30 anos depois do
fim da ditadura, a educação em Portugal é de longe o seu maior
falhanço. Tendo em conta a situação, em 1974, os indicadores até
podem ser considerados bons, mas esperava-se muitíssimo mais. Educação
em Números |
1974 |
2004 |
2008 |
Analfabetismo |
25,6% |
9%
(2001) |
|
Estudantes
no ensino universitário |
38
mil | 395.478 |
|
Investigadores
científicos |
5.736
(1982) | 31.146
(2001) | | População
com ensino superior |
49.365
(1970) | 674.094
(2001) | | Número
de mulheres licenciadas |
14.655 |
390.977 |
|
Número
de bibliotecas |
288 |
1.917 |
|
Museus |
114 |
246
(2002) |
|
Na verdade, no
sector do ensino-formação profissional, os resultados continuam muito longe de
corresponder aos investimentos públicos que foram realizados.
O panorama actual é
ainda mais confrangedor, se tivermos em conta os desafios que o país enfrenta.
1. A
frequência do ensino pré-primário situa-se nos 86,7% (2008), um valor
inferior à média da União Europeia.
2. O sistema
de ensino não superior continua muito limitado nos seus percursos escolares,
tendo como principal finalidade preparar alunos para as universidades. As
restantes opções no sistema (cursos tecnológicos, profissionais, técnico-profissionais,
etc) primam pelo amadorismo.
Portugal continua a não ter um sistema de
formação profissional digno desse nome, apesar dos rios de dinheiro
investidos, nomeadamente depois de 1986. Depois
de 2005, registam-se importantes mudanças neste panorama, nomeadamente em
termos de ofertas de cursos profissionais. Ainda não é possível avaliar com
rigor os impactos das políticas educativas. 2.
A taxas de abandono escolar são um flagelo em todos o níveis de ensino,
nomeadamente no superior. Apesar de se saber quais são os concelhos, escolas,
universidades e cursos com sistemáticos maus resultados, ninguém parece estar
interessado em alterar a situação.
Os resultados estão à vista:
Até aos 22 anos, apenas 54,3% da população concluiu o ensino
secundário (dados de 2008). A percentagem da população com o ensino
superior não ultrapassa os 21,6% (dados de 2008). Números que continuam a
espelhar elevadas taxas de abandono escolar.
O problema não está apenas nas
escolas e nas famílias, mas também nas empresas. Na verdade, a
maioria dos jovens que abandona o sistema de ensino consegue facilmente trabalho em tarefas
pouco qualificadas.
O próprio Estado, incluindo as autarquias, continuam a ser
pouco exigentes em termos de qualificações escolares das pessoas que recrutam.
Desta forma, um mercado de trabalho
(pouco exigente em termos de qualificações), continua a contribuir para agravar
os maus resultados escolares do país. As
medidas tomadas pelo governo depois de 2005, que se traduziram numa rápida
diminuição das taxas do insucesso escolar, acompanhadas pelos aumento da
escolaridade (12 anos) poderão provocar a médio prazo importantes mudanças
neste panorama. No imediato a situação é vergonhosa. 3.
O Ministério da Educação é um dos principais obstáculos ao
desenvolvimento da educação. Trata-se de uma estrutura opaca e desarticulada,
povoada de burocratas que diariamente inundam as escolas de instruções
contraditórias. Não existe qualquer critério para o recrutamento destes
burocratas, a não ser o amiguismo, a cunha. A esmagadora maioria está apenas
preocupada em manter-se nos lugares que ocupam, tudo o mais é secundário.
Neste sentido, mostram-se incapazes de identificar e corrigir o que não
funciona no sistema, contribuindo desta forma para melhorar a qualidade da
educação.
O investimento
português na educação está acima da média europeia - 5,25 por cento contra
5,05 por cento (dados de 2008) - mas a Comissão Europeia assinala a sua
"aparente estagnação", uma vez que em 2000 era de 5,42 por cento
(4,91 por cento na UE27). É preciso muito mais eficiência.
4. A gestão
dos estabelecimentos de ensino continua a ser feita de forma caótica, sobre o
pretexto da sua democraticidade. As responsabilidades tendem a diluir-se num
vasto conjunto de orgãos e intervenientes. No centro do problema continua a
estar questão autonomia das escolas. Esta não passa de uma ilusão, porque as
escolas não a querem, mas também porque o Ministério da Educação se recusa
a aceitá-la.
As alterações na
gestão das escolas, depois de 2005, pretenderam corrigir muitos dos problemas
detectados. Ainda é cedo para avaliar resultados. 5.
É confrangedor o desperdício do sistema de educação em Portugal. As
situações são múltiplas, nomeadamente em termos de recursos humanos. Escolas
com excesso de professores e outras com falta deles. Os
serviços centrais e regionais do Ministério abarrotam de funcionários que
ninguém sabe o que fazem; os recursos educativos das escolas estão mal
distribuídos e subaproveitados nas suas capacidades e potencialidades. Face a
este panorama não é de estranhar que mais de 93% do orçamento do Ministério
da Educação se destinem a pagar salários.
Para uma
panorâmica do sistema de educação em Portugal clique Aqui
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Carlos Fontes
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