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Carlos Fontes

EDITORIAL
   

Universalismo

 

A filosofia dirige-se a todos os homens e não a nenhum em particular. O filósofo expressa a voz de um Homem no mundo. Esta é a essência da filosofia.

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Em Portugal, o ensino da filosofia e o acesso da população em geral à Filosofia foi sempre encarado de modo muito elitista. As elites culturais do país temendo os desvios à ortodoxia dominante nunca promoveram a divulgação das obras dos grandes filósofos, mas apenas os comentários que elas próprias ou outros faziam sobre as mesmas.

 

As universidades portuguesas ainda hoje não possuem uma linha de tradução e divulgação dos grandes clássicos da filosofia, dir-se-á que continuam recear as consequências que podem ocorrer  do acesso da população a estas obras na língua materna.

 

Comungando há séculos desta visão elitista, a Igreja Católica Portuguesa, dominante no país, também nunca se deu ao trabalho de divulgar as obras dos principais pensadores cristãos. Limita-se igualmente a promover os seus comentadores ou obras de catequese. Resultado: Se um católico português quiser ler os grandes textos  que formaram o pensamento cristão, se não tiver acesso às suas traduções no Brasil, só o poderá fazer em francês, inglês, islandês, polaco, chinês,  japonês, etc.

   

Compreender o pensamento de um filósofo implicou sempre a renuncia, ainda que temporária, ao português.

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Ainda há bem pouco tempo, os textos que os alunos tinham que comentar, por exemplo, no ensino superior, deviam ser feitos na língua materna dos autores (grego, latim, francês, inglês, russo, etc). Todas as traduções eram encaradas como traições ao espírito e à letra da obra. 

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O acesso à universalidade do debate filosófico pressupunha assim o domínio de uma multiplicidade de línguas. Exigência a que só poderiam aspirar na prática um grupo muito restrito de poliglotas. 

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A grande maioria dos leitores e amantes da filosofia, contentava-se com comentários em português sobre obras escritas noutras línguas, cujo acesso lhes era vedado na sua língua materna.

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Nos próprios manuais escolares do ensino secundário, ainda hoje é corrente este pressuposto. Nas bibliografias que são indicadas para os alunos que iniciam o seus estudos, por volta dos 15 anos, surgem com frequência obras em latim, alemão e outras línguas pouco faladas entre nós. Em alguns casos, chega-se ao disparate fazer referências bibliográficas a manuscritos apenas acessíveis em recônditos bibliotecas no estrangeiro, ou a mencionar edições raríssimas no mercado internacional. Tudo isto apesar de existirem em português, por vezes, excelentes traduções.

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Chegamos ao ponto, de numa língua falada por mais de 240 milhões de pessoas em todo o mundo, continuarem a não existirem traduções acessíveis de muitos dos grandes clássicos da filosofia. 

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Estamos perante uma atitude cultural que traduz não o conceito de universalização da filosofia - o tornar acessível a todos as grandes questões da humanidade -, mas um modo singular de entender o saber como um instrumento de poder.  Resquícios de uma tradição elitista, e profundamente  anti-democrática que ainda percorre a sociedade portuguesas, onde lentamente as suas instituições vão dando sinais de uma efectiva abertura ao mundo. 

Carlos Fontes

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Três Filósofos (1505/9),  Giorgione (?)

 

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É a Cultura Ocidental Racista?

Um dos aspectos mais interessantes da globalização foi o dar a voz àqueles a quem a mesma foi retirada durante séculos. Entre eles contam-se, como é sabido, os muitos povos escravizados ou exterminados pelos europeus. Mais

 

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A Crise da Filosofia

Os tempos estão maus para a filosofia, esta é a conclusão a que chegou um prestigiado jornal internacional. A razão é simples: Não há tempo, nem paciência para elaborar grandes ideias. A receita para ter sucesso na filosofia é produzir ideias simples para servirem de entretenimento a leitores sem tempo para pensar. As obras filosóficas que mais se vendem são uma espécie de manuais de auto-ajuda para espíritos despistados. Mais

 

 

A história do ensino da filosofia em Portugal pode ser lida em www.filorbis.pt/educar/index.html

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