Navegando na Filosofia. Carlos Fontes

 

Breve História da Ética

Antiga Grécia - Mundo Helenístico e Romano

Idade Média - Idade Moderna - Idade Contemporânea

 

 

Idade Contemporânea

Se quisermos estabelecer um começo para a Idade Contemporânea, temos recuar até aos finais do século XVIII. O que então se iniciou na Europa veio a contribuir de forma decisiva para formar o mundo em que vivemos.

Revoluções. A Revolução Francesa (1789) marcou uma ruptura deliberada e radical com o passado. Depois dela muitas outras ocorreram até aos nossos dias com idênticos propósitos. Quase sempre foram iniciadas em nome da libertação do povo da opressão (ditaduras, regimes colonialistas, etc). Prometeram criar novas sociedades e homens, mas o que produziram foi frequentemente novas matanças.

Guerras Mundiais. A partilha do mundo, a conquista de recursos naturais, o saques de riquezas acumulados foram sempre uma constante ao longo da história da Humanidade. A grande novidade na Idade Contemporânea assentou numa aspectos essencial: a crescente eficiência da barbárie praticada por poderosas máquinas de guerra passaram a operar numa escala cada vez mais global. A França napoleónica, no inicio do século XIX, mostrou o caminho que outros países ou alianças de países haviam de prosseguir na guerra e no saque de povos. A dimensão desta barbárie colocou os causa os fundamentos da racionalidade e moralidade do mundo ocidental. 

Progresso científico e tecnológico. A ciência substituiu o lugar que antes era ocupado pela religião na condução dos homens. Os cientistas foram apontados como os novos sacerdotes. O balanço desta substituição continua a ser objecto de enormes polémicas, mas três coisas são hoje evidentes:

 a) A ciência e a tecnologia mudaram o mundo possibilitando uma melhoria muito significativa da vida de uma parte significativa da humanidade. Apesar do imenso bem estar por proporcionado, a verdade é que as desigualdades a nível mundial não diminuíram antes se acentuaram. Uns não sabem o que fazer a tanto desperdício, outros lutam diariamente por obter restos que lhes permitam sobreviver. 

b) Não parecem existir limites para o desenvolvimento da ciência e da técnica. Aquilo que era antes impensável tornou-se hoje banal: manipulações genéticas, clonagem de seres, inseminação artificial, morte assistida, etc. Valores tidos por sagrados são agora quotidianamente aniquilados por experiências científicas.

c) O progresso humano fez-se mais lentamente que o progresso científico e tecnológico, ou dito de outro modo, o progresso moral não acompanhou o científico. Ao longo de todo o século XX inúmeras foram as figuras do mundo da ciência e da técnica envolvidas em intermináveis de actos de pura barbárie, em nada se distinguindo dos antigos "selvagens". 

O século XIX e XX foi por tudo isto marcado pelo aparecimento de um enorme número de teorias éticas, mas também pela própria crítica dos fundamentos da moral. Esta pluralidade revela igualmente a enorme dificuldade que os homens têm sentido em estabelecer consensos sobre as normas em que devem de assentar as suas relações.

"Grande Feito, com Mortos", gravura de Goya

Em nome da Liberdade, Igualdade e da Fraternidade, a França, entre 1792 e 1815, invadiu outros países provocando a morte de milhões de pessoas.

Éticas Fundamentais

Kant (1724-1804). Partindo de uma concepção universalista do homem, afirma que este só age moralmente quando, pela sua livre vontade, determina as suas acções com a intenção de respeitar os princípios que reconheceu como bons. O que o motiva, neste caso, é o puro dever de cumprir aquilo que racionalmente estabeleceu sem considerar as suas consequências. A moral assume assim, um conteúdo puramente formal, isto é, não nos diz o que devemos fazer (conteúdo da acção), mas apenas o princípio (forma) que devemos seguir para que a acção seja considerada boa. 

Imperativos da moral kanteana: 

"Age de tal forma que trates a humanidade, tanto na tua pessoa como na de qualquer outro, sempre e simultaneamente como um fim em si mesmo e nunca simplesmente como um meio".

"Age apenas seguindo as máximas que possas ao mesmo tempo querer como leis universais".  

Utilitarismo. Jeremy Bentham(1748-1832) e Stuart Mill (1806-1873) desenvolverão uma ética baseada no princípio da utilidade. As acções morais são avaliadas em função das consequências morais que originam para quem as pratica, mas também para quem recai os resultados. Princípio que deve nortear a acção moral: "A máxima felicidade possível para o maior número possível de pessoas". O Bom é aquilo que for útil para o maior número de pessoas, melhorando o bem-estar de todos, e o Mal o seu contrário. Esta concepção deu origem no século XX às éticas pragmatistas.

Sartre. A moral é uma criação do próprio homem que se faz a si próprio através das suas escolhas em cada situação. O relativismo é total. Mas este facto não o desculpa de nada. A sua responsabilidade é total dado que ele é livre de agir como bem entender. A escolha é sempre sua.

Habermas (1929). Após a 2ª.Guerra Mundial, Habermas surge a defender uma ética baseada no diálogo entre indivíduos em situação de equidade e igualdade. A validade das normas morais depende de acordos livremente discutidos e aceites entre todos os implicados na acção.   

Hans Jonas (1903-1993). Perante a barbárie quotidiana e a ameaça da destruição do planeta, Hans Jonas, defende uma moral baseada na responsabilidade que todos temos em preservar e transmitir às gerações futuras uma terra onde a vida possa ser vivida com autenticidade. Daí o seu princípio fundamental: "Age de tal modo que os efeitos da tua acção sejam compatíveis com a permanência da uma vida humana autêntica na terra".

Critica. Ao longo de todo o século XIX e XX sucederam-se as teorias que denunciaram o carácter repressivo da moral, estando muitas vezes ao serviço das classes dominantes (Karl Marx, 1818-1883) ou dos fracos (Nietzsche,1844-1900).Outros demonstram a falta de sentido dos conceitos éticos, como "Dever", "Bom" e outros (Alfred J.Ayer), postulando o seu abandono por se revelarem pouco científicos. Sigmund Freud (1856-1939) demonstrou o carácter inconsciente de muitas das motivações morais. Um das correntes que maior expressão teve no século XX, foi a que procurou demonstrar que as raízes biológicas da moral, comparando o comportamento dos homens e de outros animais. Aquilo que denominamos por "ética" é apresentado como uma forma camuflada ou racionalizada de instintos básicos da nossa natureza animal idênticos a outros animais.

Novas Problemáticas . As profundas transformações sociais, culturais e científicas das nossas sociedades colocaram novos problemas éticos, nomeadamente em domínios como a tecnociência (clonagem, manipulação genética, eutanásia, etc), ecologia, comunicação de massas, etc.  

 

Massacre na Coreia (1951), Pablo Picasso

Bibliografia

Carlos Fontes

Referências Históricas

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