Após a Crise de 2008
A crise na zona Euro, depois de
2008, gerou um novo jogo: prever o futuro da própria UE, dada a
interdependência da moeda única do projecto da União.
O economista Gavyn Davies, antigo
quadro da Goldman Sachs, em 2011, divulgou quatro cenários possíveis, que
com algumas alterações têm servido de inspiração para outros exercícios
futurológicos semelhantes. Desde então muitos estudos tem sido publicados
sobre o assunto.
1. Estados Unidos da Europa
A continuação da crise da zona Euro, seguindo a
receita do passado, provoca uma
aceleração do processo de integração económica, financeira e política da UE,
através de uma efectiva união orçamental, bancária, fiscal e política.
Os países em dificuldade, embora ajudados através de
abundantes empréstimos, serão obrigados a uma redução brutal dos seus defices e dívidas públicas, transferindo definitivamente para Bruxelas
grande parte da sua soberania. O seu crescimento será diminuto ao longo de
muitos anos, assistindo-se a uma emigração massiva dos seus quadros,
destruição do seu sistema produtivo e ao seu total domínio por parte das
economias mais prósperas da UE.
A Comissão Europeia e o BCE
assumem neste cenário um enorme
protagonismo, esvaziando o poder dos governos e parlamentos nacionais. O
BCE, como uma política mais interventiva, passaria a assegurar o
financiamento dos países em dificuldade, controlando como dissemos as suas
finanças.
A política da UE continuará a ser dominada pela Alemanha,
como potencia hegemónica, um facto que marca negativamente a
evolução da UE. A estratégia da Alemanha, um país com um elevado
indice de envelhecimento, desde o século XXI, tem consistido em atacar o "estado social europeu",
desregular o mercado de trabalho, centrando a crise do euro, apenas na redução do défice dos estados e na
diminuição da divida pública, através de brutais medidas de austeridade.
Esta
estratégia já lhe rendeu enormes beneficios económicos à custa dos países
em dificuldade, e nada leva a pensar que a venha a alterar no futuro.
O
Parlamento Europeu, que hoje tem um posição secundária, seria num futuro
distante
chamado a uma maior intervenção política, embora sempre submetido ao
directório alemão.
O avanço do Estado Federal exigirá, contudo, um enorme aumento do número de
funcionários de apoio à Comissão Europeia, BCE e outras instituições
comunitárias, implicando a obtenção de receitas próprias independentes não
controladas pelos estados membros. Neste quadro optimista, os cidadãos
europeus exigiriam o fim da tutela da Alemanha e de outros estados
contribuintes líquidos.
Um dos problemas desta integração acelerada está no facto de
nem todos os países da UE pertencerem à zona Euro, nem todos os que
pertencem à mesma, estão dispostos a perderem a sua soberania para salvarem
o Euro.
2. Saída de Países da Zona
Euro
Neste
cenário, acentuam-se as manifestações de falta de solidariedade entre os
estados membros. As desigualdades económicas e sociais no seio da UE
tornam-se cada vez mais chocantes. As
contribuições que os mais ricos dão à UE, são muito inferiores ao que
"recebem" sob a forma lucros obtidos por um mercado comunitário privilegiado
e um enquadramento legislativo os favorece. Os países em dificuldade são
mantidos num longo processo de estagnação económica, sem um efectiva
política investimentos industrial ou comercial. Os países beneficiários são sempre os
mesmos, o que agrava as tensões no interior da UE.
A UE tende a dividir-se em três grandes
zonas, nomeadamente no acesso ao seu financiamento: A "zona do Marco", na
Europa Central, dominada pela Alemanha; a "zona da Libra" ligada à
Grã-Bretanha, e a "zona dos países do sul da Europa".
2.1.Saída de países em dificuldade
Face ao panorama anterior, os países em
dificuldade, torna-se impossibilidade estabilizar a situação
económica e financeira n na zona euro, implicando a saída
da zona euro de um ou mais países.
Os países com maiores dificuldade, como
a Grécia, Portugal, Irlanda, Espanha ou mesmo a Itália, seriam convidados a
saírem de forma controlada do euro. Voltariam às suas moedas nacionais, o
que lhes permitiria controlarem a politica monetária.
Um dos problemas deste cenário, seria o descrédito da União
Europeia, assistindo-se numa primeira fase à valorização da moeda única. O
"núcleo duro" que ficasse, dominado pela Alemanha, não tardaria a entrar em
fortes tensões devido à desconfiança e contestação interna que naturalmente
despertaria.
2.2. Saída de Alemanha
Um dos cenários possíveis seria a saída dos seus membros mais
"fortes" e beneficiados, como a Alemanha ou a França. A desvalorização do euro permitiria
relançar as exportações das economias mais debilitadas.
Um dos problemas uma vez mais esta situação implicará o descrédito da UE, a eventual
introdução de medidas protecionistas.
3. Desintegração total
O agravar da crise da zona Euro, as tensões entre os vários
países, poderá levar ao abandono do euro, regressando cada país à sua moeda
nacional. O euro deixaria de existir por completo. A própria UE entraria em
colapso, dada a enormidade de acordos e processos que estão em curso
envolvendo a moeda única.
A Europa voltaria de novo ao modelo de regiões de "comércio
livre", concorrenciais entre si, mas sem qualquer intenção integradora.
Perderia a sua relevância mundial face ao EUA, Rússia ou China.
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