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História da Formação Profissional e da Educação em Portugal

Carlos Fontes

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Idade Contemporânea - 3ª. República (1974-1986)

Ministério da Educação

 Prosseguindo as grandes linhas da Reforma de Veiga Simão de 1973, a "Revolução" a partir de 1975 irá construir um modelo de ensino cuja logica parecia muito linear, mas que se revelará mais tarde redutor da diversidade das perspectivas de articulação entre o ensino e a sociedade. Pretendia-se acabar com a descriminação social no ensino, expressa na divisão entre o "ensino liceal" e o "ensino técnico", não apenas facultando a todos o acesso ao ensino, mas ao topo do próprio saber e fundamento de todos os saberes-fazer: a Universidade!

   - A Escola assumia um papel  claro de transformação social

   - Os saberes parcelares ou tecnicistas são preteridos em função de uma consciência mais globalizante.

      As consequências deste modelo são conhecidas: os jovens que não entram nas universidades são lançados no mercado de trabalho sem qualquer formação de base que lhes permita encarar com alguma confiança a sua inserção profissional. O aumento do desemprego em   Portugal, e recorde-se que a partir de 1973 começa a tingir de modo particular os jovens, agravou este panorama.

      O ensino-técnico profissional é desarticulado. As escolas técnicas são descaracterizadas e absorvidas por um modelo unico de escolas : as escolas secundarias, que se transformam em verdadeiros corredores para as universidades, sem qualquer sentido quando não cumprem este objectivo primeiro.

    1. A Unificação da via liceal e da via  técnica iniciou-se durante o IV Governo Provisório, em 1975 [1], quando foi decidido unificar o curso geral do ensino secundário , fundindo-o numa mesma via. Esta unificação abrangia de imediato apenas o 7. ano de escolaridade , embora tivesse repercussões nos aos seguintes. O I Governo Constitucional (1976)[2] continuou esta politica para o 8. e 9 ano de escolaridade, com base nos estudos efectuados pelo VI Governo Provisório[3].

      Em 1978, o II Governo Constitucional determina que o nível complementar[4], o 10. e 11. ano de escolaridade fossem igualmente unificados, apesar do caracter vocacional que se pretendeu então introduzir a partir do 9. ano.

      2. Em 1975 lança-se um novo ano no ensino, que pretende inicialmente ligar os estudantes a um contacto mais estreito com a vida activa. Surgia assim o polémico "Serviço Cívico"[5].Este ano transforma-se rapidamente num expediente para adiar a entrada de novos alunos nos cursos superiores. A polémica sob de "tom" quando em 1977 ele é transformado no "ano propedêutico". O Diploma que o cria afirma já claramente novas intenções: "Portugal , é neste momento, dos poucos países da Europa ainda com escolaridade pré-universitária de apenas onze anos"[6]. Este novo ano apresentava o seguinte elenco de 5 disciplinas: Língua Portuguesa, Duas Disciplinas nucleares de cada curso, uma língua estrangeira ( a opção); uma disciplina

complementar. Os primeiros exames deste ano começaram a cercear o movimento de entrada nas Faculdades[7], reforçados pelo estabelecimento em janeiro de 1978 do "Numerus Clausus" (Portaria n.634-A/77), estendendo-se rapidamente a todos os cursos universitários e superiores. O 12. ano surgiu em 1980 . Na prática, o ensino a oferecer pelas escolas oficiais não superiores ía agora até ao 12. ano, sendo desvalorizadas todas as vias intermédias...

     3. A importância conferida ao ensino superior, onde as opções profissionais se alargavam, concorreu para a extinção do ensino médio, concretizado com a elevação a ensino superior dos cursos dos Institutos Industriais e Comerciais 

     A criação do ensino superior de curta duração em 1977, e depois dos Institutos Politécnicos em 1979, não constituiu num relançamento do ensino médio, mas sim na criação de novos cursos superiores ou mesmo novas universidades....

     A pirâmide formativa estava finalmente invertida: as maiores opções não estavam na base, mas no topo, nas Universidades e Escolas Superiores...

     4. Novas faculdades abriram nas Universidades antigas e as novas Universidades não pararam de aumentar. A margem do Estado e da Igreja surgiu pela primeira vez uma Universidade privada : a Universidade Livre de Lisboa. Malgrado as polémicas com o desvio de dinheiros, o seu exemplo acabará por ser seguido na década de oitenta.

  Em construção !

  Carlos Fontes

Navegando na Educação

Notas:

[1]. Esta reforma foi promulgada pelo Despacho n.523/75, de 31 de Dezembro de 1975, abrangia então o 7º,8º,e 9º ano. Rui Grácio foi um paladinos desta reforma.

    [2]. Sotto Mayor Cardia intervém na altura no sentido de acabar com este tipo de ensino unificado, mas acaba por lhe dar continuidade: Despacho n.243/76 -12-VIII, e Despacho n.54/77, 17-V.

    [3].Bartolo Paiva Campos, Unificação do Ensino Secundário e Orientação Escolar, pag.155, in,

    [4]. O 10º. ano unificado é lançado em 1978, mas arrasta atrás de si o 11º. ano. Os novos cursos complementares, que poem fim ao ensino tecnico e ao ensino liceal, eram constituidos por um tronco comum de disciplinas: o português, a filosofia, a lingua estrangeira, educação física. Para além destas surgiam cinco grandes áreas com 3 disciplinas obrigatórias, uma opcional, e outras especificas ( 2 a 4 ). Estas áreas eram as seguintes: Estudos Cinetifico- Naturais; estudos Cientifico- Tecnológicos; Estudos Humanisticos; Estudos Artisticos; Estudos Económico-Sociais. Esta reforma só se aplicou a ensino diurno. Apenas em 1983/84 se tornará equivalente o 1. e o 2. ano complementar nocturno ao 10. e 11 ano unificado diurno.

    [5]. Decreto-lei n.270/75.

    [6]. Decreto-lei n.491/77, publicado pelo Diário da Republica, de 23 de Novembro de 1977.

    [7]. "A limitação à entrada na Universidade não é uma ideia nova nos sistemas de ensino que, obrigados a abrirem a base do seu curriculo a grandes camadas da população, com o prolongamento da escolaridade  obrigatória, se sentiram na necessidade de adiarem a selecção e defenderem o último reduto do seu "templo da Cultura" e a "qualidade das suas elites" (... )chegou agora a vez à Europa do sul cujas Universidades já não se sentem suficientemente defendidas pelo sistema de selecção do secundário, e fecham as portas , apressadamente, á multidão ameaçadora dos candidatos às diferentes Faculdades", J. B., Propedeutico: A Seleccção dos "Mais Aptos", in, Jornal de Educação, n.1, Abril de 1977.