|
1. Organização e
Competências
O retrato da
justiça em Portugal não podia ser pior. A própria Ordem do Advogados, em
2005, falava
numa verdadeira galeria de horrores: -
Processos que se arrastam anos a fio nos tribunais e que acabam por prescrever. -
Elevado número de presos preventivos O
comum dos cidadãos há muito que deixou de acreditar no sistema judicial em
Portugal. Os
que trabalham no sector (juízes, funcionários, etc) queixam-se da falta de
meios. A maioria da vezes tem razão, só que as coisas não assim tão simples.
Num sistema que funciona de forma caótica nunca haverá meios que cheguem, dado
que os mesmos serão usados de forma perdulária e portanto esbanjados. O
discurso da "falta de meios" tornou-se no argumento usado para
justificar posições corporativas e a incompetência de muitos agentes da
justiça. Apesar
deste panorama deprimente não tem parado de aumentar o número
de tribunais, prisões, magistrados judiciais, magistrados do ministério
público, funcionários judiciais, advogados, etc, etc. Os
juízes, por exemplo, tem hoje condições remuneratórias muitíssimo melhores do que
aquelas que tinham num passado recente. O problema é que antes o sistema
funcionava melhor do que hoje, apesar da continua injecção de dinheiro dos contribuintes no sistema.
Este é o
grande paradoxo da justiça em Portugal, onde não se apuram responsabilidades. Em
termos estatísticos, a justiça em Portugal possui recursos humanos e técnicos
acima da média comunitária, mas o problema é que nada funciona.
A primeira grande
constatação é que estamos perante um colossal problema de
organização e de gestão dos tribunais, agravada por uma clamorosa
incompetência de grande parte dos agentes judiciais.
.
2. Justiça, Corrupção e
Economia
O mau
funcionamento da justiça constitui um dos maiores obstáculos ao
desenvolvimento económico de Portugal, ao minar as relações económicas,
instalando um clima de impunidade. A
corrupção no Estado é uma das causas que mais contribuiu para o total descontrole das contas
públicas. 1. É prática corrente as derrapagens nos custos das obras
públicas, muitas vezes em consequência do desvio de verbas para as mãos de
particulares ou o pagamento (suborno ) de políticos, dirigentes,
funcionários, etc. 2. É habitual a migração de responsáveis
públicos para o privado, depois de servirem no Estado os interesses das
empresas que os contratam. As admissões na função pública, e em
particular nas autarquias, são frequentemente conduzidas de forma pouco
transparente, o que tem facilitado estes esquemas de corrupção; 3. Os
serviços públicos dificultam o acesso dos cidadãos à documentação
dos processos, facilitando deste modo o secretismo destes negócios
obscuros. Qualquer
empresário que pretenda investir num negócio não especulativo,
afasta-se naturalmente de uma sociedade dominada pela corrupção. Ele nunca sabe quanto
terá que investir para abrir um negócio, nem sequer se alguma vez irá
receber aquilo que investiu. A
ineficácia da justiça portuguesa estimulou também o aumento das dívidas, a
maioria dos processos civis que entram nos tribunais. Os devedores estão
convencidos que nunca terão que pagar devido à morosidade da justiça,
acabando os processos por prescrever. Os tribunais estão atafulhados de
processos de dividas, cujo número não pára de aumentar. É neste clima
favorece a corrupção, mas também a irresponsabilidade que predomina na
administração pública. O
mau funcionamento da justiça em Portugal, nos últimos tempos, foi um dos
factores que mais contribuiu para a crise económica que se instalou na
sociedade portuguesa. É hoje consensual que se não mudar esta situação, o
país está condenado a ser um dos mais pobres na União Europeia. . |
|
|
3.
Leis Mediocres
Os
agentes da justiça atribuem os seus péssimos resultados à qualidade das leis
produzidas em Portugal, a maioria das quais são mediocres. Com uma matéria
prima tão má é difícil produzir uma justiça de melhor qualidade.
A legislação é abundante,
contraditório e levanta tantos problemas de interpretação que qualquer reles
advogado de defesa pode arrastar ao longo de anos e anos um simples
processo.
A culpa do estado calamitoso da
justiça deve-se assim, na perspectiva dos juízes, à incompetência dos
deputados da Assembleia da República.
Na opinião pública gerou-se
a convicção que os principais partidos políticos têm interesse nesta
legislação confusa e contraditória, pois são cada vez mais frequentes os
políticos abraços com processos judiciais.
4. Investigação Criminal
A investigação da pequena e
média criminalidade sempre foi excelente em Portugal, o problema com a
criminalidade complexa.
As diversas polícias tem falhado
sistematicamente na resolução destes casos, nomeadamente os que envolvem
banqueiros, empresários e figuras públicas, terminando quase sempre com o
arquivamento dos processos.
Nas últimas décadas tem-se
assistido a uma "estranha" coincidência destas investigações, que
se arrastam ao longo dos anos, com os ciclos eleitorais. Os investigadores
criminais aparecem claramente envolvidos em estratégias político-partidárias,
contribuindo desde modo para o completo descrédito da justiça em Portugal.
5. Número do Sistema de Justiça em Portugal
(Dados de 2004)
Custo do Sistema Judiciário: 552.462.601 euros.
Processos entrados nos tribunais: 116.344 processos criminais (1.105 por cem mil habitantes).
Decisões judiciais: 99.747.
Advogados: 22.418 (212,9 por cada 100 mil habitantes)
Juízes: 1.754 (12,8 advogados por
juiz ).
Procuradores: 1.217 procuradores (11,6 por cem mil habitantes)manha Comarcas:
213. |