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Endividamento
Externo de Portugal
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A crise económica
que ocorreu em 2008, revelou um grave problema da economia portuguesa: o
país está a gastar muito mais do que a riqueza que produz. Para manter e
melhorar o bem estar das famílias e promover o desenvolvimento económico não pára de
se endividar ao exterior.
As dívidas do
Estado, famílias e empresas representavam em finais de 2008, cerca de 300% do
PIB. Um
fenómeno comum à maioria dos países desenvolvidos, mas que em Portugal
atingiu enormes proporções. | |
1.
Endividamento das famílias No
início da década de 90, a percentagem da divida das famílias portuguesas aos
bancos representava cerca de 25% dos rendimentos salariais. O
endividamento disparou na segunda metade desta década, e acentuou-se sobretudo
depois de 2002, quando foi introduzida a moeda única - o Euro. O acesso ao
crédito foi então extremamente facilitado. Em
2006, a percentagem de endividamento das famílias portuguesas atingia já os
120% do rendimento disponível, ou seja, o total dos salários num ano não
chegavam para pagar os empréstimos. A
partir de finais de 2008, um número crescente de famílias deixaram de ter
rendimentos para pagar os seus empréstimos aos bancos, passando a entregar-lhes
habitações e outros bens que haviam adquirido a crédito. Onde
é que as famílias portuguesas aplicaram os empréstimos? -
Aquisição de habitações. A maior fatia dos empréstimos foram
aplicados na aquisição de habitação própria. A maioria passou a morar em
casa própria, que está a ser paga ao banco. -
Aquisição de bens de consumo. As enormes facilidades de crédito
concedidas pelos bancos possibilitaram comprar ou pagar tudo com dinheiro
emprestado: automóveis, mobiliário, aparelhagens, roupas, férias, casamentos, funerais,
etc., etc. O valor desta fatia no total das dívidas das famílias tem vindo a
aumentar. O
sobre-endividamento das famílias constitui uma séria ameaça para a economia
de um país, na medida que implica o aumento dos crédito "malparado"
e em alturas de crise económica numa diminuição do consumo, que se reflecte de imediato em toda a actividade
económica. 1.2.
Poupanças O
elevado consumo que se registou a partir da segunda metade dos anos 90, caiu
bruscamente no final de 2008, tendo sido acompanhado do crescimento das
poupanças das famílias. Recorde-se que entre os países ricos Portugal era
daqueles cujas famílias menos poupavam e mais se endividavam. O crédito
fácil a isso estimulava. A
crise económica iniciada em 2008 estimulou alguma prudência no consumo e no
aumento das dívidas. A
consequência imediata desta reacção foi que o crescimento económico do país
deixou de poder contar com a procura interna (consumo), e está agora dependente
do comportamento das exportações das empresas, num mercado global cada vez
mais competitivo. | |
2. Endividamento das Empresas
O recurso ao crédito pelas
empresas aumentou de forma exponencial, não apenas para efectuar investimentos,
mas também para as operações correntes de tesouraria, como o pagamento de
salários.
Um número crescente de empresas
começou a endividar-se de tal forma que deixou de poder pagar os empréstimos
que contraiu.
Após abrirem falência,
descobre-se que há muito que os bens disponíveis não chegavam para pagar
sequer aos trabalhadores, quanto mais aos bancos.
A percentagem da divida das
empresas representava 100% do PIB em 1998, atingindo os 140% em 2008.
2.1. Empresas Estrangeiras
Numa economia aberta como a
portuguesa, é fácil de perceber que largos milhares de empresas sejam
estrangeiras. O seu investimento é fundamental para o desenvolvimento do país,
nenhum governo pode deixar de contar com as mesmas.
Muitas delas estão em Portugal
há mais de um século, mas a larga maioria entrou nas últimas décadas.
Em geral instalaram-se aqui
porque o Estado lhes proporcionou excelentes apoios ou porque o preço da
mão-de-obra é atractivo.
Em situações de crise mundial,
ligeira subida dos salários ou simples oportunidades especulativas,
endividam-se, deixam de investir, despedem trabalhadores, descapitalizam
empresas e acabam por fechar as empresas.
O valor do capital de
estrangeiros investido ou detido em Portugal, representava em 2008, cerca de
100% do PIB.
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3. Endividamento do Estado
As receitas dos Estado,
autarquias, regiões autónomas e empresas públicas, com o desperdício que
reina em Portugal, pouco mais dão do que para
pagar as despesas correntes.
Apesar disso, o Estado é hoje
chamado a intervir em todas os domínios da vida económica e social, não
apenas como regulador, mas sobretudo como garante de um vasto conjunto de apoios
e serviços aos cidadãos.
A despesa pública está
sempre a crescer, mesmo quando a riqueza produzida está estagnada.
Autarquias como a Câmara
Municipal de Lisboa há muito que as suas receitas não cobrem as despesas, a única forma de continuarem a funcionar e a investirem é
contraírem sempre novos empréstimos, re-negociarem dívidas, venderem
património para pagarem dívidas, etc. O processo de endividamento prossegue,
enquanto não se cortar com a parasitagem e o desperdício.
Défice do
Estado e Divida Pública
Ano |
Défice
do Estado em % do PIB |
Divida
Pública em % |
2006 |
3,9 |
64,7 |
2007 |
3,2 |
63,6 |
2008 |
3,7 |
66,3 |
2009 |
10,2 |
76,8 |
2010 |
9,9 |
94 |
2011 |
4,4 |
108,3 |
2012 |
6,4 |
123,6 |
2013 |
4,9
(previsão do governo) |
123,7
(previsão do governo) |
O défice do Estado que em
2008 que se situou nos 3,7%, em resultado da crise económica mundial disparou,
para 10,2% no ano seguinte
A dívida pública passou de
50,4% em 2000 para 66,3% em 2008, um valor que naturalmente também
disparou.
Um
nível de endividamento que não deixará de pesar no valor dos juros dos novos
empréstimos, assim como poderá representará um pesado fardo para as novas
gerações.
Ninguém dúvida que os
investimentos públicos são fundamentais para melhorar as condições de vida
da população e promover o desenvolvimento económico. No entanto, mais
investimento público significa mais dívidas.
A maioria dos investimentos públicos são
feitos à custa de créditos obtidos nos bancos nacionais e no estrangeiro.
Ao
contrário dos particulares o Estados português não pode abrir falência,
tendo portanto de recorrer
a vários meios para pagar as suas dívidas aos
bancos:
- Aumento dos impostos
directos e indirectos. As classes médias, em regra, são as mais atingidas.
- Venda de património,
nomeadamente reservas de ouro, privatização empresas publicas, alienação de propriedades, etc.
- Corte nas despesas e nos
investimentos para financiar os juros e o pagamento das dívidas. Um dos
expedientes mais usados.
Estes expedientes tem um elevado
custo social e económico, implicando quase sempre o empobrecimento do país,
assim como o aumento das desigualdades sociais.
A única alternativa viável é
combater o desperdício do Estado, seleccionar melhor os investimentos, utilizar de forma mais racional os recursos
existentes e limitar o endividamento das várias entidades públicas.
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4. Endividamento dos Bancos
O aumento do endividamento
privado, provocou uma brutal diminuição das poupanças. Os bancos para poderem
conceder crédito aos seus clientes, o seu principal negócio, tiveram que
passar a contrair empréstimos no exterior.
As facilidades de crédito que
concederam fê-los superarem todas as margens de segurança em termos de
endividamento.
Em 2008, os clientes do BPN
quando foram ao banco para levantarem os seus depósitos verificaram que o banco
não tinha dinheiro, estava falido. O Estado português desde então não
tem parado de injectar dinheiro neste banco para evitar a sua ruptura falência.
A única saída possível para
este problema é aumentar as margens de segurança dos bancos e as garantias na
concessão de crédito (o que implica alguma restrição), estimular as
poupanças e exigir uma maior transparência no sistema.
4.1. Fuga de Capitais
Um das principais constatações
que se retirou da crise de fins de 2008 é que os bancos, tinham um vasto
sistema de desvio para o estrangeiro das poupanças do portugueses, muitas vezes
sem conhecimento dos clientes ou do Banco de Portugal (supervisor):
- Investiam no estrangeiro em
negócios de alto risco.
- Investiam em "offshores".
As poupanças deste modo
beneficiavam outros países, em particular os EUA.
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5. Desequilíbrios da Balança de
Pagamentos
A situação é tanto mais grave quando se constata que existe um profundo desequilíbrio na
balança comercial de Portugal. O valor do que importamos é superior ao que
exportamos.
Nas importações portuguesas,
a energia (petróleo, gás natural, combustíveis sólidos, etc) representam
cerca de 50% do valor global, em termos de valor cerca de 6% do PIB (2008). A dependência energética
externa de Portugal rondava, em 2005, os 86% da totalidade do consumo. Um valor
excessivo que a política iniciada em 2005 está a combater com resultados
excelentes.
O aumento do preço do petróleo
reflectem-se de forma imediata na balança comercial. Neste sentido, a única
forma de combater o problema é continuar a apostar nas energias alternativas,
utilização de transportes públicos e melhoria da eficiência energética.
As exportações portuguesas
tem que ser incrementadas, nomeadamente para novos mercados, o que exige uma
política activa de apoio às empresas exportadoras, incremento da investigação tecnológica,
desenvolvimento da diplomacia económica,
etc. Uma estratégia que exige tempo, persistência e importantes recursos
económicos e humanos.
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6. Especulação Global
Em Abril do 2010, os países do Euro
sofreram uma ataque especulativo global. As agências de rating
(americanas: Standard & Poor's, Moody's
Investors Service, etc) consideraram de alto risco as finanças da
Grécia. O elevado défice do Estado grego, aliado à pouca credibilidade das
suas estatísticas, lançou a moeda única numa crise profunda.
A especulação alastrou a outros
países: os elevados défices públicos de Portugal, Espanha, Irlanda, Itália e
outros países da Eurolândia, favoreceram os movimentos especulativos, fazendo
disparar os juros dos seus empréstimos no exterior, e consequentemente
provocando o aumento do seu endividamento. Portugal foi particularmente
penalizado. Desafios
Face à crise económica, não
está em questão o aumento dos investimentos públicos, mas sim a sua
qualidade.
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Carlos Fontes | |
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