Navegando na Filosofia. Carlos Fontes

O que é a Verdade?

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Síntese da Matéria

Concepções sobre Verdade

 

 

O que é a verdade? Trata-se de um dos problemas mais complexos da filosofia.

Breve história

Em hebreu, a palavra  para designar a verdade é "emeth", cujo radical (`aman), significa "sustentar algo firmemente para que não caia".

Em grego, a palavra é "alêtheia", que indica des-velamento, des-cobrimento ou des-ocultação do ser. A palavra grega remete para uma dualidade: o que nos aparece e o fundamento do que aparece, isto é, o autêntico, a verdade.

Parménides no seu Poema estabeleceu uma clara distinção entre duas vias:

 

a) A vida da aparência, correspondente aos dados dos sentidos, era a fonte do erro;

 

b) a vida da verdade, correspondente à da razão, conduz-nos ao eterno, imutável, aquilo que é (o Ser). 

 

Platão, partindo do dualismo de Parménides, situa a verdade num "mundo inteligível", separado do "mundo sensível", embora tenha alguma participação no mesmo. O primeiro é o mundo das ideias, eternas, imutáveis, únicas. O mundo sensível é o das aparências, opiniões e das cópias na sua multiplicidade de formas. O filósofo deve sair do mundo das aparências sensíveis e das multiplicidade de opiniões, e atingir o mundo inteligível, eterno, imutável, onde reside a verdade das coisas.

 

Aristóteles, defendeu uma concepção de verdade assente em três dimensões:

 

a) verdade lógica - A verdade assenta na coerência do que se afirma;

 

b) verdade por correspondência. O que afirmamos tem que ter alguma correspondência com as coisas enunciadas. Neste sentido, só é susceptível de verdade o discurso enunciativo, isto é, os juízos e os raciocínios. Neles afirmamos ou negamos uma dada propriedade, atributo ou qualidade de algo.  A correspondência é aqui claramente semântica.

 

c) verdade pragmática. Remete-nos para o uso concreto dos conceitos.

Este conceito de verdade como correspondência, adequação ou coincidência acabou por ser o mais divulgado.

 

Durante a Idade Média, a verdade foi entendida como estando no ou sendo o próprio Deus. O Homem tinha um acesso limitado à verdade (Santo Agostinho). S.Tomás de Aquino, retomou as teses de Aristóteles, mas cristianizou-as.

 

Na Idade Moderna, a preocupação da verdade deixou de ser ontológica, para ser gnosiológica. Descartes, por exemplo, associa a verdade ao que, na nossa mente, é concebido como claro, distinto e evidente. A garantia da evidência, como verdade, está todavia dependente de Deus.

 

 

Principais concepções de verdade

 

1. Verdade como correspondência. O critério de verdade assenta no pressuposto que existe uma adequação (correspondência) entre o afirmamos sobre as coisas e o que elas são na realidade. Uma proposição ou um juízo é verdadeiro se, e somente se, reflete a realidade. Pressupõe assim, uma adequação entre o pensamento e a realidade. (Aristóteles, Escolástica, Alfred Tarski, Husserl,  etc)

 

2. Verdade como coerência. O critério de verdade assenta na coerência, isto é, não ausência de contradições dos dados que dispomos sobre algo num dado sistema. A verdade de uma proposição está dependente da verdade de outras proposições às quais está ligada.

 

Exemplo: O Sol gira à volta da Terra é verdadeiro no sistema Ptolomaico, mas falso no sistema Coperniciano.

 

Trata-se de uma verdade lógica, ou seja, algo é verdadeiro se for coerente num dado sistema de ideias. A verdade é uma propriedade eminentemente linguística, de caráter sintático. (Miguel Unamuno, Círculo de Viena, etc)

 

3. Verdade Pragmática. O critério de verdade assenta nos resultados ou consequências práticas do que afirmamos (utilidade). A crença na existência de Deus, por exemplo, poderá ser considerada verdadeira se as suas consequências fossem úteis para a pessoa que crê (W.James). (C. S. Peirce, W. James, Dewey, etc).

 

4. Verdade como Consenso.  Aquilo que denominamos de verdade é o resultado de uma negociação intersubjectiva, na qual através de vários consensos vamos aproximando-nos cada vez mais da verdade.  (J. Habermas, K.-O. Apel)

 

5. Verdade como Perspectiva. A verdade é a verdade de cada um. Não existe um conceito unívoco de verdade. (Nietzsche)

Esta concepção admite duas opções:

 

- Podemos assumir que cada perspectiva é única, subjectiva e inconciliável com outras perspectivas. Portanto, esta concepção admite a existência de múltiplas verdades. Tudo é relativo. O único conceito que não varia é o do próprio relativismo.

 

- Ou assumir que cada uma destas perspectivas é apenas um dado ponto de vista sobre a realidade, as quais no conjunto permitem-nos  ter uma visão mais ampla da realidade. Cada nova perspectiva corresponde assim a uma aproximação à verdade.  

 

6. Eliminação da Verdade. Segundo  F. P. Ramsey, o conceito de verdade pode ser eliminado pois não acrescenta nada de relevante ao significado do que dizemos. Por exemplo, afirmar que "A neve é branca" é verdadeira, é dizer: "A neve é branca".

Consultar: Argumentação, Verdade e Ser

          Carlos Fontes

Carlos Fontes

 11º. Ano -Programa de Filosofia

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