Navegando na Filosofia. Carlos Fontes

 

Parménides de Éleia 

(c.515 - 440 a.C.)

 

 

Parménides nasceu em Éleia , cidade grega situada na costa ocidental da Itália. Como político teria elaborado as leis de Éleia. Pertenceu a uma comunidade pitagórica.

Parménides foi não apenas o fundador da escola Eleata, mas também o criador da Metafísica. Todo o seu pensamento é um rigoroso ataque ao senso comum, procurando eliminar do conhecimento tudo o que é variável e contingente. Entre os seus discípulos contam-se Zenão de Eleia e Melisso de Samos. 

Obras

Escreveu o poema filosófico "Da Natureza e sua permanência" em três partes: a introdução (ou proêmio), a "via da verdade" e  a "Via da opinião". Ao todo restam-nos 150 versos. 

Fragmentos 2-5*


Vamos, vou dizer-te – e tu escuta e fixa o relato que ouviste – quais os únicos caminhos de investigação que há para pensar: um que é, que não é para não ser, é caminho de confiança (pois acompanha a realidade); o outro que não é, que tem de não ser, esse te indico ser caminho em tudo ignoto, pois não poderás conhecer o não-ser, não é possível, nem indicá-lo [...].

[...] pois o mesmo é pensar e ser.

Nota também como o que está longe pela mente se torna firmemente presente: pois não separarás o ser de sua continuidade com o ser, nem dispersando-o por toda a parte segundo a ordem do mundo, nem reunindo-o.

[...] para mim é o mesmo por onde hei de começar: pois aí tornarei de novo.

Fragmento 6


É necessário que o ser, o dizer e o pensar sejam: pois podem ser, enquanto o nada não é: nisto te indico que reflitas.

Desta primeira via de investigação te [afasto], e logo também daquela em que os mortais, que nada sabem, vagueiam, com duas cabeças: pois a incapacidade lhes guia no peito a mente errante; e são levados, surdos ao mesmo tempo que cegos, aturdidos, multidão indecisa, que acredita que o ser e o não-ser são o mesmo e o não-mesmo, para quem é regressivo o caminho de todas as coisas.

Fragmentos 7-8


Pois nunca isto será demonstrado: que são as coisas que não são; mas afasta desta via de investigação o pensamento, não te force por esse caminho o costume muito experimentado, deixando vaguear olhos que não veem, ouvidos soantes e língua, mas decide pela razão a prova muito disputada de que falei.

Só falta agora falar do caminho que é. Sobre esse são muitos os sinais de que o ser é ingênito e indestrutível, pois é compacto, inabalável e sem fim; não foi nem será, pois é agora um todo homogêneo, uno, contínuo. Com efeito, que origem lhe investigarias? Como e onde se acrescentaria? Nem do não-ser te deixarei falar, nem pensar: pois não é dizível, nem pensável, visto que não é. E que necessidade o impeliria a nascer, depois ou antes, começando do nada?

E, assim, é necessário que seja de todo, ou não.

Nem a força da confiança consentirá que do não-ser nasça algo ao pé do ser. Por isso nem nascer, nem perecer, permite a Justiça, afrouxando as cadeias, mas sustém-nas: esta é a decisão acerca disso – é ou não é –; decidido está então, como necessidade, deixar uma das vias como impensável e inexprimível (pois não é via verdadeira), enquanto a outra é a autêntica.

Como poderia o ser perecer? Como poderia gerar-se? Pois, se era, não é, nem poderia vir a ser.

E assim a gênese se extingue e da destruição não se fala.

é todo cheio de ser e por isso todo contínuo
Nem é divisível, visto ser todo homogêneo, nem num lado é mais, que o impeça de ser contínuo, nem noutro menos, mas é todo cheio de ser e por isso todo contínuo, pois o ser é com o ser.

Além disso, é imóvel nas cadeias dos potentes laços, sem princípio nem fim, pois gênese e destruição foram afastadas para longe, repelidas pela confiança verdadeira.

O mesmo em si mesmo permanece e por si mesmo repousa, e assim firme em si fica. Pois a potente Necessidade o tem nos limites dos laços, que de todo o lado o cercam.

Pois não é justo que o ser seja incompleto: pois não é carente; ao [não-]ser, contudo, tudo lhe falta. O mesmo é o que há para pensar e aquilo por causa de que há pensamento.

Pois, sem o ser – ao qual está prometido –, não acharás o pensar. Pois não é e não será outra coisa além do ser, visto o Destino o ter amarrado para ser inteiro e imóvel. Acerca dele são todos os nomes que os mortais instituíram, confiantes de que eram reais: “gerar-se” e “destruir-se”, “ser” e “não ser”, “mudar de lugar” e “mudar a cor brilhante”.

Visto que tem um limite extremo, é completo por todos os lados, semelhante à massa de uma esfera bem rotunda, em equilíbrio do centro a toda a parte; pois, nem maior, nem menor, aqui ou ali, é forçoso que seja.

Pois nem o não-ser é, que o impeça de chegar até o mesmo, nem é possível que o ser seja maior aqui, menor ali, visto ser todo inviolável: pois é igual por todo o lado, e fica igualmente nos limites.

Nisso cesso o discurso fiável e o pensamento em torno da verdade; depois disso as humanas opiniões aprende, escutando a ordem enganadora das minhas palavras. E estabeleceram duas formas, que nomearam, das quais uma não deviam nomear – e nisso erraram –, e separaram os contrários como corpos e postaram sinais, separados uns dos outros: aqui a chama do fogo etéreo, branda, muito leve, em tudo a mesma consigo, mas não a mesma com a outra; e a outra também em si contrária, a noite sem luz, espessa e pesada.

Esta ordem cósmica eu te declaro toda plausível, de modo algum que nenhum saber dos mortais te venha transviar."

* Tradução de José Trindade Santos

Carlos Fontes

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Referências Históricas

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