A China à Conquista
da Europa
Grande
potência até a século XVIII, humilhada pelos europeus no século XIX, e pelos
japoneses no século XX, acordou de novo a partir dos anos 80 do século XX,
abraçando um modelo de capitalismo sem regras.
Com a
abertura da China ao mundo, os EUA, a UE e vários países asiáticos (Coreia
do Sul, Japão) viram na mão de obra chinesa (abundante e barata), uma
incrível oportunidade de ouro para fazerem grandes negócios. As suas
unidades de produção foram deslocadas para a China, que rapidamente se
converteu na grande fábrica do mundo.
A exportação em massa de
produtos "made in China", permitiu-lhes acumular enormes reservas dólares, e
mais recentemente de euros.
Esta
deslocalização da produção das produção para China, se permitiu melhorar as
condições de vida de centenas de milhões de chineses, implicou o
maior dos desafios atuais do povo chinês: a satisfação do aumento do consumo
interno e das expectativas que foram sendo criadas na população (1,320
mil milhões pessoas, em 2011), o que
implicou uma procura de recursos à escala global. Esta
necessidade de recursos foi agravada com a crescente diminuição dos solos
agrícolas, devido ao aumento das áreas urbanizadas e construção de
barragens.
A China desde
os anos 80 do século XX, lançou-se então à procura de recursos (matérias
primas e terras agricolas) em África e
na América do Sul.
A grande
Oportunidade
A crise das
dividas soberanas que devora a União Europeia desde 2008, tem sido
aproveitada pela China para se estabelecer na EU, e tirar partido da
existência do Euro.
A China
tem investido enormes recursos financeiros na aquisição de euros, como
alternativa ao dólar. Adquiriu igualmente títulos de dívida de países em
dificuldade, como Portugal, Espanha, Grécia, Irlanda ou a Hungria, que lhe
permitiram depois obter certas vantagens na aquisição de grandes empresas
locais.
Não tardou a usar
também as suas enormes reservas de moeda, em
investimentos estratégicos capazes de garantir o escoamento
das suas exportações e obter "conhecimento" e "saber fazer"
(know-how), que lhe
permitisse modernizar as empresas na China, autonomizando-as.
Na Europa,
por exemplo, os investimentos chineses dirigem-se para sectores
estratégicos, como o das telecomunicações, portos e aeroportos,
infra-estruturas logísticas e produção de veículos.
Os
investidores chineses na Europa limitam-se, quase sempre, a explorar as
empresas que adquirem. Não fazem novos investimentos, nem promovem a sua
expansão ou modernização. A médio prazo são empresas tecnologicamente
ultrapassadas. O seu objectivo é apenas adquirem know-how e criarem
bases locais para a exportação dos seus produtos, dominando as rotas
mundiais de circulação das mercadorias.
A divisões
existentes no interior da EU, fomentadas pela Alemanha, facilitaram esta
penetração chinesa, nomeadamente nos países em dificuldade.
- A Grécia,
por exemplo, em 2010, viu-se obrigada a conceder aos chineses, a exploração
do importante porto do Pireo por um período de 35 anos.
- Portugal,
vendeu aos chineses, a empresa de electricidade EDP, com investimentos em
Espanha, Brasil, EUA, Moçambique, etc.
- Em Espanha,
a Repsol vendeu parte do capital da sua filial no Brasil aos chineses,
permitindo-lhes assim acederem a importantes recursos petrolíferos. A
empresa Eutelsat, operadora de satélites, passou também para mãos chinesas.
Não se pense
que isto só acontece com os países em dificuldade, outros exemplos:
- Na Suécia,
passaram a controlar a fábrica de automóveis Volvo, MG (Saab)
- Na França,
adquiriram um importante fabricante de tratores.
- Na
Alemanha, compraram a Putzmeister (máquinas de construção).
Fruto desta
estratégia, a verdade é que a gama de produtos exportados
directamente pela China é cada vez mais sofisticada e a preços imbatíveis,
esmagando a produção europeia e norte-americana.
O Problema
da Reciprocidade
A China
aderiu, em 2001, à Organização Mundial do Comércio, mas ficou desde logo
evidente que não respeitava as regras mais elementares de uma economia de
mercado. A UE, pelo contrário, assume-se como um mercado liberalizado,
deixando os seus estados membros numa situação muito desfavorável em relação
China.
A UE recusa-se adoptar medidas
protecionistas, limitando-se a apelar à boa vontade dos chineses para que facilitem a
entrada de produtos europeus. A reciprocidade nas relações comerciais
com a China é uma ilusão. As restrições que esta impõe às importações de
produtos europeus são
enormes. Por outro lado, copiam e produzem todos o tipo de produtos
europeus, sem que pagarem os respectivos direitos de autoria.
A política
comercial com a Europa assenta numa estratégia de divisão da UE. Percebendo as
suas profundas divisões internas, elegeram a Alemanha, como o seu principal
parceiro de negócios. Em 2011- 15% das exportações alemãs para fora da UE
tinham a China como destino. A
divisão da UE facilita-lhes a penetração dos seus produtos e capitais.
Estas
"facilidades" concedidas no quadro de relações bilaterais, não passam
todavia de medidas temporárias até os chineses dominarem o know-how da
produção dos produtos que importam. A experiência mostra que não tardam a
passarem de importadores a exportadores. |