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Afectividade e Emoção
O conceito de afectividade agrupa todos os "estados
de alma", como a emoção, os sentimentos, as paixões ou o humor. A
afectividade são portanto um conjunto de reacções que nos ligam a
outros, mas também às coisas que nos rodeiam. Estas reacções tem raízes
profundas nos instintos e no
inconsciente. Entre as várias reacções afectivas, podemos distinguir as
seguintes: - Emoção : É um estado temporário, marcado por modificações
fisiológicas. Reacção desencadeada por um acontecimento ou situação
imprevista, que é objecto de uma avaliação cognitiva, nem sempre
consciente.
- Sentimento : É um estado mais durável que a emoção.
As modificações fisiológicas são menos acentuadas e apresentam mais matize,
mas as repercussões mentais são muito mais importantes. O sentimento
apresenta-se como algo possuído uma significação muito forte para quem o
experimenta, mas também como uma necessidade.
- Paixão: É um sentimento poderoso, envolvente que
canaliza a vida psíquica numa dada direcção.
- Humor: É um estado de espírito mais difuso que predispõe
o individuo para experimentar sentimentos de euforia, depressão, excitação ou
mau humor. 2. Emoção
A emoção é uma reacção
psico-fisiológica de grande intensidade, mas de curta duração provocada por
situações novas ou inesperadas. A palavra tem relação com o verbo latino emovere:
deslocar-se, sair de. Uma pessoa emocionada, por exemplo, colérica
ou em pânico é alguém que perdeu o domínio da situação, mas também de si
próprio ("Está fora de si"). Alguns
autores distinguem dois tipos de emoções: as emoções-choque e as emoções-sentimento.
Nas emoções-choque - a reacção é muito curta a um
dado acontecimento imprevisto, revelando a falta de mecanismos de adaptação
adequados. Estas emoções são globais. As reacções-sentimento
são duráveis e menos intensas, pelo que são também designadas simplesmente
por sentimentos. 3.
Funções da Emoções
- Preparação para a acção (estímulos que nos
ajudam a desenvolver respostas eficazes a várias situações).
- Modelação de comportamentos futuros (
promovem a aprendizagem da informação que nos orienta na escolha das respostas
futuras mais apropriadas).
- Ajudam a regular a interacção social.
4. Reacções Emocionais
O psicólogos behavioristas distinguiram três fases no comportamento
emocional: Reacção Imediata, Reacção Secundária e Consequências
permanentes. - Reacção Imediata: A situação ou o estímulo
desencadeia de imediato no indíviduo uma resposta global, de curta duração e acompanhada modificações orgânicas. Formas características
destas reacções imediatas: surpresa, alegria, medo, cólera, vergonha, síncope,
etc. - Reacção Secundária: Nesta fase,
o indivíduo prepara-se já para a adaptação às circunstâncias.
Às reacções emotivas agradáveis, sucedem-se sentimentos de repouso,
tranquilidade e satisfação; Às reacções desagradáveis, sucedem-se
sentimentos de abatimento e depois de recuperação.
- Consequências permanentes: O organismo, nesta
fase, perpetua apenas as emoções agradáveis sob a forma de sentimentos ou
paixões anulando ou suprimindo as emoções desagradáveis. Nesta
perspectiva, a emoção aparece definida como uma resposta imediata a um
estímulo inicial, do qual se acabam por originar posteriormente condutas
estáveis, hábitos emocionais como sentimentos ou paixões. 5.Modificações Orgânicas
As emoções produzem sempre modificações físicas como paragens ou aceleração da respiração, dos batimentos do coração, etc.
Nestas manifestações, em que indivíduo chora ou ri, por
exemplo, liberta a tensão em que está a viver.
6. Diversidade de Situações e a Adaptação
Ao longo da vida qualquer indivíduo aprende a lidar com uma
enorme diversidade de situações emocionais, criando um conjunto de hábitos
emocionais para as situações que se adapta melhor ou pior .Muitas reacções
emotivas dependem da aprendizagem, da educação, do ambiente socio-cultural e
da idade de quem as experimenta.
A timidez desenvolve-se, por vezes, como resultado
de uma conduta inadaptada que procura evitar os efeitos da ansiedade face a
situações que o sujeito não sabe como reagir.
7. Teorias sobre a Emoção
A emoção depende de dois factores. a) a natureza da
situação que desencadeia a reacção emocional; b) a natureza do sujeito. Qual
destes factores é determinante ?
Estas perguntas acabaram por originar duas
teorias fundamentais sobre a emoção, a teoria fisiológica ou periférica e a
teoria intelectualista ou psicológica.
7.1. Teoria Fisiológica
(William James e Carl Lange).
Afirma que as reacções viscerais são anteriores às emoções que resultam da
consciência destas mesmas reacções. William James (1842-1910) defendeu que as
mudanças fisiológicas precedem a experiência e as condutas emocionais. Não
nos sentimos tristes e depois choramos, afirmou W. James, mas choramos primeiro
e depois sentimo-nos tristes. Não tememos primeiro e depois trememos, mas
trememos e a seguir tememos. A percepção da situação desencadeia uma
dada reacção orgânica imediata que origina uma emoção. A experiência emocional
decorre da percepção das modificações corporais.
De acordo com esta teoria, seria deste modo
possível anular ou gerar emoções agindo sobre as reacções orgânicas.
Exemplos:
- Se estou a ficar colérico, posso fazer
desaparecer esta emoção relaxando os braços, os punhos, a face, descontraindo
o corpo, falando tranquilamente, etc.
- Se quero ficar emocionar-me, posso marchar como
um soldado, ouvindo hinos militares e adoptar posturas de combate, etc.
Muitas experiências mostraram
que a emoção não depende apenas da consciência que temos das nossas
reacções internas.
7.2. Teoria de Cannon-Bard. Procura
ultrapassar as dificuldades da teoria anterior. Afirma que tanto a activação
fisiológica como a emocional são simultaneamente produzidas pelo mesmo impulso
nervoso, activado pelo tálamo. Os defensores desta teoria apontam hoje o
hipotálamo e o sistema límbico, como a sede destas respostas corporais e
experiências emocionais.
7.3. Teoria Cognotivista.
A emoção depende da percepção que o sujeito tem de uma dada situação. Á
representação segue-se a emoção que provoca por sua vez uma dada reacção
orgânica. As reacções orgânicas, são, assim, o efeito da emoção. Perante uma
dada situação, o sujeito reage de acordo com a sua personalidade, a sua
conduta habitual e o seu modo próprio de ver as coisas.
De acordo com esta teoria, a emoção depende,
por exemplo, da ligação que temos com as coisas. Se comunicamos a
alguém uma noticia desagradável sobre uma pessoa que lhe é querida, a noticia
certamente que o emociona. Mas se a pessoa lhe for totalmente desconhecida,
certamente que a noticia o deixa indiferente. Nesta perspectiva a emoção não
é pois um simples produto de reacções orgânicas, mas uma forma de
comportamento que depende da interpretação que o sujeito faz das
situações.
A interpretação psicológica ou
intelectualista das emoções acaba por reduzir as manifestações orgânicas a
simples efeitos ou repercussões dos estados conscientes.
7.4. Teoria Culturalista.
As emoções são aprendidas no processo de socialização. Cada cultura as suas
próprias respostas emocionais aos vários acontecimentos ou situações,
definindo os comportamentos adequados para as exprimir.
8. Novas perspectivas
As interpretações anteriores
das emoções são actualmente substituídas por uma visão que unitária das
mesmas.
A emoção tende agora a ser
vista como uma resposta ainda não ajustada a uma situação nova ou inesperada.
"A reacção emotiva só é possível quando as exigências de adaptação
a um determinado acontecimento ou situação excedem os recursos actualmente
disponíveis, ou seja, quando as antecipações perceptíveis ou cognitivas
ultrapassam uma resposta pronta e imediata. Perante semelhantes situações, é
natural que surja uma certa desorientação, que o sujeito fique fora de si
(...). Colhido de surpresa, o sujeito perturba-se e reage desordenadamente,
permitindo que o automatismo dos reflexos se sobreponha à lucidez e à
reflexão. Esta dificuldade de adaptação observa-se tanto nas emoções
negativas (medo, ansiedade, odio) como nas emoções positivas (alegria,
entusiasmo, júbilo)" (Manuel da Costa Freitas, Logos, II, 1999)
Vários estudos tem verificado que os diferentes
tipos de emoções provocam a activação de zonas especificas do cérebro, o
que sugere a existência de uma dada especialização cerebral neste domínio.
A surpresa de um acontecimento, a
dificuldade de encontrar uma resposta adequada a uma situação que nos envolve
e compromete, facilitam deste modo o aparecimento das
emoções. . |