A
reflexão sobre as causas do comportamento humano não nasceu na Antiga
Grécia, mas foi aqui que conheceu os seus primeiros investigadores.
Os gregos partiam do pressuposto de que todos os seres
viventes tinham uma causa que determinava a sua natureza, comportamento e
pensamento: a Alma (Psyché).
A Alma era o princípio da vida e do pensamento. Quando abandonava um
corpo este morria. Cada ser tinha a sua alma específica. Os filósofos gregos
procuravam determinar os vários tipos de almas de modo as distingui-las em
função da sua origem, natureza, finalidade, constituição,
inclinações morais, relações
com o corpo, etc. A Alma (inata) definia a natureza de cada ser.
Platão atribuiu à Alma um lugar central na sua
filosofia (ver ),
tendo inclusive elaborado a partir da mesma todo um sistema político. A
Alma era para Platão imortal e definidora da natureza de homem quando nascia,
determinando-lhe a sua condição social, pensamento, inclinações morais, etc.
Aristóteles escreveu sobre o assunto uma das suas mais importantes obras - De
Anima (Da Alma) -, na qual não apenas sumariza as posições anteriores, mas
introduz novos conceitos, nomeadamente a unidade entre o corpo e a alma.
Os filósofos cristãos durante a Idade Média (séc.
IV-XV) prosseguiram esta reflexão, mas confinam a Alma aos seres humanos,
terminando o processo na sua espiritualização e personalização. A Alma humana, criada por Deus, definia aquilo
que de mais essencial cada homem possuí. Nela estava inscritas as tendências
humanas consideradas boas face aos olhos de Deus. A psicologia está
subordinada à religião.
A ruptura com estas concepções sobre a Alma começou no século
XVII. O conceito de Alma começa a ser abandonado, concentrando-se os
filósofos modernos na explicação da natureza e funções do
"entendimento, "consciência" ou da "mente".
Três movimentos que concorrem para esta mudança: a) Ciência Moderna. A única
forma de conhecimento que passou a ser assumido como verdadeiro era o produzido pela ciência. Este conhecimento era baseado em experiências e em
teorias que podiam ser verificadas, provadas. Ora as reflexões sobre a Alma
não passavam de especulações impossíveis de serem verificadas. b)
Mecanicismo. O mundo e os seres vivos desde o século XVI era cada vez
mais encarado numa perspectiva mecanicista. Tudo não passavam de mecanismo
mais ou menos perfeitos. Na medicina do tempo, por exemplo, o corpo humano era
frequentemente descrito como um máquina. No seu
"interior" não havia espaço para as concepções
tradicionais sobre a Alma.
c) Empirismo. O empirismo defendia uma concepção
sobre o conhecimento humano que reforçava as teses mecanicistas. Os homens
quando nasciam assemelhavam-se a uma folha em branco. Nada possuíam de inato.
Era através da experiência que se formavam e definiam como seres humanos. Os seus orgãos
sensoriais não passavam de meros mecanismos receptores e
transformadores de sensações. O seu comportamento era determinado pelas
sensações externas recebidas ao longo da vida. O homem era visto como um produto do meio. Conhecendo as
circunstâncias em que uma pessoa fora criada era possível prever como agiria.
Modificando estas experiências externas podia-se também mudar o seu
comportamento. No século XVIII Kant demonstra que as
realidades metafísicas, como a Alma ou Deus, não podiam ser objecto de
conhecimento. Não passavam de crenças, meras hipóteses impossíveis de
serem comprovadas. Carlos Fontes Continuação |