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Invasões Franco-Espanholas

(1801-1813)

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A segunda metade do século XVIII é marcada por profundas mudanças políticas no mundo. Os regimes absolutistas começam a ser substituídos por regimes democráticos. A Independência Americana (1776) e a Revolução Francesa (1789) são dois marcos neste processo, gerador de receios, mas também de simpatias. A França, após um curto período democrático, não tarda em evoluir para um regime ditatorial e expansionista. Os "revolucionários" entregam-se à pilhagem dos vários países europeus, sob o pretexto de estarem a difundir a "Liberdade, Fraternidade e Igualdade". A chegada do ditador Napoleão Bonaparte ao poder (1799) lança a Europa numa guerra total, onde cerca de quatro (4) milhões de pessoas são mortas, cerca de 300 mil eram portuguesas. 

É neste contexto que a 23 de Fevereiro de 1793, a Espanha declara guerra à França. Portugal alia-se a Espanha e ambos invadem a França. Em segredo os espanhóis aliam-se aos franceses e negoceiam a partilha de Portugal (1796) e a sua invasão começa a ser planeada em segredo. As clausulas secretas do Tratado de Santo Ildefonso (19/8/1796), estabelecem já uma invasão conjunta. Sob as ordens do ditador Napoleão, os traidores espanhóis prontificam-se a pressionar Portugal para a abandonar a sua aliança com a Inglaterra de forma a isolá-la. Trata-se do pretexto para a invasão. 

1. Invasão Espanhola - 1801

A França ordena a Portugal, que renuncie à sua aliança com a Inglaterra e participe no bloqueio económico a este país. Portugal recusa. A Espanha, aliada da França, declara guerra a Portugal (27 de Fevereiro de 1801). Ao longo da fronteira instala um forte dispositivo militar pronto para a invasão. Na região de Badajoz, contava com 40 a 54.200 soldados. As tropas francesas, sob o comando do general Leclerc somavam 15 mil esbirros. A invasão dá-se pelo sul, ocorrendo por todo o lado matanças e saques. Olivença é então usurpada, ficando a partir daí como o símbolo desta barbárie franco-espanhola. Portugal cede. As tropas espanholas retiram, a fim de prepararem uma nova ofensiva com maior número de franceses. 

Nas cláusulas secretas do Tratado de Fontainebleau (1807), a França e a Espanha chegam a um acordo quanto à divisão de Portugal e ao modo como se procederia à invasão. O negócio fica feito e os assassinos não tardam, mais uma vez, a porem-se em marcha para a matança e a pilhagem.

2. Primeira Invasão Francesa -1807

O exército francês, com o apoio da Espanha, onde tinham tropas estacionadas desde 1801, em Novembro de 1807, invade Portugal. Os assassinos são chefiados pelo General Junot, que entre um ano ano fora embaixador da França em Portugal. Antes da sua chegada a Lisboa, a familia real portuguesa parte para o Brasil, ordenando que as tropas invasoras fossem bem recebidas. 

Junot ocupa Lisboa e estabelece uma ocupação militar de todo o território, contando para isso com a ajuda de duas divisões espanholas, uma comandada por Taranco vinda da Galiza, com 6 mil soldados que se entregam ao saque do norte de Portugal. A outra, vem com os franceses pela Beira Baixa, sob o comando de Carrafa com 10 mil soldados que se dedicam ao saque do sul do país.

O clero, a nobreza, juizes, oficiais do exercito, alto funcionalismo público e a incipiente burguesia que não foi para o Brasil, adoptam uma atitude colaboracionista com os invasores. Junot, afim de evitar qualquer insurreição armada, desmantela o exército português, assim com as estruturas administrativas. 

Seis meses depois do inicio da ocupação, as classes populares,depois de uma fase inicial de expectativa e desorientação, organizam motins contra os invasores e os colaboracionistas.

Em Junho de 1808 do Minho ao Algarve a revolta está generalizada. Bandos de guerrilheiros iniciam uma matança sistemática dos ocupantes onde quer que eles se encontrem. Parte da tropas espanholas, desertam fungindo para Espanha. 

Grande parte do clero, muda de posição é adere à revolta popular, identificando os franceses e os seus lacaios espanhóis e os colabopracionistas com ateus, jacobinos. A sublevação popular assume uma dimensão religiosa. Em Trás-os-Montes, as tropas francesas chefiadas pelo general Lioson, acunhado de Maneta, são pela primeira vez obrigadas a recuar para evitarem serem chacinadas pela população. 

Os franceses reconhecendo que não conseguem dominar a revolta, procuram atemorizar as populações praticam enormes matanças, destroem cidades, vilas e aldeias. O que faz aumentar ainda mais a revolta popular.

Junot, em Julho de 1808, percebe que tem as suas ligações a Espanha e França praticamente cortadas pela continuas revoltas populares, e procura concentrar as tropas em Lisboa, onde a situação é cada vez mais instável.   

