. História da Formação Profissional e da Educação em Portugal Carlos Fontes |
Idade Contemporânea - II - 1ª. República (1910-1926) Cultura Popular e Sindical Durante
a primeira República atingirão alguma repercussão social as chamadas
"universidades populares", que haviam despontado em
toda a Europa em finais do século XIX. Uma das primeiras iniciativas deste
género entre nós foi a Academia de Estudos Livres, fundada em
Coimbra em 1890, onde foram promovidos vários cursos destinados a operários. Duas
destas "universidades"
atingiram um lugar destacado neste movimento cultural: a Universidade
Popular Portuguesa e a Universidade Livre de Lisboa:
- "Universidade
Popular Portuguesa "foi inaugurada em 27 de Abril de 1919. Esta
Universidade possuía seis secções: na Cooperativa A Padaria do Povo, na
Associação de Classe dos Caixeiros de Lisboa, na Vila do Barreiro, na
Associação do Pessoal do Arsenal do Exercito, na Associação das Classes
Metalúrgicas, e na Associação da Classe dos Chapeleiros, e mais tarde
abriu-se outra secção em Faro. Tinha uma
importante publicação, a revista "Educação Popular".
Ligado a esta Universidade surgirão ainda os "Anais da Academia de
Estudos Livres."
- "Universidade
Livre de Lisboa" foi criada em Janeiro de 1912, e desenvolvia
um trabalho apreciável na realização de diversas sessões
culturais junto do operariado, através de conferencias, colóquios e cursos
livres. Para além de cursos de instrução primária, possuía cursos de
Escrituração, Dactilografia, Caligrafia e outros de carácter pratico.
"Desde a data da sua fundação a 28 de Janeiro de 1912 a igual data de
1914, tinha feito 42 conferencias, com uma assistência de 15198 pessoas;
366 lições em cursos com uma assistência de 18341 pessoas; distribuído
45.200 impressos educativos; publicado 26 livros cuja tiragem global foi de
102.000 exemplares"[1].
Esta universidade publicava um boletim mensal com o titulo de
"Universidade Livre". Estas
universidades cujo funcionamento se prolongou até aos anos trinta, são já
uma forma intelectualizada do
mesmo espírito educativo que despontara no século XVIII: levar os
progressos da ciência aplicadas ás diferentes artes ao povo.
Os
sindicatos operários, ligados ao movimento anarquista manifestaram sempre uma enorme preocupação em volta dos problemas da educação
e da formação profissional. Muitos sindicatos operários seguindo uma
tradição que remontava ao século XIX, possuíam escolas próprias de
instrução primária para os seus filiados e familiares.
Este movimento não apenas valorizou a "instrução" como elemento essencial á libertação dos trabalhadores, mas também construiu uma concepção ético-política em torno do trabalho e do bom trabalhador. A maioria dos trabalhadores que estiveram na base do associativismo operário no século XIX, e que o dirigem até aos anos trinta do século XX, estavam entre os mais qualificados das suas profissões. Desfrutavam de uma certa autoridade entre os seus pares. Eram os herdeiros dos antigos mestres e artífices medievais. Constitui
um exemplo paradigmático
desta atitude, as palavras do sindicalista Alexandre
Vieira:
"Fala-se muito em
Revolução Social ( ... ) mas verifica-se que grande numero de operários ,
em vez de se preparar para a
receber com as habilitações técnicas levadas ao máximo da perfeição,
a aguardam tornando-se SUCATEIROS impenitentes, não tendo a preocupação
de produzirem bem, mas a de produzirem muito, e mal. Não existe, em regra,
aquele culto pela profissão que dignifica os que a exercem, elevando-os á
categoria de autênticos valores sociais, mas nota-se antes o propósito
de DESPACHAR trabalho , sem ter em conta quanto mais bem executado se apurar
esse trabalho, mais valorizado será o profissional que o realiza, seja qual
for o ramo a que pretensa" (1926), in, Alexandre Vieira, Para a História
do Sindicalismo em Portugal.
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