A Ameaça Alemã
A ideia de uma União Europeia está ligada à magna questão de
controlar os ímpetos expansionistas da Alemanha, que estiveram no século XX
na origem de duas guerras mundiais. O problema colocou-se com particular
relevância, em 1945, após a derrota da Alemanha.
Os EUA tinham
então um enorme poder de decisão sobre os destinos da Europa. O grande
debate, em 1945, era o que fazer da Alemanha. O secretario do Tesouro
Secretario norte-americano Morgenthau defendia a sua desintegração.
O presidente Harry
S. Truman, na Conferência de Postdam (1945), chegou à conclusão que para
impedir o expansão da antiga União Soviética, havia que a manter unido o
território da Alemanha que ainda não estava controlado pelos soviéticos.
Decidiu apoiar também a Grécia e a Turquia, contra a expansão soviética, e
criar uma aliança militar dos países ocidentais (Pacto do Atlântico Norte).
1. RFA
É neste contexto de "guerra"
contra a expansão soviética que, em 1949, os aliados ocidentais, liderados
pelos EUA, apoiam a criação da RFA - República Federal da Alemanha,
que reunia as três zonas ocupadas pelos EUA, França e Grã-Bretanha.
Face ao receio que a RFA
voltasse a assumir-se como uma nova ameaça para a Europa, os
aliados criaram então uma comissão que se encarregava
da utilização do carvão e o aço pela industria da RFA. Esta Comissão
tornou-se num enorme obstáculo à re-industrialização da Alemanha, sendo
pedido o seu desmantelamento.
Foi neste contexto que
Jean Monnet, presidente do Plano francês de
modernização económica, concebeu uma alternativa
que permitia controlar o
processo de consolidação
da independência da RFA, integrando-a num quadro
de cooperação internacional.
A criação da Comunidade
Económica do Carvão e do Aço (Paris, 1951), constituída pela França,
Itália, RFA , Bélgica, Países Baixos e o Luxemburgo, foi na altura um dos
meios para controlar uma possível ameaça dos alemães ocidentais.
Os bons resultados desta
cooperação internacional, permitiu não apenas a sua rápida reconstrução, mas
sobretudo, que os alemães da RFA passam a ser vistos com outros olhos.
A União Soviética controla
uma grande parte da Europa, afirmando-se como uma potência mundial capaz de
enfrentar militarmente os EUA. Em 1956 invade a Hungria e esmaga a
insurreição da população. Face a esta ameaça, os países que haviam
constituído a CECA, em 1957, constituem a CEE- Comunidade Económica
Europeia.
A RFA continua sobre a ameaça
da União Soviética, que ocupada a outra parte da Alemanha, a RDA - República
Democrática da Alemanha. Os EUA, Grã-Bretanha e a França continuam a ter
tropas estacionadas na RFA, não apenas para a ajudarem a enfrentar a ameaça
soviética, mas também para evitarem o regresso ao passado.
O certo é que a RFA passou a
defender uma ativa cooperação internacional entre todos os "países
ocidentais".
2. Eixo Franco-Alemão
Se os anos 60 e 70 foram pouco favoráveis à
expansão das ideias federalistas no seio da CEE, devido às posições
nacionalistas assumidas pela França. A verdade é que os alemães da RFA
passaram a estar na linha da frente na defesa destas ideias.
Depois da queda da ditaduras em
Portugal (1974), Grécia (1974) e da Espanha (1975), havia que encontrar uma
solução para apoiar os novos regimes democráticos.
O problema era delicado nestes
países, onde se enfrentam os dois blocos militares que dominavam o mundo. A
RFA dá um importante contributo ao apoiar financeiramente os vários partidos
democráticos, enquanto a União Soviética e a RDA continuaram a financiar os
partidos comunistas.
Portugal, contando com o apoio
da RFA, em 1976, inicia a conversações para a adesão à CEE.
Nos anos 80, o bloco soviético
na Europa, está em plena convulsão. É neste contexto que a França e a RFA,
assumem como os impulsionadores de uma federação europeia. Este facto
ficou a dever-se à subida ao poder de dois importantes lideres políticos: o
socialista François Mitterrand foi eleito Presidente da França, em 1981, e o
democrata-cristão Helmut Kohl chanceler da Alemanha em 1982. Ambos tinham
bem viva a memória dos horrores da II Guerra Mundial. A presidência da
comissão da CEE foi dada a Jacques Delors. Em 1983 Mitterrand e Kohl
lançaram em Esturgarda uma "Declaração Solene", onde reafirmavam o desejo de
fazer da CEE uma verdadeira União Europeia. Delors foi incumbido de planear
os fundamentais que deveriam ser dados para atingir esse objectivo.
No ano em
Portugal e a Espanha aderem à CEE (1 de Janeiro de 1986), é aprovado o
Acto Único Europeu, que antecede a União Europeia (1992). A
Europa comunitária tinha agora 330 milhões de habitantes. Um PIB equivalente
a 40% do total do mundo industrializado, e 16% das exportações mundiais. A
CEE tornara-se uma força global, que atraia outros países europeus.
A RFA era já na altura o
principal motor económico da CEE, e igualmente o país que mais contribuía
para o desenvolvimento dos países com mais dificuldades económicas.
3. Nova Alemanha
A queda do Muro de Berlim (1989) provoca uma
mudança radical na Europa, mas também no mundo. O bloco soviético
desagrega-se, a Alemanha unifica-se.
A Alemanha defende a rápida
integração na União Europeia dos países que haviam pertencido ao bloco
soviético, consolidando dessa forma os novos regimes democráticos, mas
também alargando o mercado comunitário.
A unificação da Alemanha
implicou a mobilização de enormes recursos financeiros, para permitir
melhorar as condições de vida da população da antiga RDA. O resultado foi
durante vários anos um enorme descontentamento por parte dos trabalhadores
da antiga RFA que, devido à unificação, haviam perdido muitas "regalias".
4. Egoísmo ou Realismo?
Indispostos com os custos da unificação, os
alemães encontraram na "crise das dívidas soberanas", o pretexto ideal para
descarregaram a sua raiva nos países
do sul da Europa, acusando-os de "preguiçosos" e "esbanjadores" do dinheiro
que a Alemanha lhes dava...
A chanceler Angela Merkel, nascida e criada na antiga RDA,
prometeu a todos os povos do sul da Europa um castigo severo.
A Grécia foi a primeira vítima,
e pretextos não faltavam. Em 2009 os gregos descobrem que as suas
estatísticas oficiais eram uma fraude, a dívida externa era astronómica e a
despesa do estado estava completamente descontrolada. Os recursos do país
estavam a ser espoliados por uma infimidade de corporações e uma classe
política corrupta.
Os alemães arvorando-se em
defensores do rigor orçamental na UE, não pouparam as críticas e as
exigência ao povo grego para lhes emprestarem dinheiro a juros
especulativos. Era preciso castigá-los, e nesse sentido impediram o apoio
atempado da União Europeia.
A política alemã para os países
em dificuldade, para aprovarem qualquer plano de empréstimos, reduzia-se a
um conjunto de exigências muito claras. Estes países deveriam fazer, num
curto espaço de tempo:
a) Cortes nos salários, e nas
despesas do Estado na saúde, educação e segurança social. Estes cortes
abruptos empobreceram de imediato as populações dos países atingidos pela
crise, provocando fortes movimentos migratórios nomeadamente para a
Alemanha...
b) Desregulamentação das
relações laborais. A precaridade laboral e aumento dos horários de trabalho
passou a ser a regra.
d) Privatização ou
desmantelamento das empresas públicas, assim como a venda ao desbarato do
património público.
Enquanto isto acontecia, as
empresas alemãs, procuraram apoderar-se
das grandes empresas dos países em dificuldade ou reforçarem as suas
quotas de mercado. Trata-se de uma receita que aplicaram à
Irlanda, Grécia, Portugal, Espanha e... Itália.
4.1. O Grande
Negócio
A Alemanha ao exigir sempre
novas "medidas de austeridade" aos países em dificuldade, agravou a
dificuldade destes países pagarem as suas "dívidas soberanas". A
classificação das suas "dividas soberanas" foi colocada ao nível do "lixo",
a única forma se e financiarem foi junto de especuladores internacionais.
Quanto pior era a situação dos
países em dificuldade, mais a Alemanha lucrava, dado que era o único mercado
seguro na zona Euro. Os juros que pagou pelos empréstimos foram
historicamente os mais baixos de sempre, chegaram ser mesmo negativos.
Entre 2010 e 2014, segundo a
revista Der Spiegel, a Alemanha havia lucrado com a crise da zona euro 41
mil milhões de euros, registando apenas 600 milhões de prejuízo (Publico,
20/8/2013).
A apregoada "solidariedade
alemã" (concessão de empréstimos) tratou-se afinal de um chorudo negócio,
feito à custa do chamados "países periféricos".
Jornal grego, Junho de 2012. A
cancelar alemã é identificada como a encarnação de Hitler.
Em construção !
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