3. Apoio Inglês

Enquanto os franceses se entregam à destruição de Portugal, a 1 de Agosto de 1808, o general Wellesley, futuro duque de Wellington, desembarca junto à foz do Mondego, com uma força expedicionária luso-inglesa, constituida por 10 mil soldados, 200 cavalos e 18 peças de artelharia. Dirigem-se para Lisboa, onde Junot está praticamente cercado.

As tropas franco-espanholas são derrotadas a 19 de Agosto na batalha da Roliça, e dois dias depois na batalha de Vimeiro. 

Junot inicia a negociações para uma retirada de Portugal, evitando uma derrota esmagadora. A situação em Lisboa tornara-se insustentável. Os ingleses, em segredo, concedem-lhe tudo o que o mesmo pede. No dia 22 de Agosto, as tropas franco-espanholas abandonam Portugal, umas vão para Espanha, outras embarcam em navios ingleses em Lisboa, com o produto do saque que haviam aqui efectuado (Convenção de Sintra).

Os bandos de guerrilheiros não desapareceram, mas a guerra irá assumir uma forma clássica, com tropas de ambos os lados enfrentando-se em campos de batalha. 

Nem Wellesley, nem os comandantes franceses que se seguiram a Junot procuraram ocupar o país. A guerra passou a ficar circunscrita às regiões por onde passavam as tropas, sendo aí praticada uma guerra de terra queimada. Nas zonas onde as tropas inimigas passavam tudo era destruido para que as mesmas não tivessem meios para se abastecer.

A perseguição e matança dos colaboracionistas dos franceses prosseguiu, provocando milhares de vítimas ente todas as classes sociais. Ninguém foi poupado. Estes facto foi decisivo, pois abalou com as estruturas do antigo regime.

4. Segunda Invasão Francesa - 1809

 As tropas luso-inglesas, sob o comando de John Moore, em 1809, atravessam a fronteira para ajudar os espanhóis que na Galiza se haviam revoltado contra os franceses, mas acabam por ser derrotadas na Batalha da Corunha. O exército francês, sob o comando do marechal Soult , aproveita a ocasião e invade Portugal pelo Minho, ocupando a cidade do Porto a 24 de Março de 1809. A cidade é martirizada. Apenas em Maio, as tropas luso-britânicas sob o comando do General Wellesley a reconquistam e expulsam os franceses e espanhóis para a Galiza.

Cidade do Porto. No dia 29 de Março de 1809, milhares de pessoas morreram quando fugiam através da "Ponte das Barcas, às cargas de baioneta das tropas invasoras do Marechal Soult. Uma tragédia ainda hoje recordada nesta cidade.

5. Terceira Invasão Francesa - 1810

. A revolta em Espanha contra os franceses, onde haviam entrado como seus convidados em 1801, começa a generalizar-se. Em 1810, a França invade de novo Portugal, a fim de esmagar o principal foco de resistência militar na Europa Ocidental. O General Massena à frente de mais de 60 mil soldados, muitos dos quais espanhóis, entra pela fronteira da Beira. É derrotado na célebre batalha do Buçaco, mas apesar de disso consegue avançar para sul na direcção de Lisboa. Chega às linhas de Torres Vedras, a 10 de Outubro, mas perante o sistema de fortificações que havia entretanto aí sido construído por mais de 150 mil camponeses, acaba por se retirar a 15 de Novembro.

Após anos e anos de colaboração com os franceses, lentamente os espanhóis começam a juntar-se às tropas luso-inglesas iniciando um revolta cada vez mais generalizada.

6. Perseguição às tropas napoleónicas

A partir de Novembro de 1810, as tropas francesas sabem que tem os dias contados em Portugal. O exército luso-inglês não tarda em avançar pela Espanha adentro perseguindo os franceses, saindo vitorioso em batalhas decisivas como as de  Salamanca (22 de Julho de 1812),  Vitória (21 de Junho de 1813), San Sebastián (31 de Agosto de 1813), Orthez (27 de Fevereiro de 1814)  e Toulouse (ambas já em França). A França, em 1813, de invasora passa a invadida, vindo pouco depois a capitular (1814) após longos anos de barbárie.

Em Portugal estas invasões, para além das centenas de milhares de mortes que provocaram, tiveram profundas consequências na economia do país, tendo devastado regiões inteiras. 

Ditadores e assassinos promovidos a heróis

Dois séculos depois desta tragédia, o mundo continua a assistir espantado à forma como a França continua a promover assassinos de milhões de pessoas, como o ditador Napoleão Bonaparte. 

Vestígios dos Saques

Percorrendo de norte a sul Portugal, ainda hoje se podem ver inúmeros  vestígios da destruição e da pilhagem provocada pelos tropas franco-espanholas. Muitos dos objectos roubados em Portugal fazem agora parte de espólios de museus ou de colecções privadas francesas e espanholas.

Carlos Fontes

 
 

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