Parménides nasceu em Éleia ,
cidade grega situada na costa ocidental da Itália. Como político teria elaborado
as leis de Éleia. Pertenceu a uma comunidade pitagórica.
Parménides foi não
apenas o fundador da escola
Eleata, mas também o criador da Metafísica. Todo o seu pensamento é um
rigoroso ataque ao senso comum, procurando eliminar do conhecimento tudo o que
é variável e contingente. Entre os seus discípulos contam-se Zenão de Eleia e Melisso de
Samos.
Obras
Escreveu o poema filosófico
"Da Natureza e
sua permanência" em três partes: a introdução (ou proêmio), a
"via da verdade" e a "Via da opinião". Ao todo
restam-nos 150 versos.
Fragmentos 2-5*
Vamos, vou dizer-te – e tu escuta e fixa o relato que ouviste – quais os únicos
caminhos de investigação que há para pensar: um que é, que não é para não ser, é
caminho de confiança (pois acompanha a realidade); o outro que não é, que tem de
não ser, esse te indico ser caminho em tudo ignoto, pois não poderás conhecer o
não-ser, não é possível, nem indicá-lo [...].
[...] pois o mesmo é pensar e ser.
Nota também como o que está longe pela mente se torna firmemente presente: pois
não separarás o ser de sua continuidade com o ser, nem dispersando-o por toda a
parte segundo a ordem do mundo, nem reunindo-o.
[...] para mim é o mesmo por onde hei de começar: pois aí tornarei de novo.
Fragmento 6
É necessário que o ser, o dizer e o pensar sejam: pois podem ser, enquanto o
nada não é: nisto te indico que reflitas.
Desta primeira via de investigação te [afasto], e logo também daquela em que os
mortais, que nada sabem, vagueiam, com duas cabeças: pois a incapacidade lhes
guia no peito a mente errante; e são levados, surdos ao mesmo tempo que cegos,
aturdidos, multidão indecisa, que acredita que o ser e o não-ser são o mesmo e o
não-mesmo, para quem é regressivo o caminho de todas as coisas.
Fragmentos 7-8
Pois nunca isto será demonstrado: que são as coisas que não são; mas afasta
desta via de investigação o pensamento, não te force por esse caminho o costume
muito experimentado, deixando vaguear olhos que não veem, ouvidos soantes e
língua, mas decide pela razão a prova muito disputada de que falei.
Só falta agora falar do caminho que é. Sobre esse são muitos os sinais de que o
ser é ingênito e indestrutível, pois é compacto, inabalável e sem fim; não foi
nem será, pois é agora um todo homogêneo, uno, contínuo. Com efeito, que origem
lhe investigarias? Como e onde se acrescentaria? Nem do não-ser te deixarei
falar, nem pensar: pois não é dizível, nem pensável, visto que não é. E que
necessidade o impeliria a nascer, depois ou antes, começando do nada?
E, assim, é necessário que seja de todo, ou não.
Nem a força da confiança consentirá que do não-ser nasça algo ao pé do ser. Por
isso nem nascer, nem perecer, permite a Justiça, afrouxando as cadeias, mas
sustém-nas: esta é a decisão acerca disso – é ou não é –; decidido está então,
como necessidade, deixar uma das vias como impensável e inexprimível (pois não é
via verdadeira), enquanto a outra é a autêntica.
Como poderia o ser perecer? Como poderia gerar-se? Pois, se era, não é, nem
poderia vir a ser.
E assim a gênese se extingue e da destruição não se fala.
é todo cheio de ser e por isso todo contínuo
Nem é divisível, visto ser todo homogêneo, nem num lado é mais, que o impeça de
ser contínuo, nem noutro menos, mas é todo cheio de ser e por isso todo
contínuo, pois o ser é com o ser.
Além disso, é imóvel nas cadeias dos potentes laços, sem princípio nem fim, pois
gênese e destruição foram afastadas para longe, repelidas pela confiança
verdadeira.
O mesmo em si mesmo permanece e por si mesmo repousa, e assim firme em si fica.
Pois a potente Necessidade o tem nos limites dos laços, que de todo o lado o
cercam.
Pois não é justo que o ser seja incompleto: pois não é carente; ao [não-]ser,
contudo, tudo lhe falta. O mesmo é o que há para pensar e aquilo por causa de
que há pensamento.
Pois, sem o ser – ao qual está prometido –, não acharás o pensar. Pois não é e
não será outra coisa além do ser, visto o Destino o ter amarrado para ser
inteiro e imóvel. Acerca dele são todos os nomes que os mortais instituíram,
confiantes de que eram reais: “gerar-se” e “destruir-se”, “ser” e “não ser”,
“mudar de lugar” e “mudar a cor brilhante”.
Visto que tem um limite extremo, é completo por todos os lados, semelhante à
massa de uma esfera bem rotunda, em equilíbrio do centro a toda a parte; pois,
nem maior, nem menor, aqui ou ali, é forçoso que seja.
Pois nem o não-ser é, que o impeça de chegar até o mesmo, nem é possível que o
ser seja maior aqui, menor ali, visto ser todo inviolável: pois é igual por todo
o lado, e fica igualmente nos limites.
Nisso cesso o discurso fiável e o pensamento em torno da verdade; depois disso
as humanas opiniões aprende, escutando a ordem enganadora das minhas palavras. E
estabeleceram duas formas, que nomearam, das quais uma não deviam nomear – e
nisso erraram –, e separaram os contrários como corpos e postaram sinais,
separados uns dos outros: aqui a chama do fogo etéreo, branda, muito leve, em
tudo a mesma consigo, mas não a mesma com a outra; e a outra também em si
contrária, a noite sem luz, espessa e pesada.
Esta ordem cósmica eu te declaro toda plausível, de modo algum que nenhum saber
dos mortais te venha transviar."
* Tradução de José Trindade Santos
Carlos Fontes
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