Entre os países da União
Europeia, a população portuguesa, é de longe a mais pessimista de todas.
Diversas sondagens comparativas realizadas nos últimas décadas são muito
claras a este respeito. A maioria dos portugueses aplica uma energia
considerável a defender a ideia que Portugal não tem futuro, mergulhando
depois num deplorável estado de desanimo e derrotismo colectivo.
Uma atitude
aparentemente inexplicável, sobretudo quando se verifica o seu pouco empenho
colectivo em melhorar as situações que tanto criticam. O facto nada tem de
anormal, muito pelo contrário, como veremos.
Durante séculos os médicos
europeus denominaram os estados depressivos marcados por uma profunda tristeza e
abandono de "melancolia portuguesa". No início do século XX, muitos
autores interpretaram o negativismo dos portugueses, o seu estado de
resignação, como resultante de um "complexo de inferioridade"
colectivo face a outros povos. Estamos perante auto-imagens, que valem o que
valem, mas não deixam de ser significativas.
1. Comparações Estatísticas
Este fenómeno parece ter-se
agravado nas últimas décadas, em resultado da divulgação sistemática de
dados estatísticos referentes aos países da União Europeia. Muitos dos maus
resultados de Portugal, nomeadamente no confronto com os países do Norte da
Europa, são vividos não como desafios a enfrentar, estímulos para se fazer
melhor, mas como a prova de uma condenação histórica a que os portugueses
estariam votados.
2. Factores Históricos
- Fatalismo muçulmano
- Sentido trágico judaico
- Resignação católica
- Emigração
- Iberismo
3. Referências Culturais
Desde o século XIX que se tornou
moda as chamadas análises psico-sociais, onde se tenta captar a
"psicologia" de um dado povo, neste caso o português. O retrato é
frequentemente a projecção das "taras", "manias, estados de espírito
ou dos "esteriótipos" de quem faz as análises.
- Sorte
No século XVII muitos
estrangeiros assinalavam o pouco valor que os portugueses pareciam dar à vida,
abandonando-se à sorte dos acontecimentos, descurando as questões de
segurança (C.Boxer). Uma situação que justificava a elevada mortalidade, por exemplo,
no mar.
O aparente desprezo pela vida,
leva-os a atribuir os bons resultados à sorte e não ao trabalho.
Entregues à sorte, ao caso, o
português deixa de confiar nele próprio, nas suas capacidades, diminui-se face
à sorte. Passa a lamentar-se da sua "má sorte", dos infortúnios da
vida, a carpir-se.
- Inveja
Os portugueses, segundo muitos
analistas, consideram-se frequentemente um povo de invejosos, o que o que leva a
denegrirem os sucessos obtidos por alguém, caindo na maledicência.
O sucesso de alguém é olhado com desconfiança, não é motivo de regozijo
colectivo,
mas de preocupação.
A única explicação que o
invejo aceita para o êxito de alguém, é que o mesmo se deve ao acaso (sorte),
ou outra pessoa que não o próprio. O invejoso não acredita nos resultados do
trabalho, muito menos nos méritos de alguém.
- Pessimismo Crónico
Confiando apenas na sorte e
não no trabalho, minados pela inveja, os portugueses passaram a sofrer, para
muitos analistas, de tendências
bipolares. Tanto se entregam a festas
desbragadas, como mergulham numa profunda melancolia ou em estados suicidas.
O português sabe que a boa sorte nem sempre
acontece, e não confia no trabalho para se conseguir algo. O invejoso acha preferível que alguém seja desgraçado a que
tenha êxito. O resultado desta combinação psico-social foi que o povo português
tenha um prazer doentio em dizer mal de
si próprio, da sua sorte, lamentando-se da sua própria existência
colectiva.
"Os portugueses não gostam de si
próprios".
Tornaram-se parte do problema e não da solução. Almada Negreiros
sintetizou esta visão, de forma lapidar:
"O
Povo completo / será aquele que tiver reunido/ no máximo todas as qualidades/
e todos os defeitos.
Coragem,
portugueses,/ só vos faltam as qualidades". in, "Ultimatum Futurista
às Gerações Portuguesas do Século XX."
- Fado
A "canção nacional",
como muitos gostam de referir, estava neste contexto mental destinada ao
sucesso. Fado é destino, algo que ninguém controla. Abandonados à sorte, os
portugueses revelam as suas profundas tendências fatalistas. O discurso é
conhecido, mas profundamente redutor deste género musical urbano.
- Símbolos Nacionais
O Hino de Portugal, criado no
final do século XVI, insere-se na categoria do hinos de guerra, como era aliás
próprio de um país que viveu quase sempre em guerra. A particularidade do
Hino português está no facto de apelar a um verdadeiro acto suicida:
"Contra os canhões marchar, marchar!" .
Outros versos reforçam no
subconsciente colectivo a ideia de que o país vive, desde o século XVI, numa
longa fase de decadência..
- Glórias do
Passado/Insignificâncias do Presente
A empolgante história dos
descobrimentos portugueses teve uma efeito perverso na mentalidade dos
portugueses actuais, ao fazê-los sentirem-se demasiado pequenos e
insignificantes face aos seus antepassados.
Ombrear com um passado mitificado
tornou-se impossível para as novas gerações de portugueses, pelo que a
maioria decidiu ignorar a História de Portugal, para se puderem reconciliarem
com a sua dimensão presente.
4. Solução ?
- Uma falsa questão ?
- Perspectivas
Carlos Fontes
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