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1. Importância e definição de Memória
Somos o que somos devido à
memória que possuímos. É a memória que torna possível que tenhamos uma
história pessoal, uma ligação entre as várias experiências
num continuo, construir uma identidade pessoal.
Na memória armazenamos e retemos conhecimentos,
informações, encontros, acontecimentos, que podemos recordar.
O armazenamento, segundo o
entendimento actual, corresponde a finas modificações de determinadas sinapses.
A perda destas modificações nas sinapses traduz-se na perda (esquecimento) da informação.
Não existe consenso sobre esta matéria.
Não existe no cérebro nenhuma
região específica para a memória, uma vez que nenhuma lesão cerebral
consegue eliminar toda a memória. Vários estudos sugerem que é o
hipocampo que organiza o registo das recordações e depois as dirige para
outras áreas do cérebro. O neocórtex guarda bastantes memórias a longo
prazo.
1.1. Fases do Processo de Memorização
- Aquisição. A informação que é recebida
através dos sentidos, sob a forma de estímulos, é seleccionada e apenas
retida a mais significativa. As informações são sujeitas a uma codificação
para puderem ser armazenadas.
- Retenção ou armazenamento. Não existe, como
vimos, nenhuma região específica no cérebro para a memória. A informação
bem organizada é mais facilmente é retida e acessível. O material
armazenado está sujeito a contínuas modificações.
- Recuperação ou Actualização. Actualizamos a
informação armazenada sob a forma de recordações ou reconhecimentos.
1.2. Tipos de Memória
A memória pode ser classificada
de acordo com a duração das informações armazenadas. O intervalo de tempo em
que conseguimos conservar determinada lembrança parece depender do esforço que
fazemos para a reter.
Memória Sensorial
As informações sensoriais são armazenadas
nesta memória num reduzido período, cerca de 0,25 segundo. A informação é
retida em estado bruto, sem qualquer análise. É este tipo de memória que nos
permite compreender que alguém diz, ler um texto, ver um filme, etc. O
que os nossos sentido apreendem são simples estímulos, que depois de
codificados são transferidos para a memória a Curto Prazo.
Memória a Curto Prazo ou de Trabalho
Regista aquilo em que estamos a trabalhar ou que nos acabou de acontecer. É
nela que estão os pensamentos e as informações que, num dado momento estamos
a utilizar. O tempo de duração é de cerca de 60 segundos. É sensível aos traumatismos.
Esta informação desaparece para sempre se
não transitar para a memória a longo prazo. A capacidade de armazenamento
desta memória é muito limitada.
Memória a Longo Prazo
Conserva ao longo da vida a informação que foi
retrabalhada e assimilada nos conhecimentos anteriores. É enorme a
capacidade de armazenamento da informação. As recordações cinestésicas
(aprendizagem motora) são das mais persistentes.
1.4. Esquecimento
O esquecimento é inerente à memória, sem o
qual acumularíamos muita informação inútil que poderia perturbar o próprio
funcionamento do cérebro.
O esquecimento pode resultar de
vários factores:
a) Tempo. Embora a memória se vá degradando com
o tempo. A memória altera-se com a idade, mantendo-se todavia em geral estável
entre os 20 e os 60 anos. O efeito do envelhecimento sobre a memória varia
bastante de individuo para individuo. O factor mais importante para o esquecimento não parece ser todavia o tempo, mas as
interferências (acontecimentos ou actividades) que ao longo da vida vão
afectando a próprias memórias;
b) Organização. A forma como organizamos a
informação é decisiva para facilitar ou não o acesso à mesma. As novas
aquisições se não forem devidamente integradas na informação já
armazenada, tendem facilmente a ser esquecidas. "Lembramos bem, aquilo que organizamos bem" (Henry
Gleitam).
- Codificação. A
retenção é facilitada quando organizamos a informação em unidades simples e
depois as repetimos. Por exemplo: Memorizar as seguintes letras - TRISPP2CRT1VTI
-, pode ser uma tarefa muito simples se for codificada, correspondendo cada
unidade à sigla dos principais canais de televisão portugueses
(RTP-RTP2-SIC-TVI). A retenção é também
facilitada quando inserimos as informações a reter em imagens ou esquemas
integradores (mnemónicas).
c) Significação. A compreensão, tal
como a organização é um elemento fundamental na memorização. O que não
compreendemos, dificilmente será registado na memória a longo prazo.
d) Interferências. Uma informação que
gravada perturba o
acesso a(s) outra(s) anteriores ou posteriores. Para estas interferências
contribuem, entre outros factores, a semelhança ou a incompatibilidade
das informações. Dois tipos de
interferências:
- Informações anteriores podem perturbar o acesso
às informações mais recentes;
- Informações gravadas recentemente podem
perturbar
o acesso a informações anteriores.
O esquecimento pode ser voluntário, isto é,
resultar de um esforço deliberado para esquecer certos factos, acontecimentos
ou informações por serem desagradáveis.
1.5. Distorções na Memória
A memória pode ser afectada de
muitos modos. Os testemunhos de alguém, por exemplo numa inquirição judicial, podem ser afectados pelas
expectativas tem sobre uma dada situação. Ao relatar aquilo que testemunhou
numa dada situação, tende a acrescentar novos elementos que correspondem
às suas expectativas ou conhecimentos sobre situações idênticas. A forma
como as perguntas são feitas pode contribuir para a produção de respostas
falsas.
As memórias
"recuperadas" após um período de amnésia são, em muitos casos
falsas ou fabricadas (Gleitman, p.385).
1.6. Amnésia
A amnésia, perda da memória total ou parcial,
pode ser causada por diversas motivos:
a) Doenças neurodegenerativas. A doença
de Alzheimar, por exemplo, resulta de uma degenerescência do cérebro que
ocorre em geral em idades avançadas, provocando uma demência grave. O
fenómeno é irreversível.
b) Lesões cerebrais. Podem provocar danos na
memória destes que tenham afectado partes do cérebro vitais para o
armazenamento. A perda de memória é em geral temporária.
c) Stress. O stress em elevado grau, como em
situações de guerra ou as vítimas de crimes, pode apagar da memória
temporariamente estes acontecimentos.
d) Alcoolismo e consumo de drogas.
1.6. Aprendizagem e Memória
Não há aprendizagem sem
memória, nem sequer uma actividade cerebral minimamente estruturada. Quando dizemos que
aprendemos ou sabemos algo, queremos dizer fixamos os conteúdos ou as
operações que acabamos de adquirir na memória. Neste sentido saber ou
aprender é um processo que começa numa percepção, uma instrução verbal, um
gesto repetido e termina na memória, que armazena a informação para uma
possível utilização futura.
Sem memória não
existiria, por exemplo, linguagem. Nos seres humanos, a maioria das
aprendizagens mais complexas, faz-se em grande parte através de processos
verbais. As palavras funcionam como estímulos-respostas. Na própria
aprendizagem prática, por exemplo, o conserto de uma máquina, depende de
instruções verbais.
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