1. Processos Cognitivos
Esta unidade trata dos processos
mentais pelos quais o organismo adquire, trata, regista e interpreta a
informação.
2. Percepção
A percepção é um processo psico-fisiológico por meio do
qual o sujeito transforma as diversas impressões sensoriais ( os estímulos),
previamente transportados aos centros nervosos, em objectos sensíveis
conhecidos. A percepção, cuja construção se inicia com o nascimento, não é uma simples soma de estimulações que
impressionam os receptores sensoriais. Trata-se pelo contrário de um processo
de apreensão da realidade como um
conjunto de global organizado, em função dos nossos desejos, das nossas
necessidades e das nossas experiências.
Os factores que influenciam a percepção,
não se reduzem deste modo às impressões sensoriais, mas incluem um vasto
conjunto de elementos que são
comuns a todos os seres humanos (leis da percepção, percepção da
profundidade e da distância, etc), mas onde interferem aspectos específicos próprios
de cada individuo (o estado do seu aparelho neuro-fisiológico, experiências anteriores, aprendizagens, etc.).
A palavra "percepção" deriva do latim perceptio,
significa acção de recolher, e por extensão, "conhecimento" como
apreensão. Também provém de percipere - de per e capare
-, apoderar-se de algo, perceber. O perceptio do latim traduz o katálepsis
do grego. Neste sentido, não coincide com a sensação, senão que a percepção
é a consciência de uma sensação ou o seu conhecimento.
2.1.Sensibilidade e Bases
Neurofisiológicas
2.1.Sentidos
O indivíduo dispõe de um
conjunto de orgãos específicos para captar as informações oriundas do meio
ou do próprio organismo, vulgarmente conhecidos por orgãos dos sentidos. Eles
asseguram as seguintes informações:
- Visão. A retina é o
orgão receptor.
- Audição. O orgão
receptor localiza-se no ouvido interno.
- Gosto. O orgão receptor
localiza-se na parte superior da língua
- Olfacto. O dispositivo
receptor localiza-se nas fossas nasais.
- Tacto. Os orgãos
receptores estão distribuídos pelas diferentes regiões da pele.
- Temperatura. Os
receptores térmicos (sensações de frio e calor) encontram-se distribuidos por
toda a superficie do corpo (pele e mucosas).
- Cenestesia. Os
receptores das sensações de agrado ou desagrado sobre o funcionamento do
organismo ( fome, sede, falta de ar, bem ou mal estar orgânico, enfartamento,
etc ).estão distribuidos pelos vários orgãos, especialmente pelo aparelho
digestivo, respiratório, circulatório e músculos.
- Dor. Os receptores das
sensações álgicas ou dolóricas encontram-se espalhados por todo o organismo
e são extremanente numerosos (3 a 4 milhões).
- Equilíbrio e Orientação.
O orgão encontra-se localizado no ouvido interno.
- Quinestesia. Os
receptores das sensações de altitude e movimento estão distribuídos pelos
orgãos motores (músculos, tendões, articulações)
2.2.Mecanismos da
Visão
Os estímulos responsáveis pela visão são
constituídos por radiações electromagnéticas que se propagam no espaço a
uma velocidade de 300 mil km por segundo. O olho humano capta apenas as ondas ou
vibrações luminosas cujo comprimento oscila entre 16 a 32 milionésimas de
polegada.
O receptor visual ( a retina) é composto por um
sistema de cones e um sistema de bastonetes. O primeiro encontra-se no
centro da retina e capta a luz intensa (excitação fotópica) de que resulta a
visão com cor (cromática). O segundo, situa-se na periferia da retina e é
impressionado por estímulos luminosos muito fracos (excitação escatópica) de
que resulta a visão sem cor (acromática) .Este receptor regula automaticamente
a quantidade de luz.
Em síntese: os sentidos captam captam estímulos
físicos, traduzem-nos em impulsos que são transmitidos aos cérebro, onde são
organizados e interpretados.
2.2.1.Variáveis interferentes na
visibilidade ( Área retiniana. Adaptação a mudanças de luz. Acuidade visual
e variáveis de que depende).
3. Teorias Explicativas da
Percepção
2.1. Teoria Associacionista. O sujeito
quando nasce é uma "tábua rasa", todas as suas percepções são
adquiridas pela experiência. A percepção dos objectos, por
exemplo, é o resultado da associação (ou combinação) das sensações
elementares recebidas dos sentidos. Este modelo inspira-se directamente nas
teses empiristas, defendidas por filósofos como John Locke, David Hume,
Condillac, Stuart Mill e muitos outros.
2.2. Teoria Gestaltista. O sujeito nasce
já com um conjunto de estruturas inatas que submetem às mesmas os estímulos
dos mundo externo. As coisas e as situações, por exemplo, são
percepcionadas como totalidades. Estas estruturas influenciam, segundo os
gestaltistas, o modo como percepcionados e interpretamos os diferentes elementos
que as constituem.
