|
.
Contrastes
Culturais
A cultura em
Portugal, reflecte não apenas os contrastes sociais que são visíveis na
sociedade portuguesa, mas também uma longa história que criou inúmeras
especificidades locais. Este é um dado básico a ter em conta para analisar o
que se passa em termos culturais no país.
. As regiões de
Lisboa e Porto, onde se concentram mais de 60% da população, monopolizam
naturalmente a maioria dos eventos de grande impacto mediático. Mas será que
nada mais acontece no resto do país ? Nada mais absurdo! O que acontece
é que os eventos locais, muitos dos quais de excelente qualidade, raramente
conseguem alguma projecção nacional.
. A produção
literária sempre foi pujante, mesmo nos períodos mais críticos da história
de Portugal. Foi numa fase de "decadência", em finais do século XX e
princípios do século XX, que surgiram, por exemplo, um conjunto
notáveis escritores e poetas como Eça de Queirós ou Fernando Pessoa. Durante
a longa noite da ditadura (1926-1974), apesar de todos os constrangimentos, é
notável a galeria de romancistas e poetas. Após o regresso à democracia, em
1974, conta-se inclusive um Prémio Nobel da Literatura.
. O património
cultural é muito rico e diversificado. Contudo, está em geral pouco cuidado,
estudado e divulgado. O Estado, as autarquias locais, mas também a
maioria das sociedades científicas oficiais tem revelado um total
incompetência e desleixe neste domínio. A maioria dos que ainda estão à sua
frente foram formados durante a ditadura, continuando a ser alimentados pelo
erário público.
|
|
Marcos
Históricos da Cultura em Portugal
. Séculos
XII-XIV. Após
a Independência (1143) seguiu-se um período de notável produção cultural,
num pequeno país situado num dos extremos da Europa. Portugal pouco mais teria
que 1 milhão de habitantes, no entanto foram os suficientes para afirmarem uma
nova língua - o português. Numa escala ajustada a realidade do país,
todas as correntes artísticas europeias são igualmente aqui difundidas e
desenvolvidas em magnificas obras. Criaram-se grandes instituições culturais
dotadas de excelentes bibliotecas (Santa Cruz de Coimbra, Alcobaça, etc), e em
1290 uma das primeiras Universidades da Europa. É neste contexto que surgem figuras
de projecção internacional como Fernando de Bulhões (Santo António de Lisboa), Pedro
Hespano (Papa João XXI), Álvaro Pais, D. Dinis, etc.
. Séculos
XV-XVI. Trata-se do período considerado a "época de ouro" de
Portugal. Em termos tecnológicos, científicos e artísticos o país está na
vanguarda do mundo.
. 1580-1640.
A ocupação espanhola lança Portugal no caos, fechando-o em relação ao mundo. Domina a intolerância
religiosa (Inquisição). O país regride em todos os domínios. O ambiente
cultural torna-se irrespirável. A vanguarda do país, em termos culturais foge
para o estrangeiro ou vive nas colónias como o Brasil. Não é pois de
estranhar que personalidades como Espinosa (filósofo) ou Velasquez (pintor)
filhos de portugueses.
. Séculos
XVII-XVIII. A obra de reconstrução de Portugal, após a
restauração da Independência em 1640, é das mais notáveis que um país fez no plano
internacional. Cerca de 3 milhões de portugueses, sustentam uma longa guerra com a
Espanha ( 60 anos), e iniciam a reconstrução do país em todos os
domínios. Portugal, no início do século XVIII, volta de novo a ser uma potência europeia,
aberta à inovação e criação cultural. Em muitas áreas científicas e
técnicas está de novo na vanguarda. O próprio Terramoto de Lisboa, em 1755, é aproveitado como um impulso
para a modernização da capital do país - Lisboa torna-se na primeira cidade
iluminista do mundo. A aposta na cultura é traço marcante de vários
governantes no século XVIII.
. 1801-1814.
As invasões franco-espanholas arruínam Portugal. Um terço da população é
morta ou massacrada por tropas francesas e espanholas. A família real é
obrigada a partir para o Brasil, o Império colonial fica à
deriva. As consequências destas invasões e dos seus saques serão tremendas
durante décadas.
. Séculos
XIX-1925. Expulsos e
derrotados os invasores, inicia-se a segunda reconstrução de Portugal. Em 1834
é decidido reforçar a presença portuguesa em África, criando aí uma grande
colónia, o que exigiu enormes recursos financeiros e humanos, condicionando
desta forma a reconstrução interna. A apesar de tudo, o dinamismo cultural é
enorme, destacando-se nas artes e ciências o aparecimento de inúmeras figuras
como Abade Correia da Serra (cientista), Alexandre Herculano (historiador),
Amadeu de Sousa Cardoso (pintor), etc. As instituições científicas em
Portugal, na maior das áreas, acompanham o que de mais avançado se faz no
mundo.
. 1926-1974.
Durante 48 anos a ditadura procura isolar o país, e estimular uma mentalidade
pouco exigente, medrosa e avessa à inovação. A dependência do Estado de
milhões de portugueses, através de empregos, subsídios ou privilégios
corporativos, é um dos factores que contribui interiorizar estes valores.
A pobreza e o
analfabetismo são consideradas virtudes públicas. Apesar de tudo, como diz o
poeta "Há sempre alguém que resiste / Há sempre alguém que diz não
." Em todos os domínios surgiram personalidades que se destacaram no
plano internacional. Egas Moniz, por exemplo, foi Prémio Nobel em Medicina.
. Séculos
XX/XXI. O fim do Império Colonial, em 1974, permitiu a progressiva
libertação do país dos entraves ao seu desenvolvimento. Facto que se começou
a reflectir, não apenas na melhoria dos indicadores sobre a escolaridade da
população, mas também nas suas práticas e consumos culturais.
Carlos Fontes |