Carlos Fontes

 

 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Um Improvável Império: União Europeia

A União Europeia (UE) é uma associação (voluntária) de países que foram antigos impérios ou que resultaram da fragmentação de impérios. Todos eles tem uma longa história de guerras entre si pela conquista da Europa, mas também do mundo. Guerras que custaram a vidas a centenas de milhões de pessoas.

A verdade é que cada um destes países, por mais importante que seja economicamente no contexto europeu, não tem hoje poder para criar um novo Império na Europa, muito menos no mundo. Mesmo se o pretendesse fazer sozinho, tornar-se-ia um foco de desagregação da própria UE, gerando à sua volta uma força disposta a aniquilá-lo. 

A vocação imperial não desapareceu da Europa, muito pelo contrário está em continua reformulação. Só que agora passa pelo domínio dos processos de decisão no seio da UE, através de redes de alianças entre países:

1. Os países mais populosos (Alemanha, França, Polónia, Itália, Espanha, Grã-Bretanha) estão a organizarem-se num grupo que se pretende constituir como o directório europeu. Uma ideia que em tempos foi encarnada pelo eixo franco-alemão.

2. Os países de pequena e média dimensão tem feito múltiplas alianças entre si, para não serem engolidos por acordos que os ultrapassam.

3. Antigas alianças entre os vários países europeus continuam a ter o seu peso, nomeadamente na hora de concertar posições para evitar que esta ou aquela tendência prevaleça. 

O resultado destas acções é uma generalizada desconfiança mútua, não admira que todos os acordos globais (constituição, etc) se são aceites por uns, não tardam a ser recusados por muitos outros. Todos no fundo preferem que a UE continue na actual indefinição, dado que os poderes centrais estão diluídos. Os consensos obtidos são os possíveis, não os necessários. 

Apesar da UE ser já o maior bloco económico do mundo, a verdade é que não é nenhuma superpotência:

- Não tem uma estrutura militar comum nem uma política externa coordenada;

- Não existe sequer um consenso alargado sobre o seu próprio futuro, para além algumas questões mínimas sobre política económica. Mesmo neste domínio, as divisões são imensas e já começaram a provocar rupturas. 

A maioria dos países da UE atravessam enormes problemas na integração das suas novas e antigas comunidades nacionais. 

A única coisa que a UE tem sido eficiente é na criação de condições para as multinacionais realizarem uma rapina global. A célebre harmonização comunitária facilitou tudo. Os mercados nacionais desapareceram, os governos tem pouco poder, a precarização do trabalho passou a ser vista como uma inevitabilidade. O que hoje impera na UE são empresas cada vez maiores, com lucros astronómicos, mas avaras na sua distribuição. 

Por enquanto os conflitos, quase todos de natureza económica, não são de modo a colocarem em perigo a própria UE, pois as vantagens globais tem sido maiores que as desvantagens.

 
 

 

Turquia na UE ?

O que resta do antigo Império Otomano - a Turquia - pediu nos anos 60 a adesão à actual UE. A questão foi sendo adiada até que se deu inicio às negociações. 

Para a Turquia a adesão significa a consolidação do seu processo de ocidentalização, iniciado no século XIX, e depois imposto pela força por Mustafa Kemal Ataturk [Atatürk](1881-1938) como a única hipótese evitar a completa decadência do país.  A ocidentalização significa para a Turquia o controlo das correntes fundamentalistas do islamismo. 

O primeiro problema é que a Turquia não é, nem nunca foi uma democracia ocidental. É um regime controlado por militares, onde se permitem algumas encenações e rituais democráticos dentro de certos limites. O segundo é que, como todos os impérios ocidentais, o seu passado está repleto de massacres e genocídios de populações. Os povos vizinhos olham para este país com enorme desconfiança e não esquecem facilmente o horror do passado. 

A maioria dos países da UE olha também para a Turquia com idêntica desconfiança, mas tem medo sobretudo de outra coisa: o islamismo. A entrada da Turquia poderia significar uma porta aberta para uma maior difusão do islão na Europa e a entrada em massa de emigrantes muçulmanos. 

A França, onde 10% da sua população é islâmica está em pânico, e apressou-se já a dizer que irá  criar todos os entraves para que esta entrada nunca aconteça.

A própria UE sabe todavia que, se a adesão não ocorrer, a Turquia acabará por se afastar do ocidente, terminando dominada por grupos radicais islâmicos. 

 
   

Carlos Fontes

 
 

 

   
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