2.3.Teoria Operatória. A percepção é o
resultado de uma actividade construtiva do sujeito sobre os dados que lhe chegam
do mundo exterior, na qual participam factores inatos ou hereditários e
factores aprendidos ou adquiridos. As estruturas que possibilitam a percepção
são assim resultado de uma interacção entre o sujeito e o meio.
3. Leis da Percepção
As
percepções do mundo, conforme os gestaltistas
demonstraram obedece a um conjunto de princípios ou leis, entre as quais
destacamos os seguintes:
a) Tendência à estruturação.
Nas percepções, o mundo não é
apreendido como uma soma de impressões isoladas, mas sim como totalidades
ordenadas. Os seus diferentes elementos são organizados em função de certas
leis: proximidade, semelhança...
.
Desenho
de uma menina-velha. Olhando o desenho de certa maneira aparece uma rapariga,
mas se o vemos de outra surge-nos uma velha.
b) Segregação Figura-Fundo. A
percepção actua de forma selectiva. Uma partes são destacadas (a figura),
sendo a restantes colocadas em segundo plano (o fundo). Esta relação é
sucessivamente alternada, isto é, o fundo transforma-se em figura e a figura em
fundo.
c) Pregnância ou Boa Forma. As formas
simples, regulares, simétricas e equilibradas são mais
facilmente percepcionadas que as restantes.As que surgem incompletas tendem a ser
completadas pelo cérebro.
d) Constância Perceptiva (constância do tamanho, constância
da forma e constância da cor). Estas persistências são explicáveis, para a
maioria dos autores, como o resultado da familiaridade que vamos
adquirindo com os objectos. Assim, um objecto que estamos a ver à distância
como muito pequeno, não deixa de ser percepcionado como enorme dado o nosso
conhecimento anterior do mesmo
A explicação desta constância perceptiva não
é inata como defendiam os gestaltistas, nem simplesmente adquirida como diziam
os associacionistas, mas resulta de uma interacção entre o sujeito e o meio
(teoria operatória).
4.Mundo a três dimensões. A
retina recebe os estímulos a duas dimensões, mas o cérebro cria imagens a
três dimensões. Para compreendermos este complexo fenómeno temos que ver
melhor como funciona o mecanismo da visão.
O cristalino funciona como
como uma lente que se auto-regula conforme a distância a que estão os
objectos.
Os dois globos oculares , adoptam
uma posição convergente
quando os objectos estão a menos de 15 metros, e paralela quando a
distância é superior.
Cada globo ocular fornece ao
cérebro uma imagem diferente.Como há uma distancia entre os olhos (cerca de 6
cm), cada um deles fornece ao cérebro aspectos ligeiramente diferentes do mesmo
objecto. O cérebro utiliza depois estas imagens para produzir uma única imagem
a 3 dimensões, calculando igualmente a nossa distância em relação aos
objectos. Este processo chama-se estereoscopia.
Outros factores que contribuem
para esta percepção do mundo as 3 dimensões: as grandezas relativas das
coisas, a perspectiva linear, as interposições, a distribuição da luz e das
sombras, etc.
5. Factores de significação
( Subjectividade. Estrutura dos
estímulos. Experiência Anterior. Contexto social ). O sujeito está
permanentemente a atribuir significações particulares a tudo aquilo que
observa. Os objectos pouco estruturados tendem também a provocar imagens
ambíguas e interpretações divergentes. As experiências anteriores dos
sujeitos influenciam profundamente a significação que os sujeitos dão as
coisas que percepcionam. O mesmo poderemos dizer dos contextos sociais em que o
sujeito vive.
6. Distúrbios de Percepção.
Ilusão. Agnosias. Alucinações.
Ilusões. As
percepções estão sujeitas a certas ilusões. Podemos mesmo dizer que tudo o
vemos são ilusões ópticas, pois a visão é essencialmente um processo de
reconstituição da realidade no interior do cérebro, segundo certos padrões.
Muitas vezes o cérebro engana-se. As ilusões
perceptivas ou sensoriais resultam duma deformação dos estímulos reais,
tratam-se de erros quanto à natureza do objecto. Estas deformações resultam
frequentemente da própria estrutura dos estímulos em que os objecto se
enquadram,originando ilusões ópticas, tácteis e báricas.
.
O
comprimento dos dois segmentos de recta são iguais, mas são percebido
como diferentes (Ilusão de Muller-Lyer).
Agnosias. As lesões
cerebrais que ocorrem numa área não sensitiva, pode originar uma agnosia, isto
é, uma deficiência na estrutura perceptiva ou sensorial. Se a lesão se der
numa área sensitiva, o resultado pode ser a perda de sensibilidade provocando a
anestesia, a cegueira ou a surdez. Exemplo de um sintoma de agnosia
espacial: o doente perdeu o sentido de orientação.
Alucinações.Como as
agnosias resultam de factores internos, levando doente a ter percepções sem
objectos, confundindo-o com a própria realidade. Existem vários tipos de
alucinações. . |