecnológicas. A aplicação dos mesmos á formação só raramente provocou o aparecimento de novos equipamentos.

CINEMA EDUCATIVO        

Desde o final do século XIX que se começaram a produzir filmes com o objectivo de servirem de suportes educativos. O primeiro terá sido na Alemanha ( 1890?) destinados aos agricultores, seguindo-se um outro nos USA para a marinha. Em 1910, era já publicado em França o primeiro catalogo de filmes educativos produzidos neste pais, Inglaterra e USA.

Os anos 20, quer na Russia , quer na Italia , os filmes de propaganda politicos começaram a ser largamente difundidos nas  escolas.

Nos anos trinta , o aparecimento do filme sonoro contribuiu para lhe dar uma aplicação mais ampla, no campo educativo.

A criação do filme de 8mm, foi a partir de 1960 um marco significativo na vulgarização do filme  educativo, dado que permitiu ao professores realizarem o seu próprio material didatico. 

Em Portugal , a discussão sobre a utilização do cinema como meio educativo, data já da primeira Republica, onde tematizada como autores como Adolfo Lima, Agostinho Campos e depois Antonio Ferrão ( Rogério Fernandes, "Para a História dos Meios  Audiovisuais na Escola Portuguesa, Sep. da Revista de Portugal, vol. XXXIV,Lisboa ).

Em 1925, Dec.lei. 1748 de 16‑2‑1925, ao mesmo tempo que fitas contrarias a moral e bons costumes, a menos que as mesmas fossem autorizadas pela Direcção-Geral do Ensino Primário, a lei tornava obrigatório , nos cinemas de Lisboa e Porto, a realização , duas vezes por mes, de uma sessão cinematografica de hora e meia, com a admissão gratuita das crianças das escolas oficiais.

Em 1932, publica-se um decreto lei, assinado por Carmona e Salazar, que criava a Comissão do Cinema Educativo, "com o fim de promover e fomentar nas escolas portuguesas o uso do cinema como meio de ensino e de proporcionar ao publico em geral a apreensão  fácil de noções uteis das  ciencias   positivas, das artes, das industrias e de história".

Nos anos cinquenta,  são  produzidos alguns curtos filmes  para apoio a uma "campanha de  alfabetização", promovida pelo ME.

RÁDIO

 A partir de 1960, sob a Direcção Geral de ensino primario , começam a ser produzidos programas educativos.  Em 1965 , são integrados na Telescola. Estes programas foram encerrados depois do "25 de Abril de 1974".

TELEVISÃO COMO INSTRUMENTO EDUCATIVO

Uma das primeiras experiencias mais importantes, realizou-se  em 1954, em Hargerstown,  Maryland,  USA. O objectivo era atingir uma comunidade rural muito vasta, mas altamente concentrada. As autoridades Locais , apoiadas pela Fundação Ford, criaram um centro de ensino televisionado que, em circuito fechado, transmitia lições para as escolas locais.  

Em 1965, no médio leste dos USA, estava em curso outra importante experiencia:  Os programas escolares eram emitidos do solo para um avião que em seguida os retransmitia para as pequenas escolas rurais. Deste modo se tornou possível fornecer a um vasto numero de pequenas escolas,  algumas delas possuindo apenas um ou dois professores, lições muito variadas e que seriam dificeis de ministrar localmente pela exiguidade de meios ( in,A Educação e o mundo Moderno, John Vaizev, 1968 ).

No inicio da década de 60, o problema da televisão como meio educativo salta para o primeiro plano. Principais iniciativas:

        - A 31 de Dezembro de 1964, é criado o IMAVE ( Instituto de Meios Audiovisuais de Ensino).  O IMAVE tinha como finalidade "promover a utilização , a expansão e o aperfeiçoamento das técnicas audiovisuais como meios auxiliares da difusão do ensino e da elevação do nivel cultural da população. Em 1969 , o diploma de criação do IMAVE é revisto, é criado então no Instituto de Meios Audio-visuais de Educação. Em 1971, o IMAVE passa por nova reorganização e denomina-se agora, Instituto de Tecnologia Educativa....

       - A 31 de Dezembro de 1964, é criada a Telescola. A telescola pretendia atingir uma população escolar residente em meios rurais, fortemente disseminados. O ensino que prestaria situar-se-ia ao nivel do ensino preparatório. Contudo é de assinalar, projectos mais amplos que a mesma teve: Pela Portaria n.21 113, de 17 de Fevereiro de 1965, permitia-se pela primeira vez "que os alunos possam prosseguir estudos no ensino tecnico profissional ou no ensino liceal" pela frequência e aproveitamento do Curso Unificado da Telescola".  partir de 1971/72 o ensino ministrado pela Telescola, que devido á recepção particular, nunca tivera grande expressão, sofre um grande crescimento, com a criação de postos oficiais. No ensino oficial, o total de inscritos passa de 2766 no ano lectivo de 1971/72, para 45949 em 1977/78.

Ao nivel da formação profissional conhece-se uma experiencia que adquiriu certo eco na imprensa. O Diário de Noticias regista-a: - "ciclo de teleformação rural ( por agora em circuito fechado ) inaugurado pelo Secretario de Estado  da Agricultura", DN, 12/12/71.

 SUPORTES ESCRITOS

O Ensino programado trouxe neste domínio contribuições fundamentais: desde o inicio da década de 60, que se constatou que a maioria dos programas das máquinas de ensinar, podiam ser passados a escrita, sendo a aprendizagem realizada com resultados identicos. O exito foi enorme, e tardaram a aparecer no mercado uma enchente de livros de instrução programada. A programação destes livros , seguia no essencial os principios já adoptados neste tipo de ensino:

- O método Linear de Skinner

 Apresentado em 1954 por Skinner e seus colaboradores, este método acentua a condução  dos alunos através de um comportamento desejado, numa lógica encadeada passo a passo, numa  dimensão adequada. Cada passo está construído de modo que a frequência de erros seja mínima, e sejam entrevistas um leque razoável de aplicações.

- O Método "Branching" de Norman Croward foi apresentado em 1959, e constrói-se em volta de pequenas unidades de informação. Em geral tratam-se de curtos textos, sobre os quais se desenvolvem uma série de respostas de respostas múltiplas.

Em Portugal o panorama neste domínio, ao nível da  formação profissional é algo praticamente ignorado. Os suportes escritos são os "clássicos", e mesmo esses nunca abundaram. A livraria Bertrand, relança a sua Biblioteca de Instrução Profissional ( ? ), e pouco mais haverá assinalar.

No plano editorial , o FDMO , para além de uma colecção de estudos e um boletim, caracterizou-se igualmente pela penúria de elementos de informação.            

O FDMO, assim como o IFPA, sempre se caracterizaram pela precaridade de meios didácticos. A quase totalidade dos materiais didácticos utilizados na formação não passam em geral de simples traduções de materiais franceses...

As mutações pós 25 de Abril de 1974 foram para o tempo ferteis de contestação ao sistemas instituidos. A "FPA " tornou-se para muitos o símbolo da formação profissional do antigo regime. O des-fasamento já verificado na formação que era ministrada e as necessidades do pais ajudaram a desacreditar rapidamente uma "metodologia" de formação. A grande questão não foi estudar um melhor ajustamento entre as necessidades e as ofertas de formação, mas sim mudar. Mas para que ? Neste ponto as interrogações eram enormes, e as tentativas sempre falhadas foram inumeras.

Em 1977, com o patrocinio das Nações Unidas vem a Portugal uma missão com o objecti-vo de divulgar uma nova metodologia : a formação modular. Esta metodologia em termos teóricos oferecia algumas vantagens importantes:

             - Os formandos tinham a possibilidade de passar de um curso para outros, sem terem que voltar ao principio, através de um sistema de unidades que podiam ser capitalizáveis. Deste modo possibilitava-se igualmente uma formação de aperfeiçoamento dirigida  aos pontos especifícos em que o formando ( o trabalhador ) manifestava maiores carências, sem ter que seguir o longo percurso da FPA.

             -  A formação modular possibilitava a auto-formação , no que exigia adequados recursos didácticos. Este sistema podia assim facilmente articular-se com uma estrutura de formação á distancia.

 De acordo com a situação especifica de cada formando, assim para uma mesma actividade ou profissão podiam ser seleccionados determinados módulos. O percurso formativo tinha assim a hipóteses de ser individualizado.

Contudo, será necessário esperar pelos anos oitenta, para que a questão volte a ser discutida  e, após anos de trabalho infrutífero abandonada.

Em construção !

  Carlos Fontes

Navegando na Educação

Notas: