O que é a verdade? Trata-se de um dos problemas mais complexos da
filosofia.
Breve história
Em hebreu, a palavra para designar a verdade é "emeth", cujo
radical (`aman), significa "sustentar algo firmemente para que não caia".
Em grego, a palavra é "alêtheia", que indica des-velamento,
des-cobrimento ou des-ocultação do ser. A palavra grega remete para uma
dualidade: o que nos aparece e o fundamento do que aparece, isto é, o
autêntico, a verdade.
Parménides no seu Poema estabeleceu uma clara distinção entre duas
vias:
a) A vida da aparência,
correspondente aos dados dos sentidos, era a fonte do erro;
b) a vida da verdade,
correspondente à da razão, conduz-nos ao eterno, imutável, aquilo que é (o
Ser).
Platão, partindo do
dualismo de Parménides, situa a verdade num "mundo inteligível", separado do
"mundo sensível", embora tenha alguma participação no mesmo. O primeiro é o
mundo das ideias, eternas, imutáveis, únicas. O mundo sensível é o das
aparências, opiniões e das cópias na sua multiplicidade de formas. O
filósofo deve sair do mundo das aparências sensíveis e das multiplicidade de
opiniões, e atingir o mundo inteligível, eterno, imutável, onde reside a
verdade das coisas.
Aristóteles, defendeu uma
concepção de verdade assente em três dimensões:
a) verdade lógica - A verdade
assenta na coerência do que se afirma;
b) verdade por correspondência. O
que afirmamos tem que ter alguma correspondência com as coisas enunciadas.
Neste sentido, só é susceptível de verdade o discurso enunciativo, isto é,
os juízos e os raciocínios. Neles afirmamos ou negamos uma dada propriedade,
atributo ou qualidade de algo. A correspondência é aqui claramente
semântica.
c) verdade pragmática. Remete-nos
para o uso concreto dos conceitos.
Este conceito de verdade como
correspondência, adequação ou coincidência acabou por ser o mais divulgado.
Durante a Idade Média, a
verdade foi entendida como estando no ou sendo o próprio Deus. O Homem tinha um
acesso limitado à verdade (Santo Agostinho). S.Tomás de Aquino,
retomou as teses de Aristóteles, mas cristianizou-as.
Na
Idade Moderna, a preocupação da verdade deixou de ser ontológica, para
ser gnosiológica. Descartes, por exemplo, associa a verdade ao que,
na nossa mente, é concebido como claro, distinto e evidente. A garantia da
evidência, como verdade, está todavia dependente de Deus.
Principais concepções de verdade
1. Verdade como correspondência. O
critério de verdade assenta no pressuposto que existe uma adequação
(correspondência) entre o afirmamos sobre as coisas e o que elas são na
realidade. Uma proposição ou um juízo é verdadeiro se, e somente se, reflete
a realidade. Pressupõe assim, uma adequação entre o pensamento e a
realidade. (Aristóteles, Escolástica, Alfred Tarski, Husserl, etc)
2. Verdade como coerência. O critério de
verdade assenta na coerência, isto é, não ausência de contradições dos dados que dispomos sobre algo
num dado sistema. A verdade de uma proposição está dependente da verdade de
outras proposições às quais está ligada.
Exemplo: O Sol gira à volta da Terra é
verdadeiro no sistema Ptolomaico, mas falso no sistema Coperniciano.
Trata-se
de uma verdade lógica, ou seja, algo é verdadeiro se for coerente num dado
sistema de ideias. A verdade é uma propriedade eminentemente linguística, de
caráter sintático. (Miguel Unamuno,
Círculo de Viena, etc)
3. Verdade Pragmática. O critério de
verdade assenta nos resultados ou consequências práticas do que afirmamos
(utilidade). A
crença na existência de Deus, por exemplo, poderá ser considerada verdadeira
se as suas consequências fossem úteis para a pessoa que crê (W.James). (C.
S. Peirce, W. James, Dewey, etc).
4. Verdade como Consenso. Aquilo
que denominamos de verdade é o resultado de uma negociação intersubjectiva,
na qual através de vários consensos vamos aproximando-nos cada vez mais da
verdade. (J. Habermas, K.-O. Apel)
5. Verdade como Perspectiva. A verdade é
a verdade de cada um. Não existe um conceito unívoco de verdade. (Nietzsche)
Esta concepção admite duas opções:
- Podemos assumir que cada perspectiva é única,
subjectiva e inconciliável com outras perspectivas. Portanto, esta concepção
admite a existência de múltiplas verdades. Tudo é relativo. O único conceito
que não varia é o do próprio relativismo.
- Ou assumir que cada uma destas perspectivas é
apenas um dado ponto de vista sobre a realidade, as quais no conjunto
permitem-nos ter uma visão mais ampla da realidade. Cada nova
perspectiva corresponde assim a uma aproximação à verdade.
6.
Eliminação da Verdade.
Segundo F. P. Ramsey, o
conceito de verdade pode ser eliminado pois não acrescenta nada
de relevante ao significado do que dizemos. Por exemplo, afirmar
que "A neve é branca" é verdadeira, é dizer: "A neve é branca".
Consultar:
Argumentação, Verdade e Ser