Breve História da Ética Antiga Grécia - Mundo Helenístico e Romano Idade Média - Idade Moderna - Idade Contemporânea
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As teorias éticas nascem e desenvolvem-se em diferentes sociedades como resposta aos problemas resultantes das relações entre os homens. Os contextos históricos são pois elementos muito importantes para se perceber as condições que estiveram na origem de certas problemáticas morais que ainda hoje permanecem actuais 1. Antiga Grécia As teorias éticas gregas, entre o século V e o século IV a.C. são marcadas por dois aspectos fundamentais: Polis. A organização política em que os cidadãos vivem - as cidades-estado -, favorecem a sua participação activa na vida política da sociedade. As teorias éticas apontam para um dado ideal de cidadão e de Sociedade. Cosmos. Algumas destas teorias ético-políticas procuram igualmente fundamentarem-se em concepções cósmicas. Teorias Éticas Fundamentais Sofistas. Defendem o relativismo de todos os valores. Alguns sofistas, como Cálicles ou Trasímaco afirmam que o valor supremo de qualquer cidadão era atingir o prazer supremo. O máximo prazer pressupunha o domínio do poder político. Ora este só estava ao alcance dos mais fortes, corajosos e hábeis no uso da palavra. A maioria eram fracos ou inábeis, pelo que estavam condenados a serem dominados pelos mais fortes. Sócrates (470-399 a.C). Defende o carácter eterno de certos valores como o Bem, Virtude, Justiça, Saber. O valor supremo da vida é atingir a perfeição e tudo deve ser feito em função deste ideal, o qual só pode ser obtido através do saber. Na vida privada ou na vida pública, todos tinham a obrigação de se aperfeiçoarem fazendo o Bem, sendo justos. O homem sábio só pode fazer o bem, sendo as injustiças próprias dos ignorantes (Intelectualismo Moral). Platão (427-347 a.C.). Defende o valor supremo do Bem. O ideal que todos os homens livres deveriam tentar atingir. Para isto acontecesse deveriam ser reunidas, pelo menos duas condições: 1. Os homens deviam seguir apenas a razão desprezando os instintos ou as paixões; 2. A sociedade devia de ser reorganizada, sendo o poder confiado aos sábios, de modo a evitar que as almas fossem corrompidas pela maioria, composta por homens ignorantes e dominados pelos instintos ou paixões. Aristóteles (384-322 a.C.). Defende o valor supremo da felicidade. A finalidade de todo o homem é ser feliz. Para que isto aconteça é necessário que cada um siga a sua própria natureza, evite os excessos, seguindo sempre a via do "meio termo" (Justa Medida). Ninguém consegue todavia ser feliz sozinho. Aristóteles, à semelhança de Platão coloca a questão da necessidade de reorganizar a sociedade de modo a proporcionar que cada um do seus membros possa ser feliz na sua respectiva condição. Ética e política acabam sempre por estar unidas.
Hercules escolhendo entre o Vício e a Virtude (1596), Annibal Carrache 2. Mundo Helenístico e Romano Com o domínio da Grécia por Alexandre Magno, e os Impérios que lhe seguiram, altera-se os contextos em que o homem vive. As cidades-Estados são substituídas por vastos Impérios constituídos por uma multiplicidade de povos e de culturas. Os cidadãos sentem que vivem numa sociedade na qual as questões políticas são sentidas como algo muito distantes das suas preocupações. As teorias éticas são nitidamente individualistas, limitando-se em geral a apresentar um conjunto de recomendações (máximas ) sobre a forma mais agradável de viver a vida. A relação do homem com a cidade é substituída pela sua relação privilegiada com o cosmos. Viver em harmonia com ele é a suprema das sabedorias. Teorias Éticas Fundamentais Epicuristas (Epicuro, Lucrécio ). O objectivo da vida do sábio é atingir máximo de prazer, mas para que isso seja possível ele deve apartar-se do mundo. Atingir a imperturbabilidade do espírito e a tranquilidade do corpo. Cínicos (Antistenes, Diógenes ). O objectivo da vida do sábio é viver de acordo com a natureza. Afastando-se de tudo aquilo provoca ilusões e sofrimentos: convenções sociais, preconceitos, usos e costumes sociais, etc. Cada um deve viver de forma simples e despojada. Estóicos (Zenão de Cítio, Séneca e Marco Aurélio). O homem é um simples elemento do Cosmos, cujas leis determinam o nosso destino. O sábio vive em harmonia com a natureza, cultiva o autodomínio, evitando as paixões e os desejos, em suma, tudo aquilo que pode provocar sofrimento. Cépticos (Pirro, Sexto Empírio). Defendem que nada sabemos, pelo nada podemos afirmar com certeza. Face a este posição de princípio a felicidade só pode ser obtida través do alheamento do que se passa á nossa volta, cultivando o equilíbrio interior.
A Inocência entre o Vicio e a Virtude, Marie Guilhelmine Benoist (1768-1826) |
Carlos Fontes