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Grande Mudança. A
Europeia sofre de um grave problema: o envelhecimento da sua população. A
maioria dos seus países carece de mais imigrantes
para manter o nível de vida que alcançaram. A
este problema juntou-se um outro: A fonte de recrutamento
deixou de ser os países do sul da Europa (Grécia, Itália,
Espanha e Portugal). Estes debatem-se hoje com o mesmo problema. Acontece
que os novos imigrantes são agora oriundos de regiões do mundo com outras
matrizes culturais. Esta alteração está a provocar uma crise profunda nos modelos tradicionais de acolhimento dos
imigrantes. Não só os modelos de integração deixaram de funcionar, como
também os novos imigrantes muito a custo se identifica com a cultura dos
países de acolhimento, assumindo em muitos casos uma atitude de repulsa ou
contestação. Exportadores tradicionais.
Até
finais aos anos 70 do século XX, os países Europa economicamente mais
desenvolvidos da Europa (Inglaterra, França, Alemanha, etc), recrutaram a
mão-de-obra que careciam nos países europeus com economias mais débeis.A
integração destes imigrantes raramente atingia as situações dramáticas
que hoje ocorrem com bastante frequência. A razão é simples: a) a matriz
cultural europeia era a mesma, o que facilitava o seu processo de
integração; b) a imigração era assumida como algo transitório, embora
nem sempre tal acontecesse.
Nos anos 80 do século XX, os países com as mais débeis economias da
Europa, com destaque para a Irlanda, Grécia, Espanha, Portugal ou a Itália
, começam a registar melhorias muitos significativas nas condições de
vida das suas populações. As taxas de natalidade não tardam a cair,
aumentando significativamente a também a esperança de vida. De países
exportadores de mão-de-obra não tardaram a passar a países
importadores. Antigas colónias
europeias. Nas
antigas colónias europeias ocorreu nos anos 80 outro fenómeno importante:
o empobrecimento generalizado das respectivas populações, o qual foi
acompanhado de um forte surto demográfico. Continentes inteiros como a
África mergulharam em catástrofes colectivas, guerras e fome sem fim. A
única alternativa que resta a milhões de pessoas destes continentes é
emigrarem para os países mais prósperos, buscando apoio nomeadamente nas
suas antigas potências coloniais.
A Europa vê-se agora confrontada com uma nova fonte de recrutamento da sua
mão-de-obra. Os novos imigrantes são agora provenientes de regiões do
mundo com outras matrizes culturais, em especial dos países islâmicos,
onde as taxas de natalidade são elevadíssimas e a miséria atinge níveis
insuportáveis. Modelos de Integração. Os
modelos de
integração destes
imigrantes sofre poucas reformulações, a maior parte dos países permanece
agarrado aos velhos modelos criados para acolher a imigração
intra-europeia. a) A
França começou a ser lentamente islamizada, em consequência de vagas
sucessivas de novos imigrantes, nomeadamente das suas antigas colónias
africanas, na sua maioria islamizadas. O número muçulmanos não parou de
aumentar (cerca de 10% da sua população francesa). Os grandes valores
republicanos com que a França integrava facilmente os imigrantes europeus,
começaram a não surtirem efeito. A França começou então a depurar as
suas referências culturais para se ajustar a esta nova realidade. Do ensino
oficial, por exemplo, foram sendo abolidas todas as referências à
sua matriz cristã de forma não provocar qualquer reacção entre os
muçulmanos. A custo o Estado foi introduzindo medidas para
conter a exteriorização das expressões culturais e religiosas dos novos
imigrantes. A verdade é uma larga franja da população muçulmana não só
se manifesta avessa à sua completa integração social, como afirma que
não se identifica com os valores republicanos e a cultura francesa. A
polémica em torno da proibição do véu nas escolas é, neste contexto, um
caso emblemático de um mal estar generalizado. A França sonha neste
momento com o afrancesamento do
islamismo formando os imanes das mesquistas. Os orgãos de informação
estão centrados quase que exclusivamente nas grandes problemáticas da
modernização do islamismo.Sinais do tempo. b)
A Inglaterra e a Holanda há que adoptaram um modelo próprio
integração: o multiculturalismo, isto é, cada imigrantes pode ter valores que
quiser, viver como entender, praticar a sua religião, mas não pode é
interfirir na ordem instituída. Tudo isto é nome da tolerância e dos
direitos do indivíduo. A verdade é que estas sociedades acabaram por entrarem numa lógica
segregacionista. Naturais para um lado, estrangeiros para outro. Este modelo
pode ser mantido sem grande problemas, enquanto o número de imigrantes não europeus era
reduzido. A situação está hoje totalmente alterada. Por toda a
Inglaterra e Holanda pululam autênticos guetos de imigrantes das mais
diferentes origens. Em resultado de fortes sentimentos de exclusão social irrompem com
bastante frequência movimentos hostis à matriz cultural destes países. A
dimensão atingida por estas comunidades é hoje dificilmente controlada
pelos Estado. Muitas afirmam-se abertamente excluidas, não se identificando
com a cultura destes países de acolhimento. A alternativa para resolver a situação - mantendo o modelo
segregacionista - passa por reforçar os mecanismos de controlo de cada indivíduo(
mais polícias, ficheiros, etc).
c)
A Alemanha e a Suíça levaram até às ultimas consequências
o modelo segracionista, impondo uma clara separação entre
"naturais" e "imigrantes. Estes últimos são mantidos desde
a sua chegada á
distância, sendo-lhes dito que não passam de mão-de-obra descartável sempre que a situação o exija. Apesar do
elevado número de imigrantes turcos existentes na Alemanha, a verdade é
que apenas um
pequeno número conseguiu naturalizar-se alemão. Mesmo neste caso são
sempre olhados como estrangeiros, intrusos numa sociedade a que não
pertencem. Neste quadro dificilmente um turco se pode identificar com a
cultura alemã, sentindo-se um alemão. A Suíça foi ainda mais longe nesta
lógica segregacionista é acaba de votar
uma lei que impede a naturalização dos filhos dos imigrantes que há três
gerações residem neste país. A questão não era grave quando os imigrantes eram europeus,
estes limitavam-se a regressar aos seus países de origem. O que parece não
quererem a maioria dos imigrantes que são oriundos de Àfrica, Ásia ou
América Latina. Acontece que o seu número não tem parado de aumentar, o
que não tardará a provocar um aumento das tensões raciais nestes
países.
d)
A Espanha e a Itália representam situações particularmente
dramáticas neste contexto. As taxas de natalidade dos naturais são tão
baixas que as respectivas populações estão a ser lentamente substituída
por outras etnias estrangeiras, nomeadamente oriundas dos países
muçulmanos. A reposição da mão-de-obra é já hoje feita à custa de
estrangeiros. Alguns cenários apontam para a dissolução dos espanhóis
entre os povos do Magrebe, o que acontecer seria uma curiosa ironia da
História, num país que durante séculos se bateu pela limpeza do sangue.
Não é por acaso que face a este fenómeno as manifestações racistas,
nomeadamente contra os negros e os marroquinos, têm vindo a aumentar por
toda a Espanha.
e) Portugal
padece do mesmo problema do envelhecimento da sua população. Se até
ao momento parece não possuir problemas com a integração da comunidade
muçulmana (cerca de 34 mil indivíduos), não deixa de os ter com os
imigrantes de origem africana. Uma larga percentagem dos filhos destes
imigrantes está longe de se sentir identificado com a cultura do país,
facto confirmado em diversos inquéritos. Esta questão é agravada pelas
deficientes condições em que continuam a viver dezenas de milhares destes
imigrantes. A exclusão social de muitos destes imigrantes e dos seus
descendentes é dado incontornável em toda esta questão.
Princípios fundamentais.
A questão do envelhecimento
da população afecta a maioria das sociedades europeias, tendo contribuído
para alterar a própria constituição dos seus imigrantes. A situação
pode ser minorada, mas não abolida. A única coisa que podemos ter a
certeza é que imigração veio para ficar e irá mesmo aumentar. A grande
questão é saber que modelo de integração deverá ser adoptado,
respeitando sempre a dignidade de cada pessoa independentemente da sua
origem, religião ou condição social. Este
é o princípio basilar que não pode ser esquecido.
Carlos Fontes | |