1. Língua.
Fernando Pessoa, afirmava que a língua portuguesa era a sua pátria. Uma
pátria comum a mais de 220 milhões de pessoas em todo o mundo. Mas a língua
não esgota o sentimento de comunidade. Milhões de pessoas que não falam o
português, nem por isso deixam de se sentir menos ligadas às suas raízes
lusofonas.
2. Património cultural.
em todos os continentes do mundo existem milhares de cidades, vilas e aldeias
fundadas por portugueses. Em muito lugares preservam-se importantes testemunhos
de antigas comunidades, noutras apenas simples vestígios ou tradições cuja
origem é apenas localmente recordada ou recriada. Na maioria dos casos, em
volta destes lugares (topos) não apenas se constróem identidades, mas se
continuam a cruzar influências numa rede que ultrapassa a própria língua
falada.
Em 2005, dois locais ligados à
presença portuguesa no mundo foram promovidos a património da Humanidade pela
UNESCO. Um foi na Barém (golfo Pérsico) outro foi na China (Macau). Em ambos
os casos, os respectivos países procuraram assinalar a importância dos mesmos
como pontos de encontros de povos, culturas e civilizações.
3. Pessoas.
Em muitos países do mundo existem milhões de pessoas descendentes de
portugueses, não falam português, mas nem por isso deixam de evocar as
suas raízes, afinidades ou afectos lusófonos. Ainda recentemente, um planeta
foi baptizado de Moraes pelo cientista que o descobriu, o japonês Hiromu
Maeno (2). Pretendeu desta forma homenagear o escritor português Wenceslau de
Moraes que viveu e morreu no Japão entre 1898 e 1927, tendo realizado um
pioneiro na promoção da cultura japonesa no mundo ocidental.
Confinar a "lusofonia"
à questão da língua portuguesa é manifestamente limitativo. O espaço de
cumplicidades e afectos é muito mais amplo, abrange o mundo.
Carlos Fontes
(1) Richard Zimler é autor entre
outros títulos de "O Último Cabalista de Lisboa", "Goa ou o
Guardião da Aurora".
( 2) O planeta tem cerca de 10
quilómetros e gira numa órbita de 5,53 anos entre Marte e Jupiter.